“Antiprincesas” latino-americanas rompem estereótipos de contos de fadas

  • Por Efe
  • 03/09/2015 17h40
Reprodução frida kahlo

Muito distante dos contos de fadas em que princesas belíssimas esperam para serem salvas por seus príncipes encantados, duas editoras argentinas buscam romper estereótipos com a coleção infantil “Antiprincesas”, que tem como protagonistas mulheres latino-americanas que lutaram pelo que queriam.

A pintora mexicana Frida Kahlo e a cantora e artista chilena Violeta Parra foram as personalidades escolhidas para os dois primeiros contos da coleção, que terá um terceiro sobre a heroína boliviana da luta pela independência, Juana Azurduy.

“Queríamos mostrar que a beleza vai além dos traços físicos e tem a ver com a arte, com o buscar realizar um sonho”, explicou à Agência Efe a autora destes livros infantis, Nadia Fink.

Ao contrário do individualismo das princesas dos contos tradicionais, estas heroínas têm um desejo “muito mais coletivo, de conhecer outros e outras, em contextos de revolução, de resistência, de transcendência cultural”, continuou.

Além de romper os estereótipos sexistas da narrativa infantil predominante, a autora destacou a vontade de combater a “colonização cultural” dos Estados Unidos, com Disney à cabeça, e da Europa, berço de clássicos como Branca de Neve, Cinderela e A bela adormecida, dos irmãos Grimm.

“Tínhamos a ideia de resgatar nossa cultura e de reivindicar estas pessoas, em contraposição com as princesas europeias, que não têm a ver com nosso continente e nossa história”, afirmou a autora.

Por isso também, em relação aos personagens de ficção dos contos de fadas, as antiprincesas são mulheres de carne e osso inteligentes, que se atrevem a romper os moldes de sua época e decididas “a fazer o que queriam fazer, sem ficar nos lugares que estavam destinados ou eram impostos para elas”, acrescentou.

No entanto, a escritora se esquivou nas histórias de alguns detalhes biográficos de suas vidas, como o suicídio de Parra, mas revelou outros, como a bissexualidade de Kahlo e a relação aberta que manteve com Diego Rivera. “Para Frida o amor se refletia em homens e em mulheres”, indica a obra dedicada à pintora mexicana, enquanto a centrada em Parra conta como seu primeiro marido a abandonou porque ela se negou a ficar em casa, como ele queria, e saiu para cantar por todo o mundo.

Apesar destes relatos, os livros não estão centrado na vida sentimental das protagonistas, mas em sua obra, como os quadros mais famosos de Khalo e as composições da cantora chilena. A ideia da coleção surgiu na redação da revista argentina “Sudestada”, em que Fink trabalha, por causa de uma pesquisa sobre Frida e Khalo, e da intenção de contar suas vidas às crianças.

O objetivo parece cumprido, a julgar pelo enorme interesse que a coleção despertou e que pegou de surpresa as editoras, Chirimbote e Sudestada.

Além de comentários positivos de pais e mães, Fink destacou que receberam muitos desenhos de Khalo feitos por meninas e meninos, e inclusive alguns que contaram que algumas meninas quiseram se fantasiar como a pintora mexicana. “Havendo uma imposição cultural tão grande de indústrias que não são de nosso país, nos parece que é uma pequena sementinha uma menina, em vez de se fantasiar de princesa, tenha vontade de se vestir de Frida”, ressaltou a escritora.

“É uma ideia que está dando voltas e que tem sido trabalhada há anos, mas existir material que faça com que possam pensar em outros paradigmas, mais reais, para nós está muito bom”, concluiu. 

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