Parabéns de Federer e aplausos no avião: Melo tem dias de “popstar” após Wimbledon

Número um do mundo entre os duplistas, Marcelo Melo posa com a taça de Wimbledon, faturada no último sábado

“Ainda não realizei. Não tive a noção do feito, porque foi um negócio que sonhei desde pequeno. Sempre disse que o meu sonho de vida era ganhar Wimbledon. Todas as metas e treinos eram feitos, principalmente, para conquistar Wimbledon. Essa ficha vai demorar bem mais para cair do que a de Roland Garros”.

A declaração de Marcelo Melo dá o tom da importância da conquista do último sábado, após batalha de quase cinco horas na quadra central do All England Clube. Primeiro homem brasileiro a ganhar o Grand Slam britânico, o mineiro de 33 anos já sente na pele o que é faturar o torneio de tênis mais tradicional do planeta.

De aplausos no avião a um bate-papo amigável com o tenista mais vencedor de todos os tempos, a vida de Marcelo Melo já mudou depois do título conquistado ao lado do polonês Lukasz Kubot.

Quem contou tudo foi o próprio brasileiro, em evento realizado nesta quinta-feira, em São Paulo.

“Agora, quando as pessoas me dão parabéns, elas falam: ‘pô, você ganhou Wimbledon’. Não é: ‘pô, você ganhou um Grand Slam'”, relatou Melo, que já havia conquistado um Grand Slam em 2015, no saibro francês de Roland Garros.

“Quando cheguei em São Paulo, um casal me reconheceu dentro do avião, e foi muito legal a diferença de reação. Eles começaram a bater palmas para mim dentro do avião. Foi uma situação nova, eu fiquei muito envergonhado”, revelou.

“Quando pousei, tirei foto com fãs no aeroporto. Depois que passei, veio outro. Aí escutei um deles falando para o outro: ‘pô, agora ele tem que se preparar, vai ficar famoso’. É a prova de que Wimbledon é diferente”, complementou.

“Parabéns” de Federer

Marcelo Melo não foi parabenizado apenas por fãs. Roger Federer, que ganhou o torneio britânico pela oitava vez na carreira, conversou com o brasileiro momentos depois da conquista. Os dois estreitaram laços durante a competição e estiveram juntos no tradicional Jantar de Gala dos Campeões de Wimbledon.

“Ele ficou num locker ao lado do meu, a gente cruzava praticamente todo dia. Ele acompanha muito os torneios de duplas. Conversávamos muitas vezes, fazíamos algumas apostas, inclusive. No jantar, foi muito legal. Ele veio na nossa mesa e nos deu ‘parabéns’. A minha felicidade foi de ter ganhado Wimbledon no mesmo ano em que o Federer. Para mim, ele é a melhor figura possível para representar o tênis”, afirmou Melo, com brilho nos olhos.

Mas por que o título de Wimbledon é o maior de todos?

Marcelo Melo não fugiu da resposta: “o que torna Wimbledon tão especial é a tradição. Quadra de grama, uniforme branco… Tem toda uma história por trás do torneio. É a origem do tênis, as pessoas dormem na fila para assistir. O Federer até falou para a (Garbiñe) Muguruza (campeã no feminino): ‘olha, você ganhou Wimbledon! Daqui a algum tempo você vai ter essa noção… ‘. A tradição é tão grande que todos os tenistas passam a sonhar em conquistar esse título”.

A reação do brasileiro ao último ponto do torneio comprova essa tese. Emocionado, o jogador se exaltou e quebrou todos os protocolos possíveis. Caiu na grama, levantou-se, pulou, gritou, saiu correndo e invadiu a área reservada aos treinadores. Tudo isso, porque não acreditava no que havia acabado de ganhar. Cinco dias depois, ele admite que não conseguiu se controlar.

“É difícil descrever aquele momento… Se eu tivesse pensado muito, não teria quebrado o protocolo. Até pedi desculpas depois, mas todos entenderam muito bem. Um dos membros da organização me disse que aquela foi a final de duplas mais emocionante e disputada da história de Wimbledon. O jogo foi muito duro, e as pessoas que estavam lá participaram muito do jogo. Eu fiquei alucinado depois do último ponto. Repeti a palavra ‘Wimbledon’ umas 100 vezes, só falava isso. O Lukasz me perguntava como eu estava, e eu só respondia ‘Wimbledon'”, gargalhou.

O título

Marcelo Melo e Lukasz Kubot foram campeões de Wimbledon no último sábado, após vitória dramática sobre Oliver Marach e Mate Pavic por 3 sets a 2. Com o triunfo, o mineiro de 33 anos, campeão de Roland Garros em 2015, tornou-se o primeiro homem brasileiro a faturar o Grand Slam britânico. De quebra, assumiu a liderança do ranking de duplas da ATP – posto que ele não ocupava desde 23 de maio de 2016.