De volta ao Santos, Thiago Ribeiro revela como venceu batalha contra a depressão

  • Por Estadão Conteúdo
  • 19/02/2017 13h24
Ivan Storti / Santos FC Depois de duas temporadas longe do Santos

Dois anos atrás, Thiago Ribeiro não tinha alegria nem na hora do gol. Achou esquisita aquela tristeza doída, que não passava de jeito nenhum, ficou preocupado com a falta de sono e de apetite e resolveu procurar ajuda psicológica. O diagnóstico foi direto: depressão. “Pensei que fosse morrer. Tinha pensamentos ruins e medo que pudesse fazer algo contra minha própria vida”, revelou o atacante do Santos, de 30 anos, em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S.Paulo.

O retorno à Vila Belmiro, no início deste ano, foi o fim de um ciclo difícil em que ele ficou sete quilos mais magro, perdeu velocidade e arranque, suas marcas registradas, e acabou encostado por cinco meses no Bahia. Hoje, ele diz que está curado.

Em outubro de 2014, meses antes de se transferir do Santos para o Atlético Mineiro, o jogador ficou preocupado quando ouviu o diagnóstico da boca de psicólogos e psiquiatras. Nunca tinha tido aquilo, não tinha nenhum problema grave de saúde e estava bem na vida pessoal.

André Pedrinelli, médico da seleção olímpica de futebol e da seleção brasileira de futsal, alerta para uma diferenciação importante entre a depressão, doença que o jogador sofreu, e os quadros depressivos, geralmente associados a motivos específicos, como a morte de uma parente ou um longo período de contusão no futebol. “Os quadros depressivos estão relacionados a grandes perdas. Já a depressão é uma doença e tem de ser vista como qualquer outra. Precisa de tratamento e tem cura”, disse o especialista.

O deprimido apresenta alterações químicas no cérebro ligadas à diminuição da serotonina, neurotransmissor do bem-estar e do prazer. O começo da depressão pode ser o estresse, principalmente naquelas pessoas com predisposição genética. Pelo menos uma em cada cinco pessoas no mundo apresenta o problema em algum momento da vida.

“A depressão é uma doença incapacitante porque ela mata sem matar. Humor, apetite, sono e libido ficam ruins. Não dá vontade conversar, sair e interagir com as pessoas. É uma angústia profunda”, explicou Pedro Katz, psiquiatra do hospital Samaritano e especialista da Associação Brasileira de Psiquiatria.

As palavras de Thiago Ribeiro sobre morte, lá no início, não são exagero. No limite, a depressão pode levar ao suicídio. Cerca de 800 mil pessoas morrem assim a cada ano. É a segunda principal causa de morte entre pessoas de 15 e 29 anos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). No Dia Mundial da Saúde, 7 de abril, a organização vai focar o problema.

Thiago Ribeiro percorreu o calvário da depressão. Tomou antidepressivos e remédios para dormir ao longo de nove longos meses. Passou dos 75 quilos, seu peso ideal, para 67; perdeu o arranque e a resistência, características que o transformaram em um dos destaques do título brasileiro do São Paulo em 2006 e do Cruzeiro entre 2009 e 2011. Diferenciais que o levaram ao exterior, para atuar no Bordeaux e no Cagliari.

Como todos comparavam o Thiago são com o Thiago com depressão, ele ficou sem espaço no Atlético Mineiro e não conseguiu se firmar no Bahia também. Em três meses, disputou 21 jogos e fez apenas dois gols. Também foi prejudicado por uma longa lesão muscular que o tirou de combate por 40 dias. Estava fragilizado. Acabou afastado do Bahia por cinco meses até o término do empréstimo.

Funcionários do clube disseram que Thiago Ribeiro ficou com a imagem de um jogador que treinava pouco. “Ele chegou para fazer a diferença no time, mas decepcionou a todos”. Detalhe: por vergonha e medo do preconceito, o atacante não contou para ninguém sobre a doença. “Em nossa cultura, as doenças que estão na alçada da psiquiatria têm uma conotação diferente”, afirmou Pedrinelli.

Thiago Ribeiro só tomou coragem para revelar a sua depressão quando se sentiu curado, no ano passado. Além dos remédios, diz que uma mudança espiritual na vida (tornou-se evangélico) foi decisiva para sua recuperação. Acha que 2017 já está ganho por ter se livrado da doença.

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