Jamelli relembra discussão entre Neymar e Dorival em 2010 e aponta: “mudou de adolescente para homem”

  • Por Luiz V. Andreassa/Jovem Pan
  • 31/08/2015 15h35
SANTOS, SÃO PAULO, BRASIL, 18-09-2010: Futebol: o técnico Dorival Júnior (à dir.) e o diretor de futebol Paulo Jamelli durante treino do Santos, no CT Rei Pelé, em Santos (SP). (Foto: Ricardo Nogueira/Folhapress) Folhapress Jamelli (esq.) ao lado de Dorival Jr em 2010. Naquele ano

Aos 41 anos, Paulo Roberto Jamelli Júnior, ou apenas Jamelli, já tem grande experiência no futebol. Depois de se aposentar em 2007 como jogador, o ex-atacante trabalhou como gerente de futebol no Santos e, em 2010, passou por um momento de grande sucesso, mas também de confusão, no clube. Em entrevista ao Jovem Pan Online, Jamelli contou como foi o episódio em que Neymar xingou o então treinador Dorival Jr ao ser proibido de cobrar um pênalti contra o Atlético-GO.

“O dia em que aconteceu aquilo entre foi muito complicado. Eu como gerente tive que tentar amenizar os dois lados. Foi um erro que ele teve, ele reconheceu em seguida, logo no vestiário. Não sei o que aconteceu, ele não era assim, não é assim. Foi um momento de destempero. Foi mau, feio, não só para ele ou para o Santos, mas para o futebol. Ele estava mal, mal com ele mesmo, mas a coisa já estava feita. A gente tinha de buscar a melhor maneira não de preservá-lo, mas de mostrar que ele errou, que havia uma hierarquia e um comando e que ele foi contra tudo isso”, relatou Jamelli. Para ele, o episódio foi importante na carreira do craque.

“Depois de tudo que aconteceu, eu tenho certeza que aquilo foi o que alavancou a carreira dele para ser o Neymar que é hoje. Ele poderia ser mais um que era uma promessa e não dá certo, apesar de todo o talento que ele tem, mas ali acho que tomou uma pancada muito forte, viu que errou e subiu um degrauzinho de adolescente para homem. Isso não aconteceu por amor, mas pela dor”, analisou. “Hoje, quando ele está de férias em Ibiza, ou dando uma entrevista, ele sabe que se falar alguma coisa errada, ou tiver uma atitude errada, vai ser algo mundial. Ele não tinha essa noção antes, e nem nós. Não sabíamos o que era o fenômeno Neymar”.

Para Jamelli, o caso de Neymar difere do de outras promessas, como o atacante Gabriel Jesus, que é a bola da vez no Palmeiras. “Ele (Gabriel) apareceu muito bem na Taça São Paulo, foi para a Seleção. Acho que a subida dele foi mais gradual do que a do Neymar. A do Neymar foi muito rápida, muito forte, ele era da base e de repente foi o melhor jogador do Brasil. O Gabriel Jesus ainda não é o melhor jogador do Brasil. Não que seja mais fácil, mas é mais administrável essa subida”, disse o ex-dirigente, que comentou das dificuldades para administrar o tempo de Neymar.

“Eu recebia dez telefonemas que ele tinha que ir gravar um comercial no Rio de Janeiro, depois tinha que ir numa entrevista com o Jô Soares, era a Veja, era a Jovem Pan… O Dorival perguntava: ‘e ele vai treinar quando?’. A parte de trás, que as pessoas não vêm, era muito difícil conciliar. Ele é um jogador de futebol, a primeira função dele é jogar bola, cumprir com os treinamentos. Mas era complicadíssimo”, contou. “O treino era às dez da manhã e às oito ele estava pegando um avião no Rio de Janeiro porque tinha ido gravar um comercial e tinha que chegar a tempo no treino porque senão ia complicar com os outros. Foi um momento de muito estresse, mas de muito aprendizado”.

Jamelli ainda elogiou o trabalho de Dorival Jr com os jovens jogadores, coisa que fez bem em 2010 e vem repetindo em 2015. “O Dorival é um cara que gosta muito de trabalhar com jovens, e o Santos tem esse DNA. Talvez seja o clube que mais revelou jogadores nos últimos anos, mesmo que por uma necessidade, porque não tinha dinheiro para contratar. O Dorival Jr é um cara perfeito para estar nessa situação. Ele entende bem esses jovens, tem uma linguagem que o jovem entende. O Dorival pega e passa a ideia dele de forma simples para o jogador que está começando e não tem experiência tática. Com a simplicidade dele, com o jeito de falar, ele consegue fazer com que o time tenha a sua cara”, elogiou o ex-atacante, que também tem tentado a carreira de treinador.

“Desde que saí do Santos tenho me dedicado à carreira de treinador. Trabalhei aqui em São Paulo no Barueri e no Campeonato Catarinense pelo Marcílio Dias. Estou me preparando, fazendo cursos, aprimorando, trocando muita informação com os ex-jogadores que hoje são treinadores na Espanha, no Japão, no Peru, nos Estados Unidos, fora os daqui que trabalharam comigo, como o Muricy, o Candinho. Estou procurando me preparar e me aperfeiçoar para que, quando um clube me chamar para ser treinador, já tenha uma comissão técnica formada, uma ideia de jogo”, contou.

Tive quatro anos como gestor, foi uma experiência muito boa para mim porque consegui aprender o outro lado do futebol, não só do jogador e do técnico, mas também a parte de como funciona o clube, a parte política, a administrativa, a financeira. Tudo interfere no resultado final dentro de campo”, concluiu Jamelli.

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