Em depoimento, ex-presidente Lula atacou a imprensa: “o principal julgador”

  • Por Jovem Pan com Estadão Conteúdo
  • 10/05/2017 20h24
PR - LAVA JATO/LULA/DEPOIMENTO/MANIFESTAÇÕES/DILMA - POLÍTICA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de ato na Praça Santos Andrade, em Curitiba (PR), na noite desta quarta-feira, 10. Terminou por volta de 19 horas o interrogatório do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz federal Sérgio Moro, da Operação Lava Jato. Durante cerca de cinco horas, o petista respondeu perguntas sobre o apartamento triplex do Condomínio Solaris, no Guarujá, cuja propriedade a força-tarefa do Ministério Público Federal atribui a ele. 10/05/2017 - Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO CONTEÚDO Estadão Conteúdo Lula Critica cobertura / curitiba - depoimento moro - ae

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou a imprensa durante as suas considerações finais no depoimento ao juiz federal Sérgio Moro.

Segundo Lula, ele tem sido vítima de uma “perseguição implacável” nos últimos anos. Ele reclamou da intensa cobertura dos veículos de comunicação e do que classificou de “vazamentos” de informações.

Citou até o número de capas que as principais revistas dedicaram a ele nesses anos de Lava Jato – nominou IstoÉ, 25 capas, Veja, 19, e Época, 12. “Demonizando o Lula”, disse. Os vídeos do depoimento do ex-presidente foram disponibilizados pela Justiça Federal.

Durante sua fala, Lula chegou a enumerar a quantidade de vezes em que foi citado em diversos veículos de comunicação. “De Marcço pra cá são 24 capas na IstoÉ, a Veja tem 19 capas e a Época 11 capas”, afirmou. “Eu falo vazamento que sai pra imprensa, porque determinadas coisas são feitas, eu conheço os vazamentos, eu sei os vazamentos, é como se o Lula tivesse… pela imprensa, pelo Ministério Público, sendo procurador, procura-se vivo ou morto “

Prosseguiu: “a Folha de São Paulo teve 298 matérias conta o Lula e apenas 40 favoráveis. O jornal O Globo, que é mais amigo, tem 530 matérias negativas e oito favoráveis”, afirmou. “A imprensa é o principal julgador disso aqui”.

Lula foi interrogado por cerca de cinco horas na ação penal sobre o caso triplex. A denúncia do Ministério Público Federal sustenta que Lula recebeu R$ 3,7 milhões em benefício próprio – de um valor de R$ 87 milhões de corrupção – da empreiteira OAS, entre 2006 e 2012. As acusações contra Lula são relativas ao recebimento de vantagens ilícitas da empreiteira por meio do triplex 164-A no Edifício Solaris, no Guarujá (SP), e ao armazenamento de bens do acervo presidencial, mantido pela Granero de 2011 a 2016. O petista é acusado de lavagem de dinheiro e corrupção.

Após o discuro, Moro rebateu. “A imprensa não tem qualquer papel nesse processo”, afirmou o juiz.

Triplex

O Edifício Solaris era da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop), a cooperativa fundada nos anos 1990 por um núcleo do PT. Em dificuldade financeira, a Bancoop repassou para a OAS empreendimentos inacabados, o que provocou a revolta de milhares de cooperados. O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto foi presidente da Bancoop.

A ex-primeira-dama Marisa Letícia (morta em 2017) assinou Termo de Adesão e Compromisso de Participação com a Bancoop e adquiriu “uma cota-parte para a implantação do empreendimento então denominado Mar Cantábrico”, atual Solaris, em abril de 2005.

Em 2009, a Bancoop repassou o empreendimento à OAS e deu duas opções aos cooperados: solicitar a devolução dos recursos financeiros integralizados no empreendimento ou adquirir uma unidade da OAS, por um valor pré-estabelecido, utilizando, como parte do pagamento, o valor já pago à Cooperativa.

Segundo a defesa de Lula, a ex-primeira-dama não exerceu a opção de compra após a OAS assumir o imóvel. Em 2015, Marisa Letícia pediu a restituição dos valores colocados no empreendimento.

Bens

A Lava Jato afirma que a OAS pagou durante cinco anos pelo aluguel de dez guarda-móveis usados para armazenar parte da mudança do ex-presidente Lula quando o petista deixou o Palácio do Planalto no segundo mandato. A empreiteira desembolsou entre janeiro de 2011 a janeiro de 2016, R$ 1,3 milhão pelos contêineres, ao custo mensal de R$ 22.536,84 cada.

Toda negociação com a transportadora Granero teria sido intermediada pelo presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, que indicou a OAS como pagante com o argumento de que a empreiteira é uma “apoiadora do Instituto Lula.” Para investigadores da Lava Jato, os fatos demonstram “fortes indícios de pagamentos dissimulados” pela OAS em favor de Lula. Isso porque o contrato se destinava a “armazenagem de materiais de escritório e mobiliário corporativo de propriedade da construtora OAS Ltda”, mas na verdade os guarda-móveis atendiam a Lula.

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