Ministério cogita estender vacinação de febre amarela para todas as crianças

  • Por Jovem Pan
  • 27/03/2017 16h19
Rede pública de saúde oferece vacinação contra a febre amarela Centro de Saúde de Brasília nº 8, 514 Sul, Plano Piloto, Brasília, DF, Brasil 17/1/2017 Foto: Andre Borges/Agência Brasília. A Secretaria de Saúde recebeu nesta semana do governo federal 25 mil doses da vacina contra a febre amarela. O quantitativo faz parte da remessa mensal e é distribuído de acordo com a demanda de cada região administrativa. Segundo a pasta, lotes extras estão sendo enviados pelo Ministério da Saúde prioritariamente aos locais com maior incidência de casos, como Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo André Borges/Agência Brasília Febre amarela

O Ministério da Saúde vai decidir, logo após o surto de febre amarela, se adotará uma atitude mais drástica para combater a doença, responsável por 162 mortes até agora. E a mudança valeria já para 2018.

Uma possibilidade é ampliar a área permanente de recomendação para a vacina, onde a proteção é indicada como rotina para a população e turistas devido ao risco de febre amarela silvestre.

Outra hipótese, mais arrojada, é a extensão da vacina para crianças de todo o país. A primeira dose, já aos 9 meses. Assim, seria garantida proteção durante a vida inteira.

Há quem defenda essa imunização universal desde cedo porque é muito mais difícil conseguir uma taxa de cobertura tão boa em adultos, que raramente tem a carteirinha em dia.

Por outro lado, apesar de poucas as chances, as doses podem causar reações adversas em gestantes, idosos e em pessoas com problemas de imunidade.

E é por esse motivo que a vacina da febre amarela não é, hoje, uma das oferecidas às crianças nos postinhos de saúde.

Mas, Carla Domingues coordenadora do Programa Nacional de Imunizações, do Ministério da Saúde, admite que a situação mudou quando o vírus – até então – isolado em algumas regiões, entrou na imensa mata Atlântica pelo Espírito Santo:

“Nós estamos falando da mata Atlântica entrar numa população com grande contingente de pessoas que vivem nessa região. É isso que significa. E uma população que não tinha recomendação de vacinação anteriormente. Então, esse ciclo silvestre que aconteceu agora pode se repetir daqui a sete anos. Então, por conta disso nós precisamos avaliar esse cenário. O que está estudando é realmente um “risco-benefício”, o quanto a gente ganha de fazer com que 2 mil municípios que não são considerados como uma área endêmica de passarem a fazer vacinação.”

Alguns estados planejam incluir a vacina ainda neste ano no calendário. São Paulo é um deles. Carla Domingues vê com olhos a iniciativa, mas pondera uma dificuldade prática.

“É possível (incluir a vacina). Agora, ele não vai conseguir comprar porque o laboratório produtor está vendendo tudo para o Ministério (da Saúde). É uma decisão de cada Estado buscar a vacina”, disse.

Hoje o Ministério da Saúde negocia com o laboratório Bio-Manguinhos, da Fiocruz, a possibilidade de adquirir a produção para 70 milhões de doses até o fim deste ano.

O maior fabricante de vacinas do país está operando no limite de sua capacidade e já suspendeu uma entrega de 14 milhões de doses para a ONU.

Para dar conta da demanda, também interrompeu momentaneamente a fabricação da tríplice viral.

E quando o principal fornecedor de vacina de febre amarela do mundo não tem doses sobrando, isso gera outro efeito colateral, adverte a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde Carla Domingues.

“Se nós consumirmos toda vacina da capacidade produtiva do laboratório, os outros países ficam sem. Nós temos uma fronteira seca muito grande. As pessoas dos outros países vão migrar para o nosso pais para poder receber a vacina. Isso já acontece na rotina. E, principalmente em momentos de surtos aumenta mais”, explicou.

Nesta sexta-feira, Panamá, Nicarágua, Venezuela, Costa Rica, Equador e Cuba passaram a exigir comprovante de vacinação contra febre amarela dos turistas brasileiros.

Para o coordenador do Núcleo de Medicina do Viajante, Jessé Reis Alves, a alteração pode afetar a procura – que já é grande – aos postos de vacinação.

“Vai aumentar em uma pequena proporção a demanda, a procura, para as pessoas que vão para esses países que passaram a exigir a vacina. Mas lembrando que existe um grande número de países que já exigem há muito tempo e nunca deixaram de exigir a vacina do brasileiro. Os países latino-americanos até haviam deixado de pedir o certificado, assim como o Brasil deixou de pedir para vários países. Acho que vai mudar muito pouco e acredito também que seja transitório”, afirmou.

Segundo o levantamento desta 6a feira do Ministério da Saúde, a doença se alastrou por todo o país. Já foram notificados 2.104 casos de febre amarela em 17 estados nas 5 regiões.

O Governo confirma 162 mortes. Há 95 ainda em investigação. A região mais afetada é a sudeste. Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro lideram o ranking com maior número de casos.

*As informações são da repórter Carolina Ercolin

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