Em final “flashback”, Zidane mira feito histórico não visto na Europa há 27 anos

  • Por Estadão Conteúdo
  • 01/06/2017 09h42

O treinador Zidane conquistou a 11ª Liga dos Campeões da história do Real

Reprodução / Real Madrid O treinador Zidane conquistou a 11ª Liga dos Campeões da história do Real

Foi com as camisas de Juventus e Real Madrid que Zinedine Zidane viveu os momentos mais gloriosos de sua carreira como jogador de clube. Pelo time italiano ganhou os seus primeiros títulos de peso, além da projeção e o respeito que o ajudaram a se tornar o último grande maestro – para muitos o maior – da seleção francesa. Depois, pela equipe espanhola, já consagrado, fez história como campeão europeu e do mundo de clubes, entre outros feitos, antes de finalizar a sua trajetória como atleta na Copa de 2006.

Agora, como técnico do Real Madrid, o ex-meia de 44 anos de idade se prepara para uma final “flashback”, marcada para este sábado, em Cardiff, no País de Gales, onde terá pela frente justamente a Juve em busca do bicampeonato da Liga dos Campeões da Europa como treinador. 

Um dos significados do termo da língua inglesa flashback na tradução livre ao português “é a volta ao passado, recordar algo inevitável em um momento presente”. E realmente será impossível não relembrar, antes e até mesmo durante a decisão, muitas das experiências que viveu por estes dois gigantes do futebol europeu ao longo dos dez anos derradeiros de sua carreira como jogador.

Um dos maiores protagonistas desta final de Liga dos Campeões, o astro francês terá, em meio a este “clima de flashback”, a chance de atingir um feito que nenhum treinador obtém na competição desde 1990, quando Arrigo Sacchi conduziu o Milan pelo segundo ano consecutivo ao troféu do mais importante torneio interclubes da Europa.

Atual campeão ao levar o Real na temporada passada ao título europeu – que antes obteve como auxiliar de Carlo Ancelotti no mesmo time madridista, em 2014 -, Zidane assim poderá entrar em um rol de apenas nove treinadores que faturaram a Liga dos Campeões por dois anos seguidos. De quebra, mira ser o primeiro comandante bicampeão desde a adoção do atual formato da competição, existente desde a temporada 1992/1993, quando a mesma passou a ter uma fase de grupos e três fases eliminatórias de mata-mata antes da decisão em jogo único. 

Os outros técnicos que conseguiram esta façanha foram o espanhol José Villalonga Llorente (1956 e 1957) e o argentino Luis Carniglia (1958 e 1959), ambos pelo Real Madrid; o húngaro Béla Guttmann (1961 e 1962), pelo Benfica; o argentino Helenio Herrera (1964 e 1965), pela Inter de Milão; o romeno Stefan Kovács (1972 e 1973), pelo Ajax; o alemão Dettmar Cramer (1975 e 1976), pelo Bayern de Munique; os ingleses Bob Paisley (1977 e 1978), pelo Liverpool, e Brian Clough (1979 e 1980), pelo Nottingham Forest; e finalmente Sacchi pelo Milan, dez anos depois. 

DE INTEMPESTIVO E GENIAL A TÉCNICO SERENO E VENCEDOR – Embora tenha consagrado a sua carreira com uma série de títulos e exibido uma habilidade de gênio com a bola nos pés, Zidane se prejudicou, em muitas ocasiões como jogador, por mostrar um comportamento bem diferente do que exibe como um técnico normalmente sereno na beira do campo à frente do Real Madrid.

E foi com a calma e a habilidade para gerir conflitos que Zidane encontrou o caminho para o sucesso como técnico. Promovido de treinador do time de base a substituto do demitido Rafa Benítez no início de 2016, ele sempre blindou os grandes nomes do time contra as polêmicas e contra a pressão da sempre exigente torcida do Real. Mais do que isso, o francês conseguiu domar o ambiente de um vestiário constantemente sujeito a tempestades com a humildade de quem está ali como uma grande referência e para mostrar que todos são importantes na luta pelos objetivos e não há espaço para egos inflados ou estrelismos.

No início deste ano, ao ser questionado sobre as razões para o sucesso do ainda novato técnico Zidane, antes uma aposta de risco, o presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, ressaltou: “Ele foi capaz de acalmar todas as tensões. É muito profissional e vem mostrando uma humildade que não é habitual neste meio e ainda mais para alguém que representa o que ele representa”. 

