Especial “Tancredo Neves, o homem da transição”; capítulo 2: as Diretas e a esperança democrática

  • Por Thiago Uberreich/ Jovem Pan
  • 13/04/2015 16h42 - Atualizado em 16/04/2019 18h23
29/10/1984: Tancredo Neves durante campanha para presidência ao lado de José Sarney U.Dettmar/Folhapress Tancredo Neves durante campanha para presidência ao lado de José Sarney

O Brasil do início dos anos 1980 começava finalmente a respirar democracia e os militares radicais, contrários ao fim da ditadura, reagiam.

Tancredo Neves considera um marco a quase tragédia no Riocentro, em 1º de maio de 1981, quando dois oficiais tentaram explodir uma bomba durante um show.

“Os militares deveriam estar empenhados nas eleições de 1982 e no retorno do País à ordem democrática”, disse. “Também foram para os ares com a explosão da bomba.”

Ainda pelo MDB, Tancredo Neves ocupou o cargo de senador e com a volta das legendas fundou o Partido Popular.

O primeiro sonho

Já no PMDB concretizou um sonho: venceu as eleições diretas para o governo de Minas Gerais. “Fui chamado na hora em que realizava a grande aspiração política da minha vida, que era a honra de administrar o meu estado”, disse Tancredo.

07/12/1984: Tancredo Neves durante comício (João Bittar/Folhapress)

O Brasil queria mais: eleger o presidente. Uma mobilização inédita, depois de 20 anos de ditadura, mexeu com milhares de pessoas que foram aos comícios nas praças públicas clamar pelas Diretas.

O sociólogo da USP Brazilio Sallum Júnior destaca que a campanha pelas Diretas Já foi uma afirmação popular. “A mobilização foi uma afirmação da capacidade que a massa da população tinha de escolher seus governantes.

Na campanha pelas diretas, dois nomes do PMDB se destacaram: Ulisses Guimarães e Tancredo Neves. O mineiro evocava a consciência nacional. “O objetivo é esse: levar o Congresso a se mobilizar por essa imposição da consciência nacional”.

A decepção

Mas o Congresso não se sensibilizou: a emenda Dante de Oliveira em favor das diretas não foi aprovada.

As galerias da Câmara dos Depurtados estavam lotadas na noite do dia 25 de abril de 84 – vaias não faltaram no momento em que o presidente da Casa anunciou: “A proposta foi rejeitada pela Câmara e deixa, assim, de ser submetida ao Senado; a mesa quer silêncio”.

O clima de frustração tomou conta do país, mas nos bastidores começava uma das maiores costuras político-partidárias da história brasileira.

A saída seria a eleição indireta pelo Congresso Nacional em janeiro de 1985.

Jornal da Tarde publicou capa do jornal totalmente em preto um dia após a Câmara rejeitar a emenda que estabelecia eleições diretas (Reprodução)

De opção indireta para símbolo da esperança

O ex-senador Pedro Simon, do PMDB, lembra que o país tinha dois nomes e duas duas possibilidades. “Se é direta, é o Ulisses; se for indireta é o Tancredo”, explicou. “Tanto que foi, quer dizer, na eleição indireta nem se discutiu (a nomeação de Tancredo)”.

O deputado Ulisses Guimarães ficou conhecido como o “Senhor Diretas” – mas por que ele não foi o candidato no Colégio Eleitoral? O historiador Boris Fausto responde: “Tancredo foi um nome que garantiu a muitos setores militares que haveria uma transição com passos muito calculados”.

Com os passos calculados, Tancredo Neves tinha mais chance de vencer na eleição indireta e ganhou o apoio do amigo e republicano Ulisses Guimarães, que disse: “Temos o nosso candidato, campeão de votos e campeão de ovações”

Tancredo Neves formou a Aliança Democrática: uma soma do PMDB com a Frente Liberal, grupo de dissidentes de partidos como o PDS, governista.

Faltava o nome para vice de Tancredo. José Sarney, do PDS, não se entendia mais com integrantes da legenda e reclamava da falta de unidade. “Já não tenho as condições para promover esse trabalho”, afirmou.

Tancredo Neves e José Sarney conversam durante entrevista coletiva (Moreira Mariz/Follhapress)

José Sarney era um homem identificado com a ditadura, mas Tancredo Neves Sabia que ele atrairia os descontentes do PDS, abrindo o caminho para vitórira.

A esperança do Brasil estava depositada agora no Colégio Eleitoral – no dia 15 de janeiro de 1985.

“E hoje nós não sabemos o que é direta e o que é indireta. Sabemos apenas que o povo será vitorioso no dia 15.”

Reportagem especial de Thiago Uberreich em razão dos 30 anos da morte de Tancredo Neves. Confira todos os capítulos de “Tancredo Neves, o homem da transição”:

  • Capítulo 1: o nascimento político do conciliador. CLIQUE AQUI.
  • Capítulo 2: as Diretas e a esperança democrática. CLIQUE AQUI.
  • Capítulo 3: a vitória nas indiretas e a comoção nacional na doença. CLIQUE AQUI.
  • Capítulo 4: os últimos dias e a esperança de fazer uma grande nação. CLIQUE AQUI.

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