“A nós, resta reinventar o flamenco”, diz dançarino David Morales no Brasil

  • Por Agencia EFE
  • 22/05/2014 15h14

São Paulo, 22 mai (EFE).- No Brasil para abrir sua turnê pela América Latina, o dançarino espanhol de flamenco David Morales, opinou que “no flamenco já está tudo inventado”, e que o que resta para os contemporâneos e as próximas gerações é “reinventar o que os mestres fizeram”.

Em entrevista à Agência Efe em São Paulo, Morales afirmou que gosta de “defender o flamenco como ele é, desde a raiz”, e que seu objetivo não é “fundir” mas “aproximá-lo” das músicas do mundo.

Morales, que se diz “ortodoxo” em sua disciplina assim como um “observador”, por seu espírito autodidata, defende que o flamenco “é uma música e um sentimento muito importante para fundi-lo”.

“Penso que tudo já está inventado, o que fazemos é reinventar o que fazia Antonio el Bailarín há 70 anos, como dançar de jeans e com o peito nu”, lembrou o dançarino.

Morales, de La Línea de la Concepción (Cádiz, Espanha), está em viagem por Brasil, Uruguai e Argentina para apresentar seu projeto el Flamencón.

Uma parte da arrecadação será destinada a comunidades pobres do Impenetrável, uma região selvagem da província argentina de Chaco.

“O flamenco tem um apelo internacional, pode ser no Japão ou no Gabão, onde quer que seja tem força e já tem seu público”, explicou Morales.

O artista comemorou que o resto dos países “abra as portas aos artistas, quando na Espanha está difícil, por causa da crise”.

Identificado como “O Indiano” em muitos lugares por seu espetáculo homônimo -“já é quase como nome artístico”- lembrou que começou a dançar “como um jogo” e que com 15 anos se deu conta de que “é um trabalho apaixonante no qual é preciso jogar muitas horas” mas que mesmo assim lhe deu “muitas alegrias”.

Seu próximo projeto, que lançará no dia 27 de junho no teatro Villamarta de Jérez de la Frontera (Cádiz), homenageia Federico García Lorca e é baseado no livro do escritor Manuel Francisco Reina “Los amores oscuros”.

“São os últimos três anos de Lorca, com seu último amor, o romance que teve com Francisco Ramírez de Luca, que antes de morrer pediu que se tornassem públicas todas as cartas e os objetos do poeta” que ele guardava, declarou.

Segundo Morales, o espetáculo pretende “contar a liberdade da época, nem de direitas nem de esquerda, mas da época em que viveram Lorca, Rafael de León e Miguel de Molina” e assim “fazer uma ode à liberdade, ao amor que estava oculto mas que era igual ao heterossexual”.

O dançarino, que professa um amor similar pelo flamenco, está “desolado” pela morte do guitarrista Paco de Lucía: “uma estrela que guia os que estamos aqui, que visamos a seguir melhorando”.

“Com a morte de Camarón (de la Isla) o mundo do flamenco já ficou desolado. Foi o deus dos ciganos e o rei do flamenco de nossa época. (Enrique) Morente assumiu um pouco o controle, mas, com todo o respeito, Paco (de Lucía) é o gênio do flamenco. Sua morte foi devastadora”, lamentou.

Embora tenha dito acreditar que o flamenco na Espanha “não é tão valorizado quanto deveria”, apontou que artistas contemporâneos como Israel Galván e Eva Yerbabuena estão colocando essa arte “no lugar merecido”.

De 16 a 18 de maio, Morales apresenta o show “El indiano. Bailes de ida y vuelta” na Sala Paissandu, na Galeria Olido em São Paulo, e, no dia 22, o artista participa do workshop “Flamenco, Copla y Poesía” no auditório do Instituto Cervantes do Rio de Janeiro.

Depois de se apresentar no Brasil, o artista dividirá o palco com artistas locais no Uruguai e na Argentina para seguir incorporando elementos a sua dança, atividade que ainda o faz tremer antes de entrar em cena, mas sem a qual não consegue “conceber a vida”. EFE

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