“Esquecido” por Tite, Diego Alves revela segredo para pênaltis e aguarda chance

  • Por Diogo Patroni/Jovem Pan
  • 03/04/2017 21h36

Goleiro brasileiro Diego Alves já pegou 17 pênaltis pelo Valencia

EFE Goleiro brasileiro Diego Alves já pegou 17 pênaltis pelo Valencia

No último domingo (2), o goleiro Diego Alves, do Valencia, entrou para a história do Campeonato Espanhol. Na vitória da sua equipe por 3 a 0 ante o Deportivo La Coruña, o camisa 1 defendeu o pênalti de Fayçal Fajr, e chegou a cinco cobranças defendidas em uma mesma edição da Liga. O brasileiro igualou a marca de Pepe Reina, no Villareal (2003-2004) e Sabadell (1986-1987), mas se destaca também por ter defendido duas cobranças em uma mesma partida diante do Atlético de Madrid.

No entanto, os números impressionam ainda mais quando o quesito é analisado nos últimos dez anos da carreira do camisa 1, que atuou pelo Almeria entre 2007-2011 antes de chegar ao atual clube. Em 50 cobranças, Alves defendeu 24, sendo que uma foi na trave e outra para fora, chegando a um aproveitamento de 48%. Pelo Campeonato Espanhol são 21 defesas em 44 cobranças. Por isso, ele é o goleiro que mais defendeu cobranças na história da competição à frente de Zubizarretta (16), Buyo (15) e Cañizares (13). Entre os nomes que já pararam nas mãos do goleiro brasileiro estão: Messi, Cristiano Ronaldo, Diego Costa, Rakitic, Griezmann, entre outros.

Apesar do histórico favorável e por já ter figurado nas convocações de Dunga, o camisa 1 ainda não foi lembrado por Tite. Desde que assumiu a Seleção Brasileira, em agosto de 2016, o técnico convocou sete goleiros (Alisson, Weverton, Alex Muralha, Marcelo Grohe, Ederson e Danilo Fernandes). O “preferido” do treinador é Alisson, que foi titular em oito dos nove jogos.

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Em conversa com a Jovem Pan Online, Diego Alves acredita que aos 31 anos não está “esquecido” e tem chances de brigar por uma vaga na Seleção Brasileira. “Esperança sempre tem, sempre teve e sempre terá. No momento que eu vivo hoje, eu tenho condições. Sei da minha capacidade e do que posso fazer pela Seleção. Cada treinador tem seu jogador de confiança e eu respeito as decisões. Estou mais maduro e no melhor momento da minha carreira do que há cinco anos. O Taffarel me conhece, já trabalhei com ele na Copa América Centenário, e ele sabe do meu potencial”, afirma o goleiro, revelado pelo Atlético-MG.

Desde 2007 no futebol espanhol, o brasileiro destaca que a experiência internacional tem sido primordial para sua evolução. “Já tenho 10 anos na Europa, e sempre jogando contra os melhores do mundo. Cheguei aqui com 21 anos e é muito difícil um goleiro manter um nível por tanto tempo fora do seu país”, reconhece.

O jogador também vê diferenças entre a preparação técnica brasileira e europeia. “O futebol se atualizou e os treinadores de goleiros mais ainda. Na Europa, acredito que mais do que no Brasil. Aqui se joga um futebol completamente diferente. Nos pênaltis não digo tanto, claro que a tecnologia ajuda, mas os goleiros de hoje são muito mais importantes na saída com os pés, em bolas aéreas e não ficam fixados no gol”, compara.

Por isso, Alves acredita que ainda há alguma dificuldade para a afirmação dos goleiros brasileiros, uma vez que a grande maioria está em equipes do médio escalão. “O que está acontecendo é que não saem mais goleiros como saíam antes. Hoje em dia é um pouco mais difícil, talvez pelas restrições de clubes por conta do limite de estrangeiros. É importante ter essa exportação, pois o Brasil tem uma boa safra”, admite.

Briga dura

Com histórico de novos jogos como titular pela Seleção Brasileira, Diego Alves nunca saiu derrotado e sofreu apenas dois gols. O principal concorrente, Alisson, atuou em 17 jogos e foi vazado dez vezes.

