Ex-ministro alvo de ação da PF ainda mantém influência na gestão Temer

  • Por Estadão Conteúdo com Jovem Pan
  • 14/01/2017 08h56
Brasília - O ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, e o presidente interino Michel Temer durante reunião com líderes da Câmara e do Senado, no Palácio do Planalto. (Marcelo Camargo/Agência Brasil) Marcelo Camargo/Agência Brasil Geddel Vieira Lima e Michel Temer- ABR

Alvo da “Operação Cui Bono?”, o ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima mantém sua influência no núcleo duro do Palácio do Planalto, atua nos bastidores e faz contato frequente com os principais integrantes da cúpula do governo. Toda a estrutura montada por Geddel no governo Michel Temer foi mantida, apesar de sua demissão, em novembro passado.

Desde a ausência de Geddel, o dia a dia da pasta tem sido tocado pela secretária executiva Ivani dos Santos, seu braço direito. A Secretaria de Governo é responsável por questões estratégicas, como liberação de recursos para emendas parlamentares, divisão de cargos entre os integrantes da base aliada e articulação de votações de projetos de interesse do Planalto no Congresso.

A “parceria” entre Geddel e Ivani remonta ao período em que o peemedebista foi deputado federal e ocupou a Primeira-Secretaria da Câmara, em 2003 e 2004. Três anos depois, ao ser alçado ministro da Integração Nacional pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele levou Ivani para sua equipe. Antes de assumir o atual posto, ela estava lotada no gabinete da liderança do PMDB na Câmara.

O atual chefe de gabinete da Secretaria de Governo, Carlos Henrique Menezes Sobral, também é considerado um dos “soldados” de Geddel. A exemplo de Ivani, ele ocupou uma cadeira de destaque quando o peemedebista comandou a Integração Nacional. Na ocasião, foi nomeado secretário de Desenvolvimento do Centro-Oeste do ministério.

A relação de Sobral estende-se ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – preso na Lava Jato – tendo sido assessor especial do peemedebista na presidência da Câmara.

Cunha

As investigações da Polícia Federal e do Ministério Público indicam que Geddel atuava em conjunto com Cunha “em negociações ilícitas” envolvendo empresas interessadas na liberação de empréstimos da Caixa, entre 2011 e 2013. Geddel ocupou o cargo de vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa no governo da então presidente Dilma Rousseff e, de acordo com o Ministério Público, agia de “forma orquestrada” para beneficiar empresas.

O peso de Sobral na estrutura do governo está ligado às negociações relativas a emendas parlamentares, usadas como moeda de troca em votações de interesse do Planalto no Congresso.

Servidores disseram que, logo após a saída de Geddel – acusado pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de fazer pressão para a liberação de um empreendimento imobiliário em Salvador, no qual tinha apartamento -, integrantes da cúpula do governo pediram para que todos se mantivessem nos cargos. O argumento foi o de que não fazia sentido deixar a pasta esvaziada em meio às discussões de projetos de interesse do Executivo no Congresso

O presidente Michel Temer já acertou com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) a nomeação do líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA), para a Secretaria de Governo. A indicação do tucano deverá ocorrer após a eleição que renovará o comando da Câmara e do Senado, no dia 2 de fevereiro. Após as revelações da “Operação Cui Bono?”, porém, a permanência dos afilhados de Geddel na pasta é vista como improvável.

No Planalto, o discurso oficial é de que ele é um ex-ministro, mas preocupam os desdobramentos das investigações.

Geddel também continua atuando nos bastidores do Planalto, pois tem a pretensão de concorrer ao Senado, em 2018. Segundo o jornal O Estado de S.Paulo apurou, um dos principais interlocutores tem sido o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha

Irmão

A presença física de Geddel no Planalto foi substituída pela do irmão Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), candidato à Primeira-Vice-Presidência da Câmara e um dos deputados mais assíduos nos corredores do palácio.

Lúcio foi citado em pedido feito por investigadores à Justiça de autorização para busca e apreensão de documentos no apartamento funcional onde o deputado do PMDB mora em Brasília. A solicitação foi negada pela 10.ª Vara Federal de Brasília, por ele ter foro privilegiado. Lúcio afirmou estar “tranquilo” em relação às investigações.

