“Não sou moleque!” André Santos relembra dia em que discutiu com Wenger

  • Por Jovem Pan
  • 20/06/2017 15h15 - Atualizado em 29/06/2017 00h51

Lateral-esquerdo André Santos Facebook/Reprodução Lateral-esquerdo André Santos

Titular da Seleção Brasileira campeã da Copa das Confederações em 2009, multivencedor com o Corinthians, camisa 11 do Arsenal… Se hoje atua apenas pelo modesto Boluspor, da segunda divisão da Turquia, André Santos já teve momentos memoráveis na carreira. Um deles foi a passagem pelo clube inglês, entre 2011 e 2013. 

O lateral-esquerdo foi contratado pelo Arsenal em agosto de 2011. Negociado junto ao Fenerbahce, da Turquia, por 6,2 milhões de libras, André chegou à Inglaterra com moral. Ele ganhou a camisa 11 e também um lugar entre os titulares da equipe comandada por Arsène Wenger 

Uma lesão no tornozelo em dezembro de 2011, no entanto, prejudicou a passagem do brasileiro pelo gigante de Londres. Depois de ficar quatro meses longe dos gramados, André passou a ser inutilizado pelo técnico francês.

Esse fato, somado à uma promessa não cumprida pelo comandante, rendeu até mesmo uma discussão entre o jogador e o lendário treinador nos vestiários do Emirates Stadium. 

A curiosa história foi relembrada pelo próprio André Santos, em participação exclusiva no Esporte em Discussão desta terça-feira, na Rádio Jovem Pan.

“No meu primeiro ano no Arsenal, joguei 24 ou 28 jogos e era titular. Estava muito bem. Mas Depois que eu quebrei o tornozelo e voltei, eles tinham contratado outro lateral, o Monreal, e o Wenger me prometeu: ‘não, André, você vai voltar, vai jogar, a gente precisa de você…”. Eu tinha uma proposta para voltar ao Fenerbahce, e ele disse que não iria me liberar, porque me usaria no Arsenal“. 

Eu falei: ‘pô, Wenger, se eu não for jogar aqui, você me libera, porque eu quero jogar. Não quero ficar no Arsenal só para dizer que estou aqui. Jamais! Quero jogar. Quero ficar para jogar’. E ele me disse que eu jogaria. Só que, depois disso, foram seis jogos, e eu fiquei no banco em todos, sem entrar. Aí tive uma discussão com ele no vestiário“. 

Essa discussão não foi pesada, é verdade, mas André Santos a aproveitou para desabafar com o treinador. “Falei: ‘poxa, eu não sou moleque! Tive uma proposta de 8 milhões para voltar a um clube no qual eu sabia que iria jogar, e você não me liberou’. Aí, a gente conversou, e ele me disse: ‘não, André, você está liberado. Pode escolher o time que quiser, que o Arsenal vai pagar o empréstimo e bancar o seu salário. Eu, realmente, errei. Me desculpeEle foi muito bacana.” 

Apesar do atrito, André Santos e Wenger estreitaram laços e mantêm boa relação até hoje. “Ele é um cara com quem aprendi muito. Ele me ensinou, principalmente, a parte da disciplina. Isso é fundamental no futebol inglês. O lateral não pode subir tanto para o ataque. Tem de saber recompor, formar linha de quatro. Pela minha característica de ser mais ofensivo, aprendi muito com ele. Ele me deu muitos toques sobre língua, convívio, experiência... Foi um superpai para mim. Hoje, quando vou a Londres e assisto a jogos do Arsenal, vou ao vestiário e converso com ele. É um cara que virou meu amigo”.

Arsenal por Grêmio? André Santos se arrepende de troca 

Como confiou na palavra de Wenger e não aceitou a proposta do Fenerbahce, André Santos viu no Brasil a oportunidade de voltar a jogar com frequência. Em fevereiro de 2013, o lateral-esquerdo deixou o Arsenal por empréstimo para reforçar o Grêmio, que era comandado por Vanderlei Luxemburgo e tinha um projeto ambicioso para a Libertadores. Hoje, o jogador se arrepende da decisão. 

“Me arrependo, sim, porque era um momento em que eu estava no Arsenal… Estava na Europa e voltei muito cedo para o Brasil. O meu primeiro ano no Arsenal foi muito bom. Mas, no segundo, eu fiquei quatro meses parado por lesão, e time grande não te dá tempo para ficar muito tempo sem jogar. É cobrança, jogador chegando para suprir ausência, eles contratam quem eles querem…”. 

“Eu estava insatisfeito, porque não queria ficar no Arsenal por ficar. Dinheiro é bom, todo mundo gosta, mas, para mim, o mais importante é jogar futebol. É o que eu amo. E, naquele momento, o Luxemburgo me ligou, dizendo que estava montando um time para a Libertadores, que tinha o Vargas, o Barcos, o Zé Roberto, e queria contar comigo. O Arsenal pagaria o meu salário, já estava tudo certo. Então, eu falei: ‘estou indo amanhã!’… Porque eu queria jogar!”.

A escolha, no entanto, desagradou às pessoas que conviviam com André Santos. “Naquele momento, houve até uma discussão com a minha família. Eles diziam: ‘pô, você está no Arsenal, quer voltar ao Brasil para fazer o quê?’. Hoje, eu me arrependo… Deveria ter tido um pouco mais de paciência. Dei alguns passos errados na carreira, e esse foi um deles”. 

A passagem pelo clube gaúcho durou apenas seis meses  depois disto, ele voltou ao Arsenal. E o tão sonhado título da Libertadores, como todos sabem, não veio – o Grêmio foi eliminado pelo Santa Fé, da Colômbia, nas oitavas de final. Esse conjunto de fatores faz com que André Santos tenha a certeza de que errou em voltar ao Brasil.  

Se eu tivesse ficado no Arsenal, poderia ter me transferido para outro time da Europa. Há um ano, fiquei sabendo que o Anderlecht, da Bélgica, me queria naquela época. Não era um time top, mas, estando no Arsenal, você tem vários times intermediários da Europa para jogar“. 

Depois do término do contrato com o Arsenal, André Santos passou por Flamengo, FC Goa (Índia), Botafogo-SP e FC Wil 1900 (Suíça). Hoje, aos 34 anos, o lateral-esquerdo atua pelo modesto Boluspor, da segunda divisão da Turquia – no clube turco, o brasileiro é ídolo, capitão e já marcou 13 gols em 30 partidas.

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