Senador Delcídio Amaral é preso por oferecer R$ 50 mil para Cerveró não delatar; banqueiro também é detido

  • Por Jovem Pan
  • 25/11/2015 07h58
BRASÍLIA, DF, 03.06.2015: SENADO-DIA - O líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS) - O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), preside sessão deliberativa no plenário do Senado, em Brasília (DF), na tarde desta quarta-feira (3). (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress) Folhapress líder do governo no Senado

O senador Delcídio Amaral (PT-MS) foi preso na manhã desta quarta-feira (25) pois estaria atrapalhando as investigações da Operação Lava Jato. A detenção do senador foi feita com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF). Esta é a primeira vez que um senador no exercício do cargo é preso.

As trocas de e-mail e telefonemas (sigilo telefônico e de internet) de Delcídio estavam sendo monitoradas pela polícia, informa o repórter Jovem Pan José Maria Trindade. Delcídio chegou às 8h15 à sede da Superintendência da Polícia Federal em Brasília. O senador está em uma sala na Polícia Federal. O exame de corpo de delito deverá ser feito por um médico particular do senador ou do próprio Senado. 

Diogo Ferreira, chefe de gabinete de Delcídio, e o banqueiro André Esteves, do banco BTG Pactual, também foram presos nesta ação da Polícia Federal. Esteves foi preso no Rio de Janeiro. Delcídio estava em um hotel de luxo de Brasília quando foi detido.

O banqueiro tem uma fortuna estimada em R$ 9 bilhões e ocupa a 13ª posição entre os homens mais ricos do Brasil. Em 2014, André Esteves foi nomeado Personalidade do Ano pela Câmara de Comércio Brasileira Reino Unido e considerada uