Petistas não creem em volta de Dilma

  • Por Estadão Conteúdo
  • 05/05/2016 08h48

O Palácio do Planalto é um dos monumentos de Brasília iluminados de rosa para a campanha Outubro Rosa Valter Campanato/Agência Brasil O Palácio do Planalto

Ministros do PT e a cúpula do partido avaliam que, após ser afastada do cargo, a presidente Dilma Rousseff dificilmente retornará ao Planalto. O diagnóstico sombrio também já foi feito pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a própria Dilma, porém, em público, todos tentam demonstrar disposição para um movimento de resistência no Palácio da Alvorada.

Dilma, Lula, o presidente do PT, Rui Falcão, e ministros mais próximos jantaram, nesta quarta-feira (4), na residência da presidente para traçar a reação ao impeachment. Ficou definido ali que, após o Senado aprovar a saída da presidente (hipótese dada como certa pelos petistas), ela descerá a rampa ao lado de ministros e de representantes de movimentos sociais.

A ideia é fazer uma homenagem à Dilma na despedida. Dentro e fora do Planalto, na Praça dos Três Poderes, haverá apoiadores do PT, que há 13 anos está no poder. O governo calcula que o desagravo ocorra no dia 13, quarenta e oito horas após a votação do rito no plenário do Senado. Treze é o número do PT.

“Estamos a uma semana de a presidente descer a rampa. E vamos descer a rampa junto com ela”, disse Gilberto Carvalho, braço direito de Lula durante oito anos e ex-ministro de Dilma, em cerimônia no Planalto. “É um momento duro. Não vamos nos enganar”, emendou ele, ao fazer duras críticas ao PMDB do vice Michel Temer.

Situada a sete quilômetros do Planalto, a residência oficial do Alvorada deve virar a sede de uma espécie de “governo paralelo” por até 180 dias, prazo para o julgamento final na Casa. A intenção de Dilma é levar com ela de dez a 15 auxiliares, conforme o que for estabelecido em decreto pelos parlamentares. A equipe será comandada pelo assessor especial da Presidência, Giles Azevedo. Nessa lista estão a presidente da Caixa Econômica Federal, Miriam Belchior, e o chefe da Advocacia-Geral da União, José Eduardo Cardozo.

No duelo contra Temer, além da ofensiva para defender o seu mandato em várias frentes, como , por exemplo, em viagens domésticas e até no exterior, Dilma quer que a equipe deixe pronto um portfólio de todos os programas executados por seu governo desde 2014. 

No entanto, o que mais preocupa o PT não é Dilma, mas, sim,Lula. A denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para quem o esquema de corrupção na Petrobras “jamais poderia ter funcionado por tantos anos e de forma tão agressiva” sem a atuação do ex-presidente, atingiu em cheio o maior símbolo do partido.

Até agora, mesmo perdendo capital político após virar alvo da Lava Jato, Lula ainda é o único nome com densidade eleitoral no PT para ser candidato da legenda à sucessão presidencial, em 2018. O temor do PT é que ele seja preso.

Janot também pediu ao Supremo Tribunal Federal investigação contra Dilma, sob suspeita de obstruir a Lava Jato, além do núcleo duro do governo, incluindo na lista Cardozo, Jaques Wagner (Gabinete Pessoal), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Edinho Silva (Comunicação).

Vazamento

Após lançar o Plano Safra 2016/2017, Dilma disse que Cardozo vai solicitar ao STF a apuração do vazamento de inquérito sigiloso contra ela e acusou o senador Delcídio Amaral, ex-líder do governo, de fazer denúncias “levianas e mentirosas”. 

Para ela, o vazamento ocorreu “estranhamente” às vésperas do seu julgamento no Senado. “Lamento que, mais uma vez, algo muito grave tenha acontecido”, disse a presidente, sem esconder a irritação. “Você vaza, depois se caracteriza que nada há e o dano já foi feito.” 

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.