Brasil protagoniza hoje Festival de Berlim, dentro e fora da competição

  • Por Agencia EFE
  • 11/02/2014 16h44

Gemma Casadevall/José Vicente Muñoz.

Berlim, 11 fev (EFE).- O Festival de Berlim teve nesta terça-feira um dia protagonizado pelo cinema brasileiro, dentro e fora da competição e com a homossexualidade, a diáspora e a solidão como eixos temáticos.

“Praia do Futuro”, de Karin Aïnouz, um dos 20 filmes que concorrem ao Urso de Ouro do festival, e “Hoje eu quero voltar sozinho”, de Daniel Ribeiro, na sessão Panorama, abordaram por vertentes distintas o amor entre pessoas do mesmo sexo.

Outros dois filmes -“O Homem das Multidões”, de Marcelo Gomes e Cao Guimarães, em Panorama, e “Castanha” de David Pretto, em Fórum, projetaram outros expoentes do cinema do Brasil, em um festival com bom olfato para a América Latina.

“Praia do Futuro”, uma história de amor homossexual que fala sobre força e deriva em Berlim, e vai da exibição de corpos “de calendário” sob o sol ao céu cinzento de Berlim, ao Wim Wenders.

Nestes dois cenários um guarda-vidas, Wagner Moura, quase morre afogado por um motorista alemão.

“Adotei algo da lição de coragem que nos deixou (Rainer W.) Fassbinder. O medo que nos paralisa, oposto à coragem necessária para vencê-lo e olhar para frente”, explicou Aïnouz.

Um motorista morre afogado e o amigo que sobrevive – Clemens Schick – será o motivo que tira o guarda-vidas de sua praia e o transforma em submarinista limpador de aquários gigantes em Berlim.

É uma história de amor “que não se fixa só nisso, mas também coloca os medos de quem se arrisca a viver em um entorno que não é o seu”, acrescentou Moura, sobre esse imigrante brasileiro perdido pelas ruas de Berlim.

A diáspora particular do imigrante é o eixo do filme, até o irmão mais novo que deixou em Fortaleza reaparecer.

Tanto Aïnouz como Moura foram ao festival como “semiberlineses”. O diretor vive na capital, enquanto seu ator foi protagonista de “Tropa de Elite”, vencedor do Urso de Ouro em 2008.

O Brasil entrou em competição com esse filme, enquanto Ribeiro, Urso de Cristal em 2008 com “Café com Leite”, ganhou a simpatia do público na seção Panorama com um filme focado na luta de Leonardo, um jovem cego de 15 anos que procura ser independente em uma sociedade superprotetora, e é ajudado por um amigo.

O nascimento da relação sentimental entre o cego e um novo colega de escola foi muito bem recebido pelo público.

Menos vívido é o filme de Gomes e Guimarães, que gira em torno de um solitário motorista de bonde de Belo Horizonte, a quem o convite de sua colega de trabalho para ser testemunha em seu casamento se confronta com a necessidade de socializar.

“A solidão é um tema universal, gostamos de investigá-lo nas grandes cidades pela diversidade e multiplicidade de gente que têm”, explicou a Agência Efe Cao.

A fita descarrega todo o peso nos protagonistas criando um diálogo mudo, no qual debatem entre se abrir ao outro ou manter a tranquila solidão que até agora tinha dominado suas vidas.

“Tem essa coisa da timidez profunda, que precisa do outro, do calor do outro, mas não consegue avançar e construir uma relação com o outro”, opinou Gomes.

Este ambiente solitário também se reflete através do formato da tela que abandona o tamanho panorâmico para adotar uma forma quadrada, o que a transforma em uma janela de onde o espectador observa o que acontece na vida dos protagonistas.

Segundo os diretores, o longa serve como analogia das múltiplas telas e janelas que povoam o filme e de onde um vê a vida do outro passar.

A estes longas se une “Castanha”, de David Pretto, na seção Fórum, dedicada a jovens talentos.

Entre o documentário e a ficção, o filme perpassa a vida de João Carlos Castanha, que interpreta a si mesmo e mostra a luta de um transformista que trabalha em um bar enquanto procura ser tratado como ator sério e ainda cuida de sua mãe idosa.

“Para mim esse é o filme: sempre caminhar, sempre trabalhar, ele tem muitos problemas na vida, como todos nós, mas João está sempre trabalhando e olhando a frente” apontou Pretto sobre sua primeira incursão no mundo do longa-metragem. EFE

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