James Bond foi concebido em ponto estratégico de espionagem em Portugal

  • Por Agencia EFE
  • 19/12/2014 10h27

Miguel Conceição.

Lisboa, 19 dez (EFE).- O personagem James Bond, o espião mais célebre da ficção, rodeado sempre de carros luxuosos, mulheres deslumbrantes e martinis, foi concebido em Portugal, onde seu criador, Ian Fleming, se inspirou nos segredos de espionagem durante a Segunda Guerra Mundial.

Poucas semanas após começarem as filmagens do próximo longa do espião e quando se completam 50 anos da morte de Fleming, muitos amantes da saga de 007 mergulharam nas fontes de inspiração do escritor, e identificaram um papel crucial dos arredores de Lisboa, especialmente a cidade de Estoril.

Funcionário dos Serviços de Inteligência Naval Britânica, o autor chegou a Portugal em maio de 1941 junto com a comitiva de Sir John Godfrey.

Hospedado no elegante Hotel Palácio de Estoril, no balneário localizado a 25 quilômetros de Lisboa, Fleming criou James Bond dentro do “ninho de espiões” no qual a pacata Estoril tinha se transformado.

Francisco Corrêa de Barros, gerente deste hotel cinco estrelas construído nos anos 1930, confirmou à Agência Efe que o estabelecimento foi “escolhido pelos aliados” como seu quartel- general, e o Hotel Parque pelas forças do Eixo.

Pela neutralidade de Portugal durante a guerra e a proximidade do Oceano Atlântico, Estoril era um lugar estratégico das redes de espionagem dos dois lados e um ponto de referência para chegar ao continente americano.

Corrêa de Barros, privilegiado conhecedor da história do hotel e da cidade, lembra da tensão vivida na época e deu pistas sobre o dia a dia de Fleming.

Convivia com espiões, muitas vezes nos balcões dos bares, com quem compartilhava martinis – drink que se tornaria indissociável de James Bond – e conheceu o código morse usado para enviar informação confidencial.

O nome que mais marcou Fleming foi, sem dúvida, Dusko Popov, célebre agente duplo iugoslavo que trabalhava tanto para o serviço secreto britânicos do MI-6 como para a inteligência nazista do Abwehr.

A reputação de Popov, considerado “bon vivant” e “playboy”, marcou tanto Fleming que seu James Bond adotou vários traços do iugoslavo.

Popov, cliente do Hotel Palácio, era “muito profissional, com muito boa aparência e com muito sucesso entre as mulheres”, contou o responsável do hotel.

Ele chegou a ser apelidado no jargão dos serviços secretos com o código “triciclo”, nome que, segundo Corrêa de Barros, era porque andava muitas vezes acompanhado de três belas mulheres.

Entre os episódios que Fleming testemunhou em Portugal, foi inspirado especialmente pela famosa aposta de Popov.

No Cassino de Estoril, o autor britânico viu Popov apostar US$ 40 mil (equivalente a quase US$ 650 mil em valores atualizados) em uma mesa de bacará, somente para despistar um inimigo.

Este episódio foi utilizado como base para a primeira obra sobre James Bond, “Cassino Royale” (1953), onde o agente 007 enfrenta o vilão Le Chiffre em uma mesa de bacará.

O Cassino de Estoril e 007 voltaram a se cruzar em 1969, quando a região foi escolhida como um dos locais de filmagem de “007 A Serviço Secreto de Sua Majestade”.

Neste filme, o sexto do espião, James Bond foi interpretado pelo australiano George Lazenby.

Segundo Francisco Corrêa de Barros, Estoril já é um dos lugares de peregrinação dos fãs do espião, imortalizado na memória coletiva por seus carros luxuosos, suas acompanhantes e os sugestivos martinis, todos eles associados à estadia de Popov em Portugal. EFE

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