“Sensação”, time do Haiti negocia com Ferj e decide: vai tentar jogar o Carioca

  • Por Jovem Pan
  • 28/09/2016 18h14

O Pérolas Negras vai estrear no futebol profissional em 2017 e quer jogar o Campeonato Carioca da Terceira Divisão

Facebook/Reprodução O Pérolas Negras vai estrear no futebol profissional em 2017 e quer jogar o Campeonato Carioca da Terceira Divisão

Xodó da torcida brasileira na última edição da Copa São Paulo de Futebol Júnior, o Pérolas Negras, do Haiti, vai estrear, em 2017, o seu time profissional de futebol. E, muito provavelmente, já disputará logo de cara uma competição para lá de tradicional do futebol brasileiro. Nascido de um projeto executado pela ONG Viva Rio em parceria com a Federação Haitiana de Futebol, o Pérolas Negras negocia com a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) uma possível participação no Campeonato Carioca. A equipe busca entrar na terceira divisão do torneio já no ano que vem. 

Em entrevista exclusiva a Zeca Cardoso que vai ao ar no próximo Plantão de Sábado, da Rádio Jovem Pan, o fundador e diretor da ONG Viva Rio informou que apenas detalhes burocráticos separam o Pérolas Negras do Estadual do Rio de Janeiro. O clube tem que depositar uma taxa de R$ 500 mil à Ferj para se inscrever na competição, e é justamente este pagamento que, por enquanto, tem impedido a realização do sonho caribenho. 

Na última quarta-feira, a Ferj deu uma licença de dois anos ao time do Haiti.Assim, o Pérolas Negras tornou-se filiado da entidade “até que sejam cumpridas integralmente todas as etapas e obrigações inerentes ao respectivo processo”, de acordo com documento emitido pela federação carioca.

“Já nos inscrevemos na federação. Estamos apenas negociando os termos. A taxa de registro na Ferj é alta. Então, estamos negociando um parcelamento para poder viabilizar o registro… Mas jogar o Carioca já é uma decisão tomada“, garantiu Rubem Fernandes. Vamos fazer uma parceria com um grupo do Vale do Café para o time sub-15 e, a partir daí, concentrar esforços no sub-17, sub-20 e no profissional, que tem que começar pela terceira divisão do Carioca, acrescentou.

No fim de agosto, Viva Rio e Ferj se reuniram e assinaram um termo de compromisso que abriu ainda mais as portas do Campeonato Carioca para o Pérolas Negras. Este termo, afinal, garante a equiparação de refugiados com brasileiros nas competições do estado. Isso significa que, nos campeonatos do Rio de Janeiro, haitianos não serão considerados estrangeiros – algo fundamental para a participação da equipe caribenha no Carioca, já que, atualmente, cada clube tem direito a inscrever somente cinco estrangeiros por jogo no Estadual. 

A ideia do Pérolas Negras, por sinal, é de ter ao menos 80% de haitianos no seu elenco profissional. O restante muito provavelmente será formado por brasileiros – e de preferência, da região de Paty dos Alferes, no Rio, onde está localizado o CT do clube no Brasil. Não é bom ter puro sangue em nada. A gente gosta de misturas. Então, vai ter uma mescla. A ideia é de que o time seja majoritariamente formado por haitianos, porque é a marca do nosso projeto, e também por alguns brasileiros, preferencialmente da região serrana do Rio, para criar raízes..Vamos ter uns três, quatro, cinco brasileiros no grupo principal”, finalizou. 

De onde surgiu o Pérolas Negras?

A disputa de um campeonato de elite do futebol brasileiro é o ponto máximo de um projeto que nasceu há menos de dez anos. O Pérolas Negras foi fundado em 2011, na capital do Haiti, mas, na verdade, surgiu de uma viagem da ONG Viva Rio ao país caribenho em 2004, como parte das Missões de Paz da ONU. Naquele ano, Rubem Fernandes percebeu a paixão dos locais pelo esporte mais popular do planeta.  

Em 2008, então, decidiu criar uma academia de futebol em Porto Príncipe. As obras começaram em 2009, mas, um ano depois, foram interrompidas por um terremoto que devastou o país. Com o atraso, as máquinas só pararam em meados de 2011, quando deram vida a um moderno centro de formação de atletas. Lá, o trabalho é feito apenas com garotos de 11 a 17 anos – somente depois dessa idade é que os melhores jogadores vêm ao Brasil com visto de refugiados humanitários para treinar e se profissionalizar no CT instalado em Paty dos Alfares, na Região Serrana do Rio de Janeiro.

Hoje em dia, a gente está tão conhecido no Haiti, que a garotada até nos procura. O Pérolas Negras faz peneiras com mais de mil garotos. A cada jogo que disputamos, os melhores jogadores do time adversário querem passar para o nosso lado, porque, realmente, a estrutura de suporte ao futebol no Haiti é precária. Então, nós oferecemos algo muito mais profissional. Nosso CT tem quatro campos, academia, piscina, educação escolar, fisioterapia… Isso gera muito interesse por lá“, afirmou Fernandes. 

Apesar de recente, o trabalho já começou a gerar frutos.  pouco tempo, o Pérolas Negras jogou torneios na Europa e chocou: foi quadrifinalista em uma competição na Suécia e vice-campeão em um campeonato na Noruega. Neste ano, disputou a Copa São Paulo de Futebol Júnior como convidado, ganhou a tradicional Copa Alterosa, que reúne equipes de alto rendimento da Zona da Mata, em Minas Gerais, e viu muitos de seus jogadores ajudarem a seleção sub-17 do Haiti a faturar o importante título da Copa do Caribe de 2016, em Trinidad e Tobago. 

Eu entrei no projeto para ficar apenas um ano, mas, a cada dia que passa, me motivo mais“, discursou o coordenador técnico do Pérolas Negras, o brasileiro Rafael Novaes. “E vou continuar enquanto perceber que esses haitianos estão evoluindo como pessoas e atletas. É uma enorme satisfação ver os meninos revelados pelo projeto prosperando no futebol.  E olha… Eu só vou me sentir realizado quando o Haiti voltar a disputar uma Copa do Mundo e tiver uns seis, sete jogadores formados nos Pérolas Negras, encerrou, emocionado com o desenvolvimento do futebol em um país que, em toda a sua história, só disputou uma Copa do Mundo, em 1974.

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