Um dia na várzea: comunidades dão exemplo de torcida em final da Copa Amizade

  • Por Victor Moraes/Jovem Pan
  • 03/04/2017 13h07
Victor Moraes/Jovem Pan Final da Copa Amizade levou mais de três mil pessoas a Mauá para Scorpions x Vila Junqueira

Domingo, 2 de abril, dia de final na várzea. As 10 da manhã, centenas de pessoas cercam o alambrado de um campo de terra em Mauá, região metropolitana de São Paulo. Penduradas, subindo a grade e até em cima do banco de reservas… qualquer espaço livre é ocupado pelos torcedores do time da casa, o Scorpions F.C, e também do Vila Junqueira, de Santo André, para acompanhar a final da Copa Amizade.

Mais do que a disputa pelo título (o primeiro para a equipe de Mauá e o bicampeonato para o Vila Junqueira), a partida coloca frente a frente duas comunidades cheias de orgulho, que fazem questão de demonstrar a torcida com fogos de artifício, fumaça e sinalizadores. É um duelo de cores: faixas azul e branco são estendidas em cima do morro de um lado, e camisas verde e vermelha são expostas do outro.

Na entrada dos vestiários os presidentes dos dois times, que também exercem papel de técnicos, dão apoio aos atletas. “A várzea entrou na minha vida quando eu tinha uns 8, 9 anos. Saí do Nordeste e vim pra São Paulo. O meu prazer é ficar no domingo na beira do campo”, conta Madeira, presidente do Scorpions.

Mesmo jogando em casa, o dirigente nega favoritismo: “essa é a primeira vez que chegamos à final (…) o nosso time é uma mescla de jogadores experientes e jovens. O fato de jogar perto da nossa comunidade não nos torna favoritos”.

O cheiro forte de cânfora domina o ambiente onde jogadores se abraçam e rezam. Na beira do terrão, crianças esperam ansiosamente para cumprimentar a torcida correndo junto com os atletas para dentro de campo. De boné branco virado para trás, o presidente do Vila Junqueira demonstra otimismo e anuncia a entrada de seus atletas: “há dois anos, nós nos sagramos campeões aqui mesmo nesse campo. Só espero que dessa vez não seja com tanta emoção como foi em 2015. Foram 58 cobranças de pênaltis, um recorde no futebol. Hoje, se Deus quiser, vai ser mais tranquilo…E aí vem o Vila Junqueira”

Quando a equipe de Santo André entra em campo, a fumaça vermelha e verde domina o ambiente, e se mistura com os muitos fogos de artificio disparados.

Na marca do pênalti, ansioso para a entrada do time da casa, um menino de aproximadamente 15 anos, de camisa azul e um olhar atento reforça: “difícil falar, o Scorpions faz parte da minha vida, representa muita coisa pra mim”.

De mãos dadas, os jogadores de Mauá entram em campo e agradecem a torcida. No alambrado, duas faixas de incentivo: “a fé na vitória tem que ser inabalável” e “igualdade e humildade procede”.

Depois da foto oficial, o jogo começa. O que chama a atenção – além da disputa acirrada, como se a vida de cada jogador dependesse do lance – é a paixão da torcida pelos times que representam a sua comunidade.

De cabelo curto e óculos, Roberta está com o namorado e as amigas a menos de três passos do alambrado. Ela tem 35 anos e torce para o Scorpions há 14: “não é só a minha paixão, mas é uma paixão que envolve toda a comunidade, principalmente quando chega a final. Eu acho legal que aqueles que são de Mauá, mesmo já tendo sido eliminados, apoiam o Scorpions porque agora ele representa a comunidade”.

Do outro lado do terrão, aos 60 anos, uniformizado e em cima de uma cadeira de plástico para ter uma visão privilegiada da partida, o Sr. Edson conta o que o faz sair de Santo André às 8h da manhã para acompanhar o Vila Junqueira.

“Eu acompanho o Vila desde 1979, inclusive a sede do time já foi num bar que hoje é meu. Eu tenho três filhos e desde criança eu os ensino a torcer pro Vila Junqueira. O meu menino tem 17 anos e futuramente vou assisti-lo jogar com essa camisa”, projeta.

No final, para a alegria do Sr. Edson e de centenas de outros torcedores, o sol apareceu para coroar o bicampeonato do Vila Junqueira na Copa Amizade, que venceu por 2 a 0. Para o time da casa, além do vice, fica a lição de respeito e cidadania e o orgulho de mostrar o verdadeiro espetáculo do futebol.

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