Governo e oposição adotam tom defensivo no Congresso sobre lista de Janot

  • Por Agencia Brasil
  • 04/03/2015 18h09

Procurador-geral da República Rodrigo Janot deve divulgar lista com nomes de políticos a serem investigados por possível envolvimento nos escândalos da Petrobras investigados pela Operação Lava Jato

Antônio Cruz/ Agência Brasil Procurador-geral da República Rodrigo Janot deve divulgar lista com nomes de políticos a serem investigados - Petrobras

A lista com os nomes de políticos citados nos depoimentos da Operação Lava Jato, entregue ontem (3), pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal, ainda nem foi oficialmente divulgada e já provoca reações defensivas no Congresso. Janot não acusa nenhum dos 28 citados, mas pede a abertura de inquérito e mais investigações para esclarecer o envolvimento deles com as denúncias.

Apesar de governistas e oposicionistas garantirem que estão “tranquilos” em relação aos nomes que podem ser divulgados, os dois lados já começam a se defender. O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), disse hoje (4) que a decisão sobre a divulgação dos nomes que constam na lista caberá ao Supremo, mas defendeu que não haja “vazamentos seletivos”, e que as pessoas incluídas na lista de Janot não sejam condenadas previamente.

“O mais importante é que todos saibam que essa lista representa apenas um pedido de investigação. Não é sequer um processo ainda, então serão inquéritos que serão abertos. Pela primeira vez muita gente vai conhecer o que tem contra si, e vai poder se defender. Então, acho que devemos trabalhar com muita cautela para não transformarmos pessoas culpadas em inocentes, e vice-versa. Então, vamos aguardar”, disse.

Costa defendeu ainda que a lista seja divulgada, e disse que não se preocupa que seu nome eventualmente esteja entre os citados. “Eu não tenho informação da lista, não saiu oficialmente. Desejo que saia, até para eu poder saber. Mas o que eu posso dizer é o seguinte: sendo arquivada essa denúncia agora, ou sendo arquivado o processo de investigação, a minha consciência é tranquila. Eu nunca participei de nenhum processo de superfaturamento de licitação, de corrupção, então eu estou tranquilo. E acho que a maioria deveria se sentir dessa maneira”, declarou.

Assim como Costa, o líder do PSDB, senador Cássio Cunha Lima (PB), também esboçou preocupação que a divulgação dos nomes, sobre os quais ainda haverá novas investigações, represente uma espécie de condenação política dessas pessoas. “Não há tensão no que diz respeito à consciência de cada um. Há apreensão no campo político. Porque você quando sai da esfera de uma disputa judicial, onde prevalece o direito e fala mais alto a lei, as pessoas que têm a consciência tranquila se apazíguam. Mas nós estamos diante de uma disputa política. E na disputa política nem sempre o que é justo e correto é o que é feito”, disse.

O líder de oposição acusou o governo de tentar “apagar a luz para que todos fiquem no escuro” e, assim, “confundir a opinião pública” em relação aos resultados da Operação Lava Jato. Apesar disso, ele disse que o PSDB não “passará a mão na cabeça” se alguém de seus quadros estiver entre os citados.

“Nós não vamos passar a mão na cabeça de quem quer que seja. Nós confiamos em todos os militantes do nosso partido, em todos os filiados, nas lideranças do partido, mas o partido sempre defendeu os valores maiores da ética, da correição e a própria democracia. Nós não faremos como partidos outros que passam a mão na cabeça e protege aqueles que já foram condenados por prática de corrupção. O PSDB quer o Brasil melhor, quer mudanças que o Brasil precisa, e vai agir com coerência como vem fazendo nos episódios pretéritos”, garantiu o oposicionista.

Cássio Cunha Lima relaciona ainda a atual crise vivida pelo governo com seu maior aliado, o PMDB, à Operação Lava Jato e à lista. Ontem, o presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), decidiu devolver ao Executivo a medida provisória que reduzia as desonerações na folha de pagamento, feitas pelo próprio governo, no fim do ano passado.

“O que se percebe de quem conhece a política é que houve um recado claro de insatisfação do presidente Renan Calheiros, que não se sente parte efetiva do governo. Apesar de o partido dele, o PMDB, ter a presidência da Câmara e do Senado, o partido se sente periférico no governo, e reagiu. Reagiu, sobretudo, pelos movimentos feitos em relação à Operação Lava Jato, [em que] o ministro da Justiça [José Eduardo Cardozo] se expôs, recebendo advogados. Andou vazando informações que membros da oposição estariam constando da lista. Então, todo esse movimento de tentativa de manipulação da Lava Jato provocou essa reação no principal partido da base do governo, que não aceita mais ser apenas um apêndice do Poder e quer dele participar de maneira ativa”, disse Cunha Lima.

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