O megaprojeto de Suez, a utopia de um canal construído por Deus e os egípcios

  • Por Agencia EFE
  • 17/01/2015 06h27

Imane Rachidi.

Ismailiya (Egito), 17 jan (EFE).- A Autoridade do Canal de Suez (ACS) deixou nas “mãos de Deus” o término da construção do canal paralelo ao atual em agosto de 2015, data de entrega prometida ao presidente egípcio, Abdul Fatah al Sisi, entre crescentes dúvidas sobre uma obra que pode se tornar uma utopia.

“Os mesmos egípcios que construíram as pirâmides são capazes de terminar este grande projeto em agosto”, prometeu à Agência Efe o porta-voz da ACS, Tareq Hasanin, tentando acabar com a incerteza sobre a finalização deste megaprojeto, que “dobrará” o mítico Canal de Suez.

Hasanin disse que “inshalá” (se Deus quiser), e utilizando a ciência e a tecnologia, será possível terminar dentro do prazo o novo canal, de 72 quilômetros.

Com estas obras, o Egito reduziria as horas de espera das dezenas de embarcações que transitam diariamente pelo canal e, consequentemente, o gasto econômico e energético que representa para as companhias uma parada que pode durar até 11 horas.

No entanto, os trabalhos necessitariam de um mínimo de cinco anos para serem completados, segundo relatórios independentes aos quais as próprias autoridades fizeram referência durante uma visita nesta semana de correspondentes estrangeiros ao projeto.

No entanto, o presidente do canal, Mohab Mamich, em entrevista coletiva em agosto do ano passado, reduziu este tempo para três anos. Mas até mesmo este prazo pareceu excessivo para o líder egípcio.

Nesta audiência de 2014, Al Sisi interrompeu Mamich para dizer que parecia “tempo demais e que em um ano estaria feito”.

“Que venha Al Sisi e ele o construa em um ano”, comentou então um empregado em uma conversa informal com seus companheiros, segundo pôde escutar a Agência Efe.

Os trabalhadores estão indignados pela pressão que enfrentam e pelas repetidas perguntas de se é possível concluir a construção, embora temam reconhecer isto em público.

Perante a insistência da imprensa sobre este desafio que o Egito se propôs, o chefe de navegação do canal, Mohammed Fawzi, assegurou que estão sendo cumpridos os prazos desde que o presidente ordenou em agosto o início da escavação.

Fawzi prometeu que, “com a ajuda de Deus”, o canal estará finalizado na data prevista.

A construção deste canal imediatamente paralelo ao atual tem o objetivo de “reduzir o tempo de passagem dos navios, desde que entram até saírem do canal”, explicou Fawzi, acrescentando que a obra permitirá a passagem direta de 47 navios simultaneamente.

Com isto, o Egito trabalha “por e para o comércio internacional”, ressaltou.

Enquanto alguns debatem se as obras serão finalizadas ou não, os egípcios estão envolvidos neste sonho. De pobres a ricos, eles se dirigem desde agosto às agências bancárias para investir suas economias, à espera de uma recompensa de trabalho para seus filhos que empurrará o Egito para o crescimento.

“Deus o enviou desde o céu para que nos ajude”, exclama uma egípcia se referindo a Al Sisi em um vídeo de propaganda distribuído à imprensa pelas autoridades do canal, no qual se descreve o presidente como uma espécie de profeta intocável com uma varinha mágica.

O Canal de Suez é “o canal mãe”, definiu Mamish, afirmando que o projeto é “símbolo da vitória egípcia” e um “presente” ao mundo.

Mamish comemorou o fato das obras estarem “muito avançadas” e de já terem sido cavados e construídos mais de 70% dos 72 quilômetros do projeto.

O projeto está sendo construído “unicamente com mão de obra egípcia”, reiterou o presidente do canal, que rejeitou a participação estrangeira “porque os egípcios estão capacitados”.

No entanto, seis empresas estrangeiras participam das obras de escavação: duas belgas, duas holandesas, uma emiradense e outra americana.

Mamish lembrou que muitas guerras começaram neste canal, entre elas as de 1967 e 1973 contra Israel, e traçou um paralelismo sobre os conflitos e o futuro.

Apesar dos desafios que o Egito enfrenta desde a revolução que aconteceu há quatro anos contra Hosni Mubarak, o responsável ressaltou que “a batalha do desenvolvimento egípcio” começará com este projeto.EFE

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