“Footlights”, único romance de Charles Chaplin, é encontrado e será publicado

  • Por Agencia EFE / Viviana García
  • 06/02/2014 11h02
Sandra Ferreira/Jovem Pan Charlie Chaplin

Londres, 6 fev (EFE).- O único romance de Charles Chaplin, “Footlights”, que serviu de inspiração para o filme “Luzes da Ribalta”, será publicado mais de 60 anos depois que o ator e diretor de cinema britânico o escreveu, em 1948.

As várias partes da obra, em forma de manuscritos e roteiros datilografados, permaneciam nos arquivos Chaplin da Cinemateca de Bolonha, na Itália, encarregada de digitalizar todos os trabalhos do cineasta e que agora publicará o romance.

“Footlights” foi reconstruído pelo biógrafo de Chaplin, David Robinson, que o incluiu em um livro chamado “The World of Limelight”.

Robinson inclui no livro um comentário seu e uma descrição do romance, inspiração de “Limelight” (“Luzes da Ribalta”, 1952), considerado o melhor trabalho cinematográfico de Chaplin (1889-1977) pela sensibilidade de seus personagens e por sua originalidade.

Chaplin escreveu seu único romance em 1948, quatro anos antes do filme e antes de ser obrigado a deixar os Estados Unidos no início dos anos 50 por causa da implacável perseguição de Edgar Hoover, então diretor do Escritório Federal de Investigação (FBI), por considerá-lo simpatizante comunista.

Segundo detalhes divulgados em Londres por Robinson, a história conta com personagens similares aos de “Luzes da Ribalta”, o comediante alcoólatra e aposentado, Calvero (Chaplin), e a dançarina Theresa (Claire Bloom), que salva do suicídio.

O romance de Chaplin aprofunda ainda mais no estado emocional desses dois personagens e ajuda a entender a personalidade do diretor de cinema antes de seu exílio na Europa.

De acordo com o biógrafo, Chaplin foi um “grande alvo” de Hoover, chegando ao ponto de “uma grande parte da classe média dos Estados Unidos se voltar contra ele”.

“A situação causou uma grande comoção, por ter sido o homem mais amado do mundo durante 30 anos”, acrescentou Robinson, em referência ao personagem “Carlitos”, o vagabundo de bengala, divertido, trôpego e adorável popularizado no início do cinema mudo do início do século XX.

Uma das diretoras dos arquivos Chaplin em Bolonha, Cecilia Cenciarelli, declarou ao jornal “The Guardian” que o romance é a história de um comediante que perdeu contato com seu público, que tem pesadelos e está “desencantado com sua carreira”.

Assim, as emoções de Chaplin por aquele então podem ser percebidas nas palavras de Calvero no livro.

“Eu sei que sou engraçado, mas os agentes acham que meu tempo passou. Deus! Seria fantástico conseguir que engolissem suas palavras. Isso é o que mais odeio em envelhecer, o desprezo e a indiferença que te mostram. Pensam que não sirvo… É por isso que seria maravilhoso voltar… Quero dizer que seria sensacional, conseguir que rachassem de rir…”, diz Calvero.

Robinson contou que o livro não foi escrito com a intenção de ser publicado, mas era algo muito pessoal para Chaplin, um ator criado em um bairro pobre de Londres que deixou a Inglaterra no começo do século XX para se radicar nos EUA.

De acordo com o biógrafo, o romance mostra a linguagem de um homem autodidata, que sempre levava consigo um dicionário e que se esforçava para aprender uma palavra nova a cada dia, como chacoalhar, florescer ou blefe.

“Assim que aprendia uma palavra que gostava a usava, inclusive se não fosse a correta para a situação. No entanto, escreve de maneira incrível. Com seus filmes, ele trabalhava e trabalhava até que saíam bem, e é o mesmo com esse livro. É uma boa leitura. É estranho, mas bom”, disse Robinson.

Ao longo de sua vida, Chaplin – distinto com a Ordem do Império Britânico em 1975 – recebeu vários reconhecimentos, como o prêmio Oscar Honorífico em 1928 e 1972, além de ter sido candidato ao prêmio Nobel da Paz em 1948. EFE

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