Da lama à liderança da Série B: como Guarani ressurgiu e mira até Libertadores

  • Por Jovem Pan
  • 27/06/2017 15h46

Após dez rodadas Luciano Claudino/Estadão Conteúdo Após dez rodadas

Março de 2015: afundado em dívidasna Série A2 do Campeonato Paulista e prestes a disputar a terceira divisão do Campeonato Brasileiro, o Guarani sofre um forte baque e vê o Estádio Brinco de Ouro da Princesa ser leiloado por R$ 105 milhões. 

Junho de 2017: sem atrasos salariais, o Guarani consegue manter o estádio, lidera a segunda divisão nacional tem até a perspectiva de inaugurar uma nova arena. O discurso, ambicioso, é o de voltar à Copa Libertadores da América em um futuro não tão distante. 

Definitivamente, não é exagero dizer que o clube de Campinas foi do inferno ao céu em um curto intervalo de tempo.

Presidente do Guarani desde abril, o advogado Palmeron Mendes Filho topou falar sobre o projeto que fez o Bugre ressurgir das cinzas.

Em entrevista exclusiva a José Manoel de Barros que vai ao ar no próximo fim de semana, na Rádio Jovem Pan, o mandatário celebrou o bom momento alviverde e dissecou o processo de reconstrução do Guarani.

Planejamento e responsabilidade financeira foram os motes da iniciativa que fez brotar o “novo Bugre”. E, apesar de ter sido pensado a longo prazo, o trabalho já tem surtido efeito  após dez rodadas, o Guarani tem aproveitamento de 63,3% e ocupa a liderança da Série B com 19 pontos.

“Estamos trabalhando com os pés no chão. Apesar de não termos alcançado o nosso objetivo no Campeonato Paulistaque era o acesso à Série A1, mantivemos a comissão técnica e cerca de 60% da equipe para a Série B. Fomos atrás de reforços pontuais, mas, acima de tudo, respeitamos o orçamento do Guarani“, explicou Mendes, que confia plenamente no trabalho do técnico Vadão  o comandante tem conseguido entregar resultado em um clube que ainda não tem capacidade de competir financeiramente com outros rivais da segunda divisão nacional.

Posso dizer que, hoje, o Guarani tem o orçamento mais baixo da Série B. Entramos no campeonato com uma cota de cerca R$ 4,5 milhões para brigar, por exemplo, com um Internacional com orçamento de R$ 60 milhões... É desproporcional, mas estamos trabalhando. A coisa vem dando certo, mas o campeonato é longo. Nosso primeiro objetivo é permanecer na Série B. Depois, vamos tentar beliscar mais algumas coisinhas“, afirmou o mandatário.

O sucesso dentro de campo, de acordo com o presidente, é reflexo do bom trabalho realizado fora dele“O resultado só aparece se o clube estiver forte administrativamente. Hoje, no futebol, o maior reforço de um clube é o salário em dia. Não adianta montar um grupo forte, inchado, e não conseguir pagar os salários dos jogadores. Estamos com tudo em dia. Fechamos a torneira. Aqui, o dinheiro entrava e ninguém sabia para onde ia. Agora, resolvemos esse problema, e o resultado tem aparecido dentro de campo“. 

O fundo do poço fez o Guarani adotar uma postura mais cautelosa fora das quatro linhas. O clube de Campinas acertou uma parceria com o grupo Magnum, parou de gastar mais do que arrecadava e estreitou relações com clubes da Série A. Só em 2017, por exemplo, Atlético-MG, Cruzeiro e Palmeiras emprestaram jogadores ao Bugre sem comprometer a folha salarial campineira. São os casos de Eron (Atlético-MG), Rafael Silva (Cruzeiro), Vagner, Juninho e Gabriel Leite (Palmeiras), que têm boa parte dos vencimentos pagos pelos seus respectivos clubes. 

O Rafael Silva veio do Cruzeiro com 100% dos salários pagosPalmeiras nos cedeu três ou quatro jogadores pagando 90% dos salários. A mesma coisa o Atlético-MG... Conseguindo essas parcerias, a parte da folha salarial que cabe ao Guarani fica dentro do orçamento“, celebrou o presidente, que ainda pretende reforçar o Bugre com o volante Cristian, do Corinthians, seguindo esse mesmo modelo de negócio – o experiente Richarlyson foi contratado há menos de dois meses, e o zagueiro Domingos pode voltar ao Guarani depois de cinco anos no Catar. 

Arena e volta à Libertadores 

Boa parte da reconstrução do Guarani pode ser explicada por uma vitória conquistada pelo clube fora dos gramados – mais precisamente nos tribunais. O Bugre, que havia perdido o Brinco de Ouro da Princesa em um leilão em março de 2015, embargou a decisão da Justiça e conseguiu anular o leilão depois de alegar irregularidades na arrematação da empresa Maxion Empreendimentos Imobiliários. 

Cancelado o leilão, o Guarani foi atrás de um parceiro da iniciativa particular. Em pouco tempo, acertou a venda do complexo do Brinco de Ouro – que abrange o estádio e a sede social – à Magnum, do empresário Roberto Graziano. Como contrapartida pelo negócio, o Guarani passou a receber um aporte de R$ 350 mil por mês (o acordo é válido pelos próximos dez anos) e terá direito a uma nova arena, com capacidade para 12 mil pessoas, além de um novo clube social e um reformulado centro de treinamentos. 

Guarani vendeu todo o complexo do Brinco de Ouro condicionado a alguns termos. O clube possui 14% do VGV (Valor Geral de Vendas) do empreendimento imobiliário que será construído no complexo, e, paralelo a isso, o investidor terá de nos entregar uma nova arena, um novo clube social e um novo centro de treinamentos, além de pagar o nosso passivo trabalhista“, explicou Palmeron Mendes Filho.

Em 2014, o passivo trabalhista do Guarani era orçado em cerca de R$ 100 milhões. Em três anos, 90% desse valor já foi quitado através da alienação judicial, de acordo com o presidente bugrinoEssa conjunção de fatores, segundo Palmeron, faz com que o Guarani projete voltar ao primeiro pelotão do futebol brasileiro antes do imaginado. 

Hoje, podemos falar que o Guarani ressurgiu e sairá sem nenhum passivo trabalhista, além de um novo clube social, uma nova arena e um novo centro de treinamentos. Com tudo isso, podemos dizer que, em alguns anos, o Guarani vem muito forte para voltar a disputar a Libertadores”. 

Fora da Série A desde 2010, o Guarani já disputou três vezes a Libertadores: em 1979, 1987 e 1988. A melhor campanha foi em 1979, quando o clube de Campinas, então campeão brasileiro, chegou até a fase semifinal. Na ocasião, o Bugre foi eliminado apenas pelo Olímpia, do Paraguai, que se sagraria campeão depois de superar o poderoso Boca Juniors na decisão.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.