Manipulação entre os tops no tênis seria o caos, afirma comentarista

  • Por Daniel Keny/Jovem Pan
  • 01/02/2016 16h55

Aposentado em 2014 Reprodução/Youtube Davydenko

O ano começou conturbado no mundo do tênis, após a BBC e o BuzzFeed terem revelado arquivos que evidenciam um suposto esquema de manipulação de resultados no alto escalão do esporte. 16 jogadores do topo do ranking, incluindo vencedores de Grand Slam, são suspeitos de terem participado de jogos com resultados combinados nos últimos dez anos, segundo a investigação.

A BBC, entretanto, não divulgou nenhum nome. Fernando Sampaio, especialista em tênis e comentarista da Jovem Pan, acredita que o esporte viveria uma fase difícil caso o nome de um atleta de ponta que esteja em atividade fosse divulgado. “Se viesse à tona um nome como Serena Williams, Sharapova, Federer ou Nadal, seria um caos. Saber comprovadamente que as maiores estrelas do tênis vendem os seus jogos seria uma catástrofe. Mas não acredito nisso”, diz.

Longe do topo e da mídia

Em Futures e Challengers – torneios de menor prestígio e que oferecem premiações bem inferiores aos Grand Slams e Masters 1000 – a manipulação de resultados torna-se mais factível, segundo Sampaio. “Em um Future o cara ganha uma premiação de 3 mil dólares se for campeão. Aí ele recebe uma proposta de 5 mil em uma bolsa de apostas para perder na estreia. Um atleta jovem com dificuldade de entrar no top 50, é possível que aceite. Aquele veterano que foi top 30, mas se lesionou e não conseguiu mais competir no mesmo nível, também. O cara tem seus problemas, tem família e precisa resolver a vida. É possível”, analisa.

O tenista André Ghem, número 152 do ranking da ATP, revela já ter ouvido histórias sobre jogos vendidos no circuito. “A gente escuta bastante coisa, mas é difícil saber o que é verdade ou mentira porque nunca fui sondado para esse tipo de esquema”. O gaúcho conta que, para os tenistas que estão longe do topo, a situação financeira pode influenciar. “Com o pessoal mais de baixo é até compreensível, porque tênis paga muito pouco pelo custo que dá. Para quem está começando é bem complicado”, afirma.

Casos históricos

O único tenista top que teve o nome envolvido neste tipo de esquema foi Nikolay Davydenko, já aposentado. O russo foi acusado de ter abandonado propositalmente a partida contra o argentino Martín Vassallo-Arguello, em torneio na Polônia, em agosto de 2007. Na época Davydenko era o número quatro do mundo, mas, curiosamente, as apostas na vitória do sul-americano foram mais altas, levantando suspeitas sobre a partida. Por falta de provas, o russo acabou absolvido pela Unidade de Integridade do Tênis.

Mas alguns tenistas já foram punidos e até banidos do esporte, como aconteceu recentemente com o grego Alexandros Jakupovic, que teve como melhor ranking o 267º lugar. Daniel Koellerer (Áustria), David Savic (Sérvia) e Sergei Krotiouk (Rússia) foram outros que acabaram recebendo a pena máxima.  Destes, apenas Koellerer chegou perto do top 50, quando alcançou a 55ª posição no ranking da ATP em 2009.

Sampaio afirma que não acredita em fraude entre os melhores do mundo. “Tênis é um esporte tão técnico que, se o cara dá uma dupla falta de sacanagem, você percebe. Ele não vai passar uma partida de cinco sets enganando o público. Não acho que um Nadal fica 4 horas na quadra, com o joelho doído, para perder. O Federer poderia estar curtindo a vida, mas continua no circuito pelo desafio de competir, mesmo perdendo do Djoko”, conclui.

Apesar de crer que existam esquemas, André Ghem lembra que o esporte tem as suas particularidades. “No tênis, é difícil controlar os pontos até se quiser perder. E se um atleta não estiver 100%, um resultado inesperado pode acontecer”, pontua.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.