Do anonimato à idolatria: Jailson faz o que nem Marcos fez e se eterniza no Palmeiras

  • Por Bruno Landi/Jovem Pan
  • 17/11/2016 18h39

Jailson ajudou o clube do coração a superar uma fila de 22 anos sem títulos brasileiros

Marco Galvão/Fotoarena/Estadão Conteúdo Jailson ajudou o clube do coração a superar uma fila de 22 anos sem títulos brasileiros

Voltemos alguns meses no tempo. Mais precisamente a 4 de agosto. Já sem o lesionado Fernando Prass, o Palmeiras vê Vagner falhar bisonhamente e apenas empata com a Chapecoense, fora de casa. O time de Palestra Itália amargava, àquela altura, a sua pior fase no Campeonato Brasileiro: não vencia há três jogos e ocupava a vice-liderança da competição nacional. Para piorar, tinha, no gol, um enorme problema para solucionar a 20 rodadas do término da Série A. 

Fernando Prass estava fora até o fim do ano, e o reserva imediato, Vagner, não convencera nas oportunidades que tivera. E agora, Cuca? Banca o segundo goleiro e põe em risco a disputa pelo título brasileiro, ou parte para o plano C e aposta no experiente, mas pouco conhecido, Jailson?

O técnico escolheu a segunda opção. 

E mal sabia que nascia, ali, o maior símbolo do tão sonhado nono título brasileiro do Palmeiras. 

Jailson tomou conta do gol alviverdeDo simpático e carismático terceiro goleiro importante apenas para o vestiário de um time que tinha em Fernando Prass a sua maior referênciao arqueiro se transformou em líder do clube que sempre sonhou em defender. Seguro, preciso e regular, o camisa 49 aproveitou as oportunidades que o destino lhe reservou e, quando menos imaginava, entrou para a história da agremiação que mais tem história debaixo das traves.

De onde quer que estejamOberdan Cattani, Valdir Joaquim de Moraes, Emerson Leão e Marcos estão aplaudindo Jailson – que, querendo ou não, apresentou uma nova, e improvável, faceta da Academia de Goleiros do Palmeiras. Ao contrário dos outros arqueiros que brilharam com a camisa alviverde, afinal, goleiro nascido em São José dos Campos não foi formado na base palestrina. Revelado pelo Joseense, começou no Campinense, a quase três mil quilômetros da capital paulista, e só chegou ao Palmeiras aos 33 anos de idade, depois de rodar por clubes como Ituano, Guaratinguetá, Juventude, Oeste e Ceará. 

Foi Dorival Junior, então técnico alviverde, quem pediu a contratação de Jailson para o Palmeiras. Tudo aconteceu no fim de 2014. Fernando Prass estava machucado, e Fábio, Bruno e Deola acumulavam falhas nas rodadas que deixavam o time de Palestra Itália à beira de mais um rebaixamento à segunda divisão nacional. Dorival queria um goleiro experiente e foi buscar Jailson na reserva do Ceará, então quinto colocado da Série B. 

O arqueiro chegou sem alardes, viu Fernando Prass jogar no sacrifício e celebrou, do banco de reservas, a permanência do Palmeiras na elite nacional. Foi assim durante meses e mais meses: Prass em campo, e Jailson no banco. A estreia só foi acontecer na pré-temporada de 2015, no amistoso diante do Shandong Luneng, da China. A primeira partida oficial? Foi disputada apenas diante do Sampaio Corrêa, no meio do ano, pela Copa do Brasil. 

Àquela altura, porém, Aranha já havia sido contratado junto ao Santos. Jailson se transformara no terceiro goleiro do Palmeiras – com o agravante de, meses depois, ter sofrido uma importante lesão que o faria perder 120 dias no departamento médico alviverde. Algum problema? Nenhum. Desde pequeno, afinal, o hoje ídolo palmeirense sempre desejou apenas vestir o uniforme do clube de Palestra Itália. Apesar de filho de corintiana, Jailson gostava do verde e branco e, entre uma defesa e outra nas ruas de São José, comentava com a avó: “um dia, eu vou ser goleiro do Palmeiras”.

Enquanto a oportunidade não chegava, ele dava um jeito de ganhar mimos do clube pelo qual sempre foi apaixonado. Fã inveterado de Marcos, chegou a trocar luvas com o ídolo palmeirense depois de um jogo entre a equipe palestrina e o Guaratinguetá, pelo Campeonato Paulista – o objeto é até hoje tratado como tesouro na casa de Jailson. O volante Wendel, que atuou com o goleiro na base do Joseense e jogou pelo Palmeiras por quase dez anos, também presenteava o amigo sempre que podia. Não foram poucas as chuteiras dadas ao arqueiro, que tanto desejou defender o clube do coração.

O sonho se concretizou em 2014. E ganhou contornos surrealistas dois anos depois, quando Prass se lesionou e Vagner deixou escapar a chance de assumir a meta alviverde. Coube a Jailson, com uma incomum camisa 49, crescer sob as traves do Allianz Parque durante o quase-perfeito segundo turno palmeirense no Campeonato Brasileiro. A estreia como titular, que também foi a estreia de Jailson em um jogo de Série A, não poderia ter sido melhor: atuação de gala contra o Vitória, dentro de casa, no momento em que o Palmeiras mais esteve contra a parede na competição nacional.

Daí para frente, Jailson só se agigantou. Aos 35 anos, jogou no sacrifício e fechou o gol contra o Atlético-PR, na Arena da Baixada; fez defesas milagrosas e foi o responsável por segurar um importante empate por 0 a 0 com o Grêmio, em Porto Alegre; e também brilhou na decisiva igualdade por 1 a 1 com o Atlético-MG, no Horto – sem falar nos duelos contra Fluminense, Corinthians, América-MG, Cruzeiro, Inter, Botafogo e Chapecoense, nos quais o goleiro não foi vazado.

Às brilhantes atuações se somaram os exemplos de Jailson – que, se, como reserva, já era um “líder oculto” do elenco palmeirense, como titular, passou a esbanjar a influência que todo bom goleiro deve ter. A corrida para cumprimentar e aplaudir Thiago Santos depois de um desarme na partida contra o Internacional foi a prova de que, em pouco tempo, o simpático e bem-humorado arqueiro, antes importante apenas para a manutenção da boa convivência entre os jogadores alviverdes, havia se transformado em peça imprescindível do campeão brasileiro de 2016.

Com Jailson no gol, o Palmeiras não perdeu na competição nacional  acumulou incríveis 14 jogos de invencibilidade e só foi derrotado pelo Santos, na Vila Belmiro, quando, suspenso, o goleiro não jogou. Prova da importância do camisa 49, que, se demorou mais de 30 anos para realizar o maior sonho de sua vida, o fez da melhor maneira possível: conquistando um título brasileiro como titular, algo que nem o ídolo, e hoje amigo, Marcos conseguiu fazer – em 1993 e 1994, o pentacampeão mundial foi reserva de Sérgio e Velloso, respectivamente.

Ao que tudo indica, Jailson dificilmente vai manter a posição de titular do Palmeiras no ano que vem. Em 2017, afinal, Fernando Prass voltará a ter condições de jogo, e é improvável imaginá-lo no banco de reservas. O brasão que abrilhantará o uniforme alviverde nos próximos 365 dias, porém, terá a marca de Jailson: o goleiro que acordava sonhando com o Palmeiras e que, no último domingo, fez o Palmeiras sonhar acordado com a conquista do eneacampeonato brasileiro.

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