Investidor espera placar do impeachment para avaliar “governabilidade” de Temer

  • 30/08/2016 07h48
Em evento em que anunciou recursos para o Bolsa Família e educação EFE/FERNANDO BIZERRA JR Michel Temer limpa o ouvido direito com o dedo médio

O capital estrangeiro está atento ao placar do impeachment para entender qual margem o governo Michel Temer, que esta semana pode deixar de ser interino, terá para pavimentar o reequilíbrio das contas públicas do País, condição crucial para inversão do humor dos investidores. Um fluxo bilionário de capital estrangeiro estaria pronto para recompor exposições no mercado brasileiro. Mas, por enquanto, o que existe é um certo desapontamento, cem dias após Temer ter assumido o governo interinamente. E já há, inclusive, quem aposte em uma realização de lucros em alguns ativos, diante das eventuais dificuldades que o “novo” governo pode enfrentar no Congresso.

Se confirmada a saída da presidente afastada Dilma Rousseff, o placar da votação do impeachment no Senado será interpretado, portanto, como um primeiro sinal de suporte à adoção de uma série de cortes de custos e remédios amargos para pôr a economia brasileira nos eixos, acredita o gestor sênior de fundos para a América Latina da BlackRock, Will Landers. “Vamos assistir ao julgamento e a partir daí não tem mais desculpa para não começar a fazer o que vem sendo prometido.”

Segundo Landers, o governo Temer trouxe uma equipe de notáveis para o Ministério da Fazenda e na presidência da Petrobrás, mas agora é preciso executar a parte fiscal, com governo e Congresso trabalhando juntos. “As reformas precisam ser feitas para o Brasil ganhar credibilidade e ter um caminho mais visível para voltar a crescer”, destaca o executivo da BlackRock, que tem US$ 4,890 trilhões em ativos sob gestão.

A despeito da percepção de que há recursos abundantes para entrar no Brasil, após um longo período de baixa exposição na região, ainda existem gestores que acreditam que o capital poderá demorar para retornar ao Brasil de forma mais intensa. “O período de benefício da dúvida acabou e agora o governo tem de entregar o que prometeu, sobre o que tenho minhas dúvidas”, diz o gestor de renda variável do Janus Capital Group, Dan Raghoonundon.

Cautela 

Por isso, o gestor entende que a reação do mercado, caso a votação no Senado confirme a saída de Dilma, será limitada e nota que tanto a Bolsa quanto os ativos de renda fixa embutem um otimismo excessivo com o desfecho do impeachment. “Já vimos que dentro do governo nem todos estão alinhados com as reformas”, acrescenta. Ele destaca que os mercados argentinos e mexicanos reagiram freneticamente à troca de governos, que posteriormente não conseguiram instituir facilmente as mudanças que haviam alicerçado nas campanhas. “Isso pode acontecer também no Brasil”, afirma.

O executivo considera que a Bovespa, por exemplo, está sobrevalorizada e que algumas ações operam nas máximas, sem que nada tenha mudado para elas. “É possível que tenhamos realização de lucros e, mesmo que as empresas entreguem o lucro esperado pelo mercado, continuarão sobrevalorizadas nos próximos 12 meses, porque o movimento de alta foi exagerado”, destaca. Boa parte dessa alta é reflexo do movimento global de busca por retorno, do qual o Brasil é o maior beneficiário, diz. 

Para analistas, impeachment já é passado 

Para o gestor de renda variável do Janus Capital Group, Dan Raghoonundon, o impeachment é passado e o mercado vai olhar para a frente e para as perspectivas das eleições presidenciais de 2018. Na mesma linha, o cientista político da Tendências Consultoria, Rafael Cortez, acredita que a governabilidade de Temer recai sobre a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que limita o aumento do gasto público à variação da inflação e é vista como essencial para o ajuste das contas fiscais do País. “A votação no Senado se esgota no simbolismo. A expressão de que houve ganho de governabilidade de fato será a votação da PEC e se o que será aprovado preservará a essência das matérias”, diz Cortez.

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