Marcha contra genocídio do povo negro se reúne no Masp em São Paulo

  • Por Agencia Brasil
  • 22/08/2014 22h57

A 2ª Marcha Internacional contra o Genocídio do Povo Negro reuniu cerca de 1 mil pessoas na capital paulista, segundo estimativa da Polícia Militar (PM). Os manifestantes se concentraram no início da noite de hoje (22), no vão-livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), e seguiu em passeata pela Avenida Paulista. Motivados por um carro de som, os participantes desceram a Rua da Consolação em direção ao Theatro Municipal, no centro da cidade. O ato foi programado para ocorrer em 18 estados brasileiros e em 15 países.

Com faixas e gritos de guerra, o protesto pediu a redução da violência contra os negros e as mortes causadas pela ação policial. “A morte negra hoje, no Brasil, já atingiu números de uma guerra civil. A cada 25 minutos morre um negro neste país”, enfatizou a coordenadora nacional do Movimento Quilombo, Raça e Classe, Tamires Rizzo.

Segundo o Mapa da Violência 2014, a vitimização de negros é bem maior que a de brancos. Morreram, proporcionalmente, 146,5% mais negros do que brancos no Brasil, em 2012, em situações como homicídios, acidentes de trânsito ou suicídio. Entre 2002 e 2012, essa vitimização mais que duplicou, segundo o estudo elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, com apoio da  Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, da Secretaria Nacional de Juventude e da Secretaria-Geral da Presidência da República.

Além de protestar contra a violência, o ato também pediu melhores condições de vida para os pretos e pardos brasileiros. “Na nossa opinião, os fatores que geram o genocídio são a miséria e a falta de condições de vida”, ressaltou Tamires. O acesso à educação é, segundo ela, um exemplo claro disso. “Só 18% dos negros chegam às universidades. Isso faz com que a juventude negra não tenha perspectiva de futuro”, disse, ao defender a adoção de uma política de cotas raciais pelas universidades.

Em seu projeto de mestrado, Natália Neves estuda a atuação do movimento negro no processo de elaboração da Constituição de 1988. Natália se diz impressionada com os poucos avanços feitos para reduzir a violência contra os negros no país. “A história é a mesma [da década de 1970]. Estávamos em um contexto de ditadura, passamos para uma democracia, mas as mortes não cessam, apesar de ser a principal bandeira do movimento negro desde que ele existe”, analisou.

Cantor de rap e estudante de geografia, Tiago Onidaru disse que vê de perto as consequências da violência. “A gente perde vários irmãos na comunidade. Se não é um amigo nosso, é amigo de um amigo”, contou o jovem de 27 anos, que também reclamou da representação do negro nos meios de comunicação. “É uma ausência de representação”, disse ele, “e quando tem é para ridicularizar”.

 

Editor Stênio Ribeiro

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