Como técnico, Zidane vem conseguindo domar a fúria que em várias ocasiões ele não conseguiu controlar como atleta no ambiente tenso de uma partida de futebol. Embora nunca tenha sido um jogador com características de marcação, o craque foi expulso por nada menos do que 14 vezes ao longo de sua carreira. E em quase todas elas isso ocorreu porque ele reagiu a provocações ou faltas mais duras de seus adversários de forma intempestiva. 

A mais famosa destas expulsões ocorreu justamente no último jogo de sua carreira, na final da Copa de 2006, na Alemanha, onde deu uma cabeçada no zagueiro Materazzi na prorrogação daquele duelo no qual a França perdeu o título para a Itália nos pênaltis.

Antes de se consagrar campeão e protagonista da final da Copa de 1998, Zidane foi expulso na primeira fase daquele Mundial por ter dado um pisão em um adversário em jogo contra a Arábia Saudita. A atitude ainda lhe rendeu dois jogos de suspensão na competição, na qual ele só pôde voltar a atuar nas quartas de final, contra a Itália.

CARREIRA DECOLOU NA JUVENTUS – Caçula de cinco irmãos e filho de imigrantes argelinos, Zinedine Yazid Zidane nasceu no dia 23 de junho de 1972 em Marselha, no sul da França, onde os seus pais se estabeleceram na década de 1950. E desde muito jovem, mostrou que era um jogador diferenciado e estava predestinado a ser um protagonista.

Dono de uma habilidade e inteligência raras dentro dos gramados, com apenas 16 anos de idade ele já integrava a equipe profissional do Nantes. Foram quatro anos pelo time de seu país, onde também vestiu por mais quatro temporadas a camisa do Bordeaux antes de iniciar a fase gloriosa de sua carreira, na Juventus, a partir de 1996, ano em que foi contratado pelo clube italiano.

Pelo gigante de Turim, a sua carreira decolou. Ele conquistou seis títulos, sendo o primeiro deles o Mundial de Clubes de 1996, quando foi titular do meio-campo do time que derrotou o River Plate por 1 a 0 na final realizada em Tóquio, no Japão. O então jovem de 24 anos vivia ali o começo de uma trajetória que também seria premiada com as taças da Supercopa da Europa, do Campeonato Italiano em duas temporadas seguidas, da extinta Copa Intertoto da Uefa e da Supercopa da Itália.

E foi justamente neste período que Zidane viveu o maior momento de sua carreira. Então como craque da Juventus, ele foi o grande carrasco do Brasil na final da Copa de 1998, na França, onde marcou os dois primeiros gols da vitória por 3 a 0 que deu à França o inédito título mundial.

Consagrado, Zidane acabaria se transferindo para o Real Madrid em 2001 após ser contratado por 77 milhões de euros, então um recorde histórico. E já na primeira temporada pela equipe merengue, a de 2001/2002, correspondeu ao alto investimento. Tornou-se o maestro da famosa “era galáctica” de um time que tinha Roberto Carlos, Luís Figo, Raúl, entre outras estrelas, e faturou a Liga dos Campeões com direito a marcar o famoso golaço de voleio que garantiu ao Real o título na final contra o Bayer Leverkusen.

Depois, com o recém-contratado Ronaldo ao seu lado na temporada seguinte, conquistou também em 2002 o Mundial de Clubes e ainda uma Supercopa da Europa, antes de ser eleito o melhor jogador do mundo pela Fifa pela terceira vez, em 2003, e contabilizar um Campeonato Espanhol e mais duas Supercopas da Espanha.

DE PAI PARA FILHO – Campeão espanhol pelo Real nesta temporada e na luta para faturar um histórico bicampeonato europeu como técnico, Zidane tem o seu filho Enzo Fernandez hoje atuando na equipe júnior do time espanhol. O atleta de 22 anos foi batizado com este nome em homenagem a Enzo Francescoli, craque uruguaio que foi o seu grande ídolo enquanto o ex-jogador francês era torcedor do Olympique de Marselha na década de 1980. 

Com o sonho de poder dar continuidade ao legado de glórias do seu pai no Real, Enzo é descrito pelo site oficial do clube como “um jogador muito completo, que brilha essencialmente pela sua técnica com a bola dominada e é capaz de jogar com um fenomenal desempenho com os dois pés”. Segundo o Real, ele também “desequilibra no ‘um contra um’ e possui recursos ofensivos, faro de gol e bom chute de longa distância”.

Luca, Theo e Elvaz, outros três filhos de Zidane, também hoje integram as categorias de base do Real. E não são pequenas as chances de Enzo e seus três irmãos não terem nem sombra do sucesso alcançado pelo pai, mas o ídolo já abriu as portas para que todos eles persigam o caminho de glórias que o eterno camisa 10 francês segue trilhando, agora como técnico do time mais vencedor da história do futebol.

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