Yao Ming, de estrela da NBA a assessor político e ativista ambiental

  • Por Agencia EFE
  • 06/03/2014 16h43

Antonio Broto.

Pequim, 6 mar (EFE).- Milhares de líderes comunistas de toda a China se reúnem nesta semana e na próxima em Pequim para debater as políticas que o país deve tomar nos próximos 12 meses; em reuniões nas quais se destaca, pelo menos fisicamente, o ex-pivô da NBA Yao Ming, que desde o ano passado é assessor governamental.

Yao, que com seus 2,29 metros chegou a ser o jogador mais alto da liga americana e para muitos o melhor atleta chinês da História, é membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CPPCh), uma espécie de Senado cujos membros costumam ser escolhidos como “prêmio” a suas carreiras.

Famosos empresários, cientistas, monges, atores e esportistas como Yao, ex-jogador do Houston Rockets e aposentado desde 2011, participarão até o dia 13 de março de longas sessões nas quais apresentam propostas de leis ou reformas legislativas – sem caráter vinculativo – de todo tipo de assunto.

No caso de Yao, que já como jogador da NBA dava demonstrações de seu ativismo ambiental, sua presença no Parlamento pequinês, perto da Praça de Praça da Paz Celestial, se centra em temas como a preservação dos animais e o desenvolvimento do ensino do esporte.

No entanto, o jogador de Shangai reconhece que ainda não está totalmente acostumado com seu trabalho político, mais imposto pelo governo – que tenta atrair as principais celebridades a suas instituições – que escolhido por ele.

“Ainda não estou muito familiarizado e não sei muito bem como se apresentam as propostas de lei”, admitiu Yao nesta quinta-feira em uma movimentada entrevista coletiva no marco do plenário anual da CPPCh.

Yao foi perguntado especialmente sobre temas esportivos, mas também relacionados com a política, e unindo ambos o ex-jogador reconheceu a necessidade de mudar a legislação em torno do esporte na China, já que o atual sistema, que imita o soviético, está obcecado demais com medalhas e vitórias.

“A China necessita uma reforma neste sistema, levando em conta os de outros países onde o esporte é ensinado nas escolas”, ressaltou Yao, lembrando que no país asiático o esporte acaba não sendo visto como uma forma para que os jovens se divirtam e exercitem, mas como um instrumento de política externa.

Também falou sobre a poluição, o tema que neste ano mais preocupa os cidadãos chineses, e reconheceu sua gravidade, salientando que “talvez as indústrias mais poluentes precisem se reestruturar”, embora tenha alegado que “isso pode causar muito desemprego, portanto é preciso fazê-lo com planejamento”.

“Pelo menos o basquete costuma ser jogado em quadra coberta”, brincou o gigante, que se mostrou disposto a tratar todo tipo de tema, até os afastados de sua experiência como esportista, e foi especialmente loquaz na hora de falar da necessidade de mais esforços da China na preservação dos animais.

Por exemplo, na luta contra o contrabando de marfim, material cujo comércio foi proibido mundialmente em 1989, mas que em sua vertente clandestina ainda estimula a caça ilegal devido à alta demanda em países como a China.

“Comprar marfim é comprar balas”, sentenciou Yao, que protagonizou em seu país campanhas contra o uso deste material e também contra o consumo de chifres de rinoceronte (usados na medicina tradicional) ou aletas de tubarão (durante décadas um prato de luxo na gastronomia oriental).

Com seus trabalhos ambientais e políticos, Yao, casado e pai de uma menina de três anos, tenta dar o exemplo na China que um esportista pode reciclar-se, algo que nem sempre é fácil em um país onde muitos atletas são esquecidos depois da aposentadoria.

A vida do atleta de elite chinês após deixar o esporte é difícil, já que muitos tiveram que abrir mão de seus estudos para submeter-se a treinamentos em tempo integral e acabam às vezes na pobreza, como é o caso do ginasta Zhang Shangwu, ex-campeão mundial que acabou mendigando em Pequim.

Nesse sentido, Yao assinalou que “a reciclagem dos esportistas chineses pode ser difícil, e estes necessitam também estudar”.

Resta agora ver se algumas das ideias de Yao se traduzirão em propostas de lei na atual CPPCh, que durante duas semanas costuma receber milhares de sugestões e relatórios de assessoria.

Mas a popularidade de Yao joga a seu favor e o homem que durante uma década foi o melhor embaixador chinês nos Estados Unidos já convenceu seu país a não comer aleta de tubarão. Agora pode ajudar-lhe a ver que ganhar medalhas não é tudo, que o exercício deve ser combinado com estudos e que é preciso preservar o meio ambiente. EFE

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