Há 55 anos, renúncia de Jânio Quadros pegava o Brasil de surpresa; relembre

  • Por Jovem Pan
  • 24/08/2016 17h25

O breve período de Jânio Quadros na Presidência da República foi marcado por decisões polêmicas

Divulgação/Presidência da República Jânio Quadros - Presidência da República
Jânio da Silva Quadros, uma figura ímpar e obscura da política nacional e que em 25 de agosto de 1961 tomou uma atitude inesperada…surpreendente: “E atenção, atenção, ouvintes. O senhor Jânio Quadros acaba de renunciar à Presidência da República.”
A jovem capital do país, Brasília, estava atônita com a decisão surpreendente de Jânio Quadros, depois de apenas sete meses da posse na presidência. O dono de um dos jingles mais famosos da história teve uma carreira política meteórica. Ele foi vereador, prefeito, deputado estadual e federal e governador de São Paulo. Jânio Quadros recebeu quase seis milhões de votos e tomou posse na Presidência da República no dia 31 de janeiro de 1961.
“Recebo nesse instante de vossas mãos a faixa simbólica do governo de nossa pátria”, disse à época.
Jânio tentava passar a imagem de homem simples, popular e moralizador: a vassoura varreria a corrupção. Mas tinha um defeito. “Eu sou muito impulsivo, muito temperamental. Com muita frequência me arrependo do que faço, mas quase sempre sou absolvido”, afirmou.
O breve período na presidência foi marcado por decisões polêmicas como a reaproximação do Brasil com a União Soviética. Jânio Quadros condecorou Ernesto Che Guevara, proibiu as brigas de galo, os biquinis em desfiles de moda e o lança perfume. Abriu centenas de inquéritos e sindicâncias contra integrantes da administração pública. Com baixa popularidade, sem apoio do congresso, e em meio a uma grave crise econômica, uma carta dele chegava às mãos dos deputados:
“Vamos ler um documento: perplexa está a nação, fui vencido pela reação e, assim, deixo o governo. Forças terríveis se levantam-se contra mim e me intrigam ou inflamam, até com a desculpa da colaboração.”
O deputado Dirceu Cardoso citava as forças terríveis que levaram Jânio Quadros a renunciar em 25 de agosto de 1961. Dias antes, o governador da Guanabara, Carlos Lacerda, acusou o ministro da Justiça, Oscar Pedroso Orta, de arquitetar um golpe com o apoio do presidente. O deputado Ranieri Mazilli, que comandava a Câmara, pedia explicações sobre a suposta trama.
“Requeremos a convocação do senhor ministro da Justiça e Negócios Interiores, a fim de prestar urgentemente sobre os fatos graves denunciados ontem pelo senhor governador do Estado da Guanabara, através de estações de televisão e rádio daquele Estado.”
Com renúncia de Jânio, o próprio Ranieri Mazilli teria de assumir a presidência, já que o vice João Goulart estava em viagem oficial fora do país. O presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, proferia: “ato de renúncia é ato de vontade. Caberá ao senhor presidente da Câmara dos Deputados assumir a Presidência da República.”
A atitude de Jânio Quadros fez o Brasil mergulhar em uma grave crise institucional. João Goulart, afilhado político de Getúlio Vargas, era mal visto pelas classes conservadoras e Forças Armadas. Ele só tomou posse depois da instauração do parlamentarismo com o discurso da pacificação nacional.
“Inclino-me mais a unir do que a dividir. Prefiro pacificar a acirrar ódios. Prefiro harmonizar a estimular ressentimentos”, afirmou Goulart.
Mas o Brasil não seria pacificado – em abril de 64 os militares deram um golpe e derrubaram João Goulart. A renúncia de Jânio Quadros sempre foi cercada de controvérsias e é até hoje em muitos aspectos incompreendida.
*Com sonoplastia de Reginaldo Lopes e reportagem de Thiago Uberreich



Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.