Gol de Mineiro e defesas de Rogério Ceni garantiam tri mundial ao São Paulo

  • Por Adriano Sarafim/Jovem Pan
  • 18/12/2014 10h20

Goleiro parou o Liverpool com grandes defesas e volante acabou com a invencibilidade da defesa inglesa

Site Oficial / saopaulo.net Gol de Mineiro e defesas de Ceni garantiam tricampeonato mundial ao São Paulo

O Nissan Stadium, em Yokohama, era o palco de mais uma decisão para o futebol brasileiro, no dia 18 de dezembro de 2005. Dessa vez não era a Seleção em uma final de Copa do Mundo, como aconteceu em 2002, mas sim o São Paulo Futebol Clube, que retornava ao país oriental 12 anos após conquistar o bicampeonato mundial em 1993. O adversário da vez era o Liverpool, tradicional clube inglês e que havia conquistado o seu quinto título da Liga dos Campeões de forma histórica, após recuperar uma desvantagem de 3 a 0 contra o Milan e vencer nos pênaltis.

O cenário não era nada favorável ao time paulista. Os rivais contavam com um elenco muito qualificado, com Gerrard e Xabi Alonso comandando o meio de campo, além de uma defesa sólida, que vinha sem sofrer um gol sequer tinha 11 jogos. Os Reds não tiveram dificuldades na semifinal, passando pelo Saprissa da Costa Rica por um fácil 3 a 0.

Já o Tricolor sofreu contra o Al Itihad, ganhando por 3 a 2 e sendo muito pressionado por conta do nervosismo da defesa, que não se encontrou na partida.

Paulo Autuori mandou o que tinha de melhor a campo. Com Rogério Ceni no gol, o Tricolor contou com Fabão, Edcarlos e Lugano; Cicinho, Mineiro, Josué, Danilo e Júnior; Amoroso e Aloísio no ataque.

O time de Rafa Benítez mostrou, no minuto inicial, que ia para cima. Gerrard recebeu a bola na linha de fundo e cruzou para a área, onde Morientes subiu sozinho e cabeceou perigosamente para fora.

A esperança de gol no ataque do clube brasileiro era depositada em Amoroso, destaque na conquista da Libertadores da América e com boas passagens por Udinese e Borussia Dortmund. Aos 21, o veterano recebeu passe de Aloísio, deu bom giro na marcação e bateu no centro do gol para defesa de Reina. Quase em seguida, Cicinho tentou pegar o goleiro espanhol desprevenido e mandou um chute por cobertura do meio de campo, sem sucesso no objetivo final.

Mesmo em menor número, a torcida Tricolor contava com o apoio de uma legião de fãs japoneses, muitos deles que haviam se encantado com as máquinas comandadas por Telê Santana, que tinham em Raí o seu grande líder na conquista dos mundiais sobre Barcelona e Milan.

Sentindo o bom momento, o São Paulo se manteve no campo de ataque. Fabão dominou a bola pela direita e descolou passe para Aloísio, que aparecia sozinho no meio. Neste momento, a defesa do Liverpool se concentrava no camisa 14 e em Amoroso, aberto pelo lado esquerdo. Na fração de segundos entre o domínio e a chegada da marcação, o icônico centroavante viu o pequeno Mineiro avançando por trás dos gigantes de vermelho.

O belo passe de letra – que rendeu brincadeiras e comparações com Ronaldinho Gaúcho – caiu nos pés do camisa 7. Com a calma de um matador, Mineiro deslocou Reina e mandou a bola no fundo da rede. A alegria são-paulina tomou conta no Nissan Stadium e nas ruas da capital econômica do Brasil. O Liverpool viu a sua invencibilidade ir por água abaixo e sentiu que precisaria levar a sério o rival sul-americano.

Rogério Ceni solidifica seu status de mito

Em vantagem, o São Paulo recuou e chamou o Liverpool para cima. Com muita qualidade na frente, os campeões da Europa pressionaram de todas as formas possíveis. Bola na área e cabeçada na trave logo no minuto seguinte ao gol sofrido elevou o ânimo inglês e ligou o sinal de alerta para os brasileiros.

Foi nesse exato momento que o ídolo e capitão da equipe, Rogério Ceni, chamou a responsabilidade e cravou de vez o seu nome como um dos mais – senão o mais importante – da rica galeria de lendas do clube do Morumbi.

Gerrard, jogador que tinha o mesmo status de Ceni em seu time, tinha declarado se sentir invencível logo após a semifinal da competição. Para comprovar o seu sentimento, o camisa 8 teve uma ótima oportunidade aos 6 da segunda etapa, em um cobrança de falta. Olhares compenetrados do inglês e do arqueiro Tricolor. A concentração fez com que o atleta dos Reds mandasse a bola no ângulo. A torcida e os jogadores estavam praticamente comemorando quando a ponta dos dedos de Rogério chegou ao limite do gol para manter o São Paulo em vantagem. Sem acreditar, Gerrard colocou as mãos na boca e percebeu que seu adversário usaria toda a sua experiência para garantir a vitória.

Foram inúmeras chances em que o capitão Tricolor precisou aparecer. O australiano Kewell e o espanhol Luis Garcia tiveram grandes chances de empatar, mas Ceni cresceu e mostrou que a sua vontade de ser campeão mundial era tão grande quanto o escudo que levava no peito.

Quando o goleiro não apareceu, a arbitragem se mostrou ligada para anular três gols irregulares do Liverpool e aliviar a tensão dos milhões de torcedores que assistiam pela TV, ouviam pelo rádio ou mesmo acompanhavam pela internet os dramáticos 45 minutos finais, que pareciam uma eternidade.

Nos segundos finais, Garcia recebeu na entrada da área e mandou uma bola perigosa rente ao ângulo do camisa 1, mas que por vontade dos deuses do futebol foi para fora. O tiro de meta foi a deixa perfeita para o mexicano Benito Archundia apontar o centro do campo, confirmar a vitória por 1 a 0 sobre o time inglês e transformar Yokohama num caldeirão são-paulino.

Ceni cravou seu apelido de mito na cabeça de todo torcedor do São Paulo e Mineiro certamente escreveu seu nome na memória do clube, lembrado por muitos nove após o gol mais importante de sua carreira. O time voltava a ser campeão no Japão e levantava a sua terceira taça do Mundial de Clubes, juntando-se ao seleto grupo de tricampeões como Peñarol-URU, Real Madrid-ESP, Milan-ITA, Boca Juniors-ARG e Nacional-URU.

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