“Organização criminosa”

Ao pedir autorização à Justiça para vasculhar dois imóveis do ex-ministro Geddel Vieira Lima, a Procuradoria da República, no Distrito Federal, afirma que o peemedebista fez parte de uma organização criminosa. Geddel é investigado junto ao ex-deputado Eduardo Cunha por corrupção passiva na Operação Cui Bono, deflagrada nesta sexta-feira, 13, que apura um esquema de fraudes na liberação de créditos junto à Caixa Econômica Federal que teria ocorrido pelo menos entre 2011 e 2013.

A investigação da Operação Cui Bono é um desdobramento da Operação Catilinárias, realizada em 15 de dezembro de 2015.

Naquela oportunidade os policiais federais encontraram um aparelho celular em desuso na residência do então Presidente da Câmara do Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Submetido a perícia e mediante autorização judicial de acesso aos dados do dispositivo, a Polícia Federal extraiu uma intensa troca de mensagens eletrônicas entre o Presidente da Câmara à época e o Vice-Presidente da Caixa Econômica Federal de Pessoa Jurídica entre 2011 e 2013. As mensagens indicavam a possível obtenção de vantagens indevidas pelos investigados em troca da liberação para grandes empresas de créditos junto à Caixa Econômica Federal, o que pode indicar a prática dos crimes de corrupção, quadrilha e lavagem de dinheiro.

Diante destes indícios os policiais passaram então a investigar o caso, que tramitava no Supremo Tribunal Federal em razão de se tratar de investigação contra pessoas detentoras de prerrogativa de foro por função. Porém, em virtude dos afastamentos dos investigados dos cargos e funções públicas que exerciam, o Supremo Tribunal Federal decidiu declinar da competência e encaminhar o inquérito à Justiça Federal do DF.

Geddel, então vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal, Marcos Roberto Vasconcelos, então vice-presidente de Gestão de Ativos do banco, José Marques da Cruz, servidor de carreira da Caixa, o empresário Marcos Antonio Molina dos Santos, dirigentes de empresas dos ramos de frigoríficos, de concessionárias de administração de rodovias, de empreendimentos imobiliários e um operador do mercado financeiro teriam participado do esquema.

“A fundamentação apresentada pela autoridade policial é bastante consistente, sendo os fatos narrados na representação indicativos de que os investigados Geddel Quadros Vieira Lima, Marcos Roberto Vasconcelos, José Henrique Marques da Cruz e Marcos Antonio Molina dos Santos faziam parte de uma verdadeira organização criminosa”, destaca o Ministério Público Federal.

Segundo a Procuradoria, “todos os elementos até aqui apresentados demonstram uma sistemática ilícita para obtenção de recursos junto à Caixa Econômica Federal contando com a participação ativa do atual Secretário de Governo, Geddel Quadros Vieira Lima, quando este ainda era vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal, bem como de Eduardo Cunha, e ainda do então Vice-Presidente de Fundos de Governo e Loterias, Fabio Ferreira Cleto, além do operador Lucio Bolonha Funaro”.

“Os indícios apontam para a corrupção passiva de Geddel Vieira Quadros Lima, posto que, valendo-se seu cargo de vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal, agia internamente, de forma orquestrada, para beneficiar empresas com liberações de créditos dentro de sua área de alçada e fornecia informações privilegiadas para os outros membros da quadrilha que integrava, composta, ainda, por Eduardo Consentino, Fabio Ferreira Cleto e Lucio Bolonha Funaro, para que, com isso pudessem obter vantagens indevidas junto às empresas beneficiárias dos créditos liberados pela instituição financeira, como a BR Vias, Oeste Sul Empreendimentos Imobiliários S.A, Marfig S.A, J&F Investimentos S.A, Grupo Bertin JBS S.A, entre outras”, aponta o Ministério Público Federal.

Agentes da Polícia Federal vasculharam um imóvel de Geddel no condomínio Pedra do Valle, na rua Plínio Moscoso, no Jardim Apipema, em Salvador. Outro grupo de policiais vasculhou a residência do peemedebista em Interlagos, também na capital baiana.

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