Acabou. Dilma perde o cargo e o PT deixa o poder

  • Por Jovem Pan
  • 31/08/2016 12h19
DF - DILMA/PRONUNCIAMENTO/MILITANTES - POLÍTICA - Cercada por seguranças, a presidente afastada Dilma Rousseff discursa para militantes e simpatizantes que aguardavam sua saída do lado de fora do Palácio do Planalto, em Brasília, nesta quinta-feira, 12. 12/05/2016 - Foto: CLAUDIO REIS/ELEVEN/ESTADÃO CONTEÚDO Estadão Conteúdo Lula recebe Dilma após discurso

Acabou. Às 14h11 desta quarta-feira, encerrou-se antecipadamente o governo de Dilma Rousseff, que iria até 31 de dezembro de 2018. Nesse horário, o presidente do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski  proclamou o resultado do processo de impeachment que começou a tramitar no Congresso Nacional em 2 de dezembro de 2015.

Por 60 votos a 20, os 81 senadores, juízes da causa, decidiram que Dilma deveria perder o mandato. 

Mas não se abreviou apenas o governo Dilma, 28ª Presidente do Brasil e primeira mulher a ocupar o cargo.

Terminou também o ciclo do Partido dos Trabalhadores no Planalto.

Foram 13 anos marcados por momentos de euforia e arrancadas de crescimento. Só que tudo desaguou em uma recessão histórica, causada por erros flagrantes de condução da economia.

Houve avanços sociais? É claro que houve. Mas os petistas gostam de afirmar que tudo começa com eles, e isso não é verdade. Em todos os países onde há democracia e economia de mercado, o vetor é de progresso social. No Brasil, isso acontece desde o começo dos anos 90. Pode haver retrocessos pontuais, mas não uma reversão completa da tendência.

O PT viu um desses retrocessos  acontecer recentemente. Entre 2012 e 2013, os índices de pobreza extrema tiveram seu primeiro aumento no Brasil em muitos anos. Segundo os dados oficiais da PNAD, a porcentagem de pessoas na pobreza extrema saltou de 3,63% para 4,03% da população.

Um estudo de 2015 do Ipea – um órgão de pesquisas federal devidamente aparelhado pelo PT – teve de reconhecer que a desaceleração do crescimento no primeiro governo Dilma explica por que os esforços de erradicação da miséria não tiveram os efeitos desejados – muito pelo contrário.

E por que o crescimento desacelerou?

Bem, isso aconteceu porque a economia petista teve ideias boas e ideias novas. Mas as boas não eram novas, e as novas não eram boas.

Nesses 13 anos, os períodos de maior desenvolvimento coincidiram com a adoção de uma cartilha de responsabilidade fiscal herdada do governo FHC. A derrocada começou com a tentativa de emplacar a famigerada Nova Matriz Econômica, que arrebentou as contas públicas, devastou a indústria e outras áreas de atividade,  causou desemprego em larga escala – e afetou até mesmo as bandeiras petistas na esfera social.

Os 13 anos do PT também foram marcados por uma tentativa sem precendentes de pôr um partido acima do Estado, ou o Estado para trabalhar por um partido. Não se trata apenas das operações mais visíveis de aparelhamento da maquina administrativa, mas das “tenebrosas transações” – para citar Chico Buarque – desvendadas nos julgamentos do mensalão e, mais recentemente, do petrolão.

A era petista foi a da corrupção sistêmica posta a serviço de um projeto de poder.

Dilma afirma que é “uma mulher honesta”,  porque não se encontram indícios de que dinheiro sujo foi parar na sua carteira. Mas ela foi certamente uma política desonesta, porque mentiu muito mais do que a moral autorizava na campanha de 2014 e, principalmente, porque a engrenagem partidária que a elegeu foi fartamente lubrificada pelos recursos do petrolão

Lula foi um político desonesto e, ao que tudo indica, também um homem desonesto. O tríplex do Guarujá e o sítio de Atibaia indicam que ele não estava acima de se locupletar de um esquema de corrupção para benefício próprio.

Lula foi um dos grandes líderes populares da história recente do Brasil. Os 13 anos do PT no poder sujaram a sua imagem. E, a despeito de tudo que se possa dizer, ninguém é culpado por isso, exceto os próprios petistas.

Fica alguma herança boa desse tempo? O jeito petista de fazer política colocou a questão dos pobres no centro do debate brasileiro. Nem sempre os argumentos foram honestos. O PT mobilizou o medo e demonizou adversários como gente que quer mal aos pobres, e fez isso por razões puramente eleitoreiras. Mas vá lá: sua retórica blindou as políticas sociais e coagiu toda a classe política a buscar soluções engenhosas para abordar as maiores carências do país. Isso fica. 

Há também uma “boa herança negativa”, com o perdão da expressão. Nunca mais um partido político chegará tão perto de colonizar o Estado como chegou o PT. Nunca mais um partido político poderá reclamar para si o monopólio do bem e da verdade como o PT reclamou. O Brasil está curado disso.

Acabou. 

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