Para rebater críticas da imprensa europeia, governo Temer se defende com cartas

  • Por Estadão Conteúdo
  • 30/05/2016 13h04
EFE/CADU GOMES Serra salientou sua intenção de defender uma política externa despartidarizada

Após o afastamento de Dilma Rousseff gerado pelo acolhimento do impeachment no Senado, parte da imprensa europeia passou a registrar algumas críticas ao processo de impedimento e ao novo governo de Michel Temer. Como reação a alguns desses textos, autoridades brasileiras como o ministro de Relações Exteriores, José Serra, e o embaixador do Brasil para o Reino Unido, Eduardo dos Santos, têm tentado se defender com o envio de cartas para as publicações.

Nesta segunda-feira (30), a edição impressa do Financial Times (FT) publica uma carta de José Serra em que o ministro rechaça a afirmação de que ele não gosta do Mercosul. A acusação foi publicada, na semana passada, em uma reportagem do próprio FT sobre as diferenças entre a Aliança do Pacífico e o Mercosul. “José Serra deixou claro que não é fã do Mercosul e pode propor mudanças em breve”, citou o texto original.

“Ao contrário do que o artigo sugere, estou plenamente convencido da importância do Mercosul e estou pronto para trabalhar com nossos parceiros”, diz, na carta, o atual chanceler brasileiro. O tucano diz ainda que é altamente questionável a afirmação da reportagem de que há uma “nova divisão” no comércio da América Latina.

Na matéria, o FT usou tom elogioso para a Aliança do Pacífico e uma visão mais crítica ao Mercosul. O grupo do Pacífico “se intitula um pacto de comércio do século XXI baseado nas diretrizes da União Europeia”. Já o Mercosul “tem um modelo mais tradicional de comércio negociado pelo Estado” e que “tem engasgado” desde a criação, diz o periódico.

Quem também escreveu aos jornais foi o embaixador brasileiro em Londres, Eduardo dos Santos. Na semana passada, o jornal The Guardian publicou um manifesto com a acusação de que o impedimento de Dilma Rousseff é “um insulto à democracia brasileira”. 

Assinado por 20 deputados britânicos do Partido Trabalhista, do Partido Nacional Escocês e do partido galês Plaid Cymru, o documento argumenta que parlamentares brasileiros tentam se sobrepor ao voto de 54 milhões de eleitores. 

Também na semana passada, a revista The Economist publicou reportagem em que critica o expediente para afastar Dilma ao citar que o processo foi resultado de “um jeitinho na Constituição”.

Para rebater a crítica dos parlamentares britânicos, o embaixador Eduardo dos Santos defendeu o processo que levou Michel Temer à presidência. “Saliento que o processo de impeachment cumpre rigorosamente com os requisitos da Constituição Federal e do Estado de direito sob o escrutínio da Suprema Corte. É incorreto descrever o processo em curso como uma manobra política que ocorre contra a vontade do eleitorado”, diz o embaixador, em carta publicada pelo The Guardian, no último sábado (28). 

Santos argumentou que os milhões de votos recebidos por um presidente da República não impedem a abertura de um processo de afastamento  caso haja crime de responsabilidade.

O documental dos parlamentares britânicos fez algum ruído nas redes sociais após mais de 23 mil compartilhamentos. A defesa do embaixador fez menos sucesso e conta, até agora, com 139 compartilhamentos.

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