Alunos da rede pública do Rio são capacitados para mercado de animação

  • Por Agencia Brasil
  • 07/07/2014 20h11

Mercado profissional novo e em expansão no Brasil, a animação é uma área carente de mão de obra especializada. A partir dessa constatação, foi criado o Estúdio Escola de Animação, que está com a terceira turma em andamento e recebe estudantes de ensino médio de escolas públicas do município do Rio de Janeiro.

Um dos criadores do projeto e coordenador do estúdio, Zé Brandão, explica que o Brasil não tem tradição na área, e pouca gente vê animação como possibilidade real de profissão. “Tem até bastantes cursos de formação para quem quer ser profissional, talvez não seja o suficiente, mas tem iniciativas de universidades, cursos de pós-graduação em animação. Mas a gente sentia que faltava um primeiro incentivo para os jovens, porque tem jovem que já está no final do período escolar e nem sabe que animação é uma opção de profissão”, disse ele.

Trabalhando profissionalmente com animação há cinco anos, Brandão diz que não há levantamento sobre a demanda de mão de obra do setor, mas o mercado está em expansão, com aumento da produção, e há trabalhos brasileiros com reconhecimento internacional.

“Hoje, a gente tem séries brasileiras distribuídas em outros países, como Peixonauta, Meu Amigãozão, Escola pra Cachorro, o próprio Tromba Trem [produção do estúdio de Brandão] está sendo exibido na América Latina. Temos também Historietas Assombradas para Crianças Mal Criadas, que já estão bastante populares, fora o Sítio do Pica Pau Amarelo, a Turma da Mônica, que está há tanto tempo na estrada, e agora estão produzindo muito mais séries de animação do que nos anos 1980/1990. E tem os casos dos longas-metragens brasileiros, que estiveram muito presentes na mídia, porque dois [filmes] venceram, em dois anos seguidos, o principal festival de animação do mundo: o Annecy”, segundo Brandão.

O Estúdio Escola de Animação é divulgado em escolas públicas, nas quais os profissionais falam sobre o mercado e as possibilidades de trabalho, como fotografia, cenografia, roteiro e composição de trilha sonora para games, séries para TV por assinatura ou longa-metragem. Depois, é feito um processo seletivo com os alunos interessados, que recebem auxílio para transporte e alimentação. O curso dura cinco meses, com oito horas de aulas por semana. A turma atual tem 45 alunos, divididos em três turmas, e termina em outubro.

A estudante Isa dos Santos, 22 anos, participa do projeto pela terceira vez, já no nível avançado, e teve o curta produzido pela turma, no ano passado, selecionado para o festival Anima Mundi deste ano: “Eu ainda não trabalho na área, estou fazendo alguns curtas independentes com colegas do Estúdio Escola e fiquei sabendo que o nosso curta Suspeitos foi selecionado para o Anima Mundi. É um reconhecimento do trabalho que você teve – eu nem imaginava – porque antes eu queria ser engenheira, e hoje, saber que pude participar de uma produção, é simplesmente maravilhoso; estou quase sem palavras”.

Ela diz que sempre gostou de animação, mas não tinha ideia de como eram produzidas. Atualmente, além do Estúdio Escola, Isa faz curso de ilustração “para melhorar o desenho de animação”, e pretende trabalhar com roteiro e storyboard (técnica de ilustração para pré-visualizar um filme ou animação antes da filmagem).

Brandão destaca que a tecnologia está mais acessível, mas ainda falta formação de todo o mercado de animação. “Não basta só a técnica, a gente tem que criar todo o mercado e toda a indústria que envolve os produtos de animação. É novo para todo mundo, não só para quem produz animação, mas também para quem distribui, quem licencia produtos derivados, as TVs, todo mundo meio que está aprendendo a lidar com esse novo fenômeno. Tudo precisa ser solidificado, isso tudo no Brasil está começando”, concluiu.

 

Editor Stênio Ribeiro

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