Tesouro pré-hispânico apreendido na Espanha volta para a Colômbia

  • Por Agencia EFE
  • 02/09/2014 02h06

Gonzalo Domínguez Loeda.

Bogotá, 1 set (EFE).- O governo colombiano apresentou nesta segunda-feira 50 das 691 peças arqueológicas apreendidas pela Polícia espanhola há 11 anos dentro de uma operação antidroga e que retornam agora ao país sul-americano após quase uma década de estudo e catalogação no Museu da América de Madri.

Em um ato no qual participaram autoridades dos dois países, a chanceler colombiana, María Ángela Holguín, afirmou que “as palavras não são suficientes” para definir as peças deste tesouro que pertencem a várias culturas pré-colombianas e que abrangem um período cronológico de dez séculos.

Segundo afirmou, a recuperação das peças representou para a Colômbia um “grande trabalho e esforço que se vem fazendo há vários anos”.

O tesouro arqueológico faz parte de um lote de 885 peças de diferentes países e culturas que foram confiscadas pela Polícia espanhola em 2003, no marco da “Operação Florença” contra cartéis do narcotráfico e da lavagem de dinheiro.

As 691 peças colombianas foram entregues pelo governo espanhol a autoridades deste país no dia 24 de junho em Madri e desde então se iniciou um cuidadoso processo de repatriação.

Holguín comentou que o Museu da América, instituição na qual as peças foram mantidas após serem recuperadas pela Polícia espanhola, “as manteve em um excelente estado” e agora a Colômbia “conseguiu trazê-las em um período de tempo muito curto”.

A chanceler também afirmou que este é “um dos esforços” que o Governo colombiano está realizando para recuperar o patrimônio que está no exterior “e saiu de forma ilegal do país”.

Além disso, destacou que o retorno das peças é uma mostra de como “trabalhando com governos amigos podemos recuperar” o patrimônio arqueológico colombiano, inclusive “para que as mesmas culturas possam ter acesso a esta beleza de peças”.

Por sua vez, a ministra de Cultura, Mariana Garcés Córdoba, assinalou que “o que sai do país de maneira irregular é perseguido pelas autoridades”.

Garcés destacou que para protegê-las na transferência desde a Espanha, as 691 peças foram embaladas “com o devido cuidado e chegaram em perfeitas condições”.

Cerca de 80% são pequenas peças cerâmicas de muito diversas culturas pré-colombianas, enquanto o restante são grandes urnas e recipientes funerários, assim como ocarinas, instrumentos musicais em forma de caracol, colares, urnas da cultura de Santo Agostinho, selos, e um conjunto de taças e vasilhas tubulares.

O vice-procurador geral da Colômbia, Jorge Fernando Perdomo, que comandou os trabalhos legais, afirmou que após ver estas obras se avalia mais “o esforço feito por todas as entidades” para recuperar o tesouro arqueológico que, por seu volume, tem o caráter de um museu.

“Repatriamos um museu que estava no exterior e que volta à Colômbia para reforçar a entidade histórica do país”, disse.

Perdomo agradeceu a colaboração do Governo espanhol nos trabalhos policiais e de repatriação do tesouro pré-colombiano.

O diretor-geral do Instituto Colombiano de Antropologia e História, Fabián Sanabria, anunciou que está sendo preparada uma “grande exposição” para o próximo ano no qual se mostrarão as peças que “não são só vestígios de prazer ou de poder, mas recipientes de memória, pontes para o passado”.

Para considerar o valor das peças, Sanabria lembrou a obra literária do nobel turco Orhan Pamuk, e mostrou seu desejo de “que algum dia pudéssemos recriar um museu da inocência para que cada hora de nossa vida, uma vez morta se encarne em algum material como os que serão expostos”.

Sanabria reconheceu o trabalho de seus colegas do Museu da América de Madri por “seu grande trabalho” de catalogação e datação das peças.

Além disso, assinalou que ambas as instituições mantiveram fortes laços de colaboração durante o período de estudo, especialmente para identificar quais das 885 peças apreendidas pela Polícia espanhola eram originárias da Colômbia.

Um tesouro que, segundo concluiu, tem um “valor incalculável que vai além de qualquer valor econômico”. EFE

gdl/ma

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