Titular de Tite, o goleiro da Roma esteve presente nas oito partidas das Eliminatórias para a Copa do Mundo 2018 sob o comando do técnico. O camisa 1 sofreu dois gols, sendo um deles em pênalti de Cavani, na vitória por 1 a 4 ante o Uruguai, em Montevidéu. Já o outro jogador da posição utilizado foi Muralha, que defendeu a meta brasileira na vitória por 1 a 0, em amistoso diante da Colômbia.

O goleiro do Flamengo também se destaca por parar alguns atacantes, e em 2015 foi o eleito o maior pegador de pênaltis do Brasileirão com três defesas. Weverton, do Atlético-PR, ganhou notoriedade principalmente após ter defendido o chute de Petersen-ALE, na final olímpica e que culminou com a vitória do Brasil por 5 a 4 nos pênaltis, e a conquista do ouro inédito. Por isso, a disputa pela camisa 1 da Seleção Brasileira é uma das mais acirradas.

Mas será que atuar em clubes médios da Europa diminui a visibilidade para vestir a amarelinha? Para Alves não, pois não é à toa que os dois dos últimos três convocados por Tite atuam no velho-continente (Alisson-Roma e Ederson-Benfica). “O goleiro titular da Seleção (Alisson) joga na Itália e o Ederson está em Portugal. Não acredito que seria mais fácil ou se teria mais oportunidades”, conclui.  

Especialidade

Questionado se tem algum segredo para defender tantos pênaltis, Diego Alves diz que tudo depende do momento, entretanto o jogo psicológico tem sido uma de suas principais armas. “Eu respondo essa pergunta há pelo menos dez anos”, brinca.

“É uma característica minha, claro que eu estudo, mas não significa que o batedor vá chutar sempre no mesmo lado. Dependendo do momento do jogo é bom ter esse contato e criar uma guerra psicológica para tentar vencer esse duelo. O importante é estar tranquilo e concentrado”, explica o brasileiro.

Já com relação ao feito, que o colocam à frente de ídolos como Zubizarreta e Canizares, o goleiro reconhece a honraria e se mostra bastante surpreso. “Eu nunca imaginei que pudesse chegar a esse número. É uma honra me equipararem a esses nomes que fizeram história no futebol mundial. Fico feliz de poder colocar o meu o nome e, principalmente, o do Brasil nessa lista”.

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Em toda a carreira, Diego Alves defendeu quase a metade das cobranças, inclusive nos tempos em que atuava no Brasil. “Eu lembro que na época em que estive no Atlético-MG, as últimas duas eu peguei. Acho que no Brasil eu defendi esses dois. Realmente não sei o que acontece e acredito que seja uma característica minha. Eu tento me manter tranquilo e concentrado. Afinal, o gol é grande e o batedor tem muitas chances de acertar. Também fico assustado com esses números”.

Mesmo com um alto aproveitamento, o jogador ressalta que a tensão sempre o acompanha nos momentos decisivos. “Eu mesmo coloco pressão em mim e nunca espero que saía um pênalti porque é ruim. Tento estar preparado e tudo sempre foi natural”, completa.

Para ele a defesa mais difícil foi a de Griezmann, do Atlético de Madrid. Na ocasião o Valencia saiu derrotado por 0 a 2, com o goleiro defendendo duas cobranças (Griezmann e Gabi). “Todas são especiais, afinal pênalti nunca é fácil. Essa foi a mais plástica. Tive que me esticar inteiro e deixar a mão forte”, relembra.

Ídolos

Aos 31 anos, Diego Alves é da geração que viu Taffarel, Velloso, Dida, Marcos e Rogério Ceni, nomes que marcaram a sua infância. Talvez a capacidade de antever os lances tenha vindo daí. “Desde pequeno eu sempre admirava os goleiros. Sempre gostei de ver a técnica e o posicionamento. Talvez seja uma característica minha, de agilidade, de tentar ler o movimento. Sou da época que tinha muitas decisões de pênalti e acompanhei esses pegadores”, finaliza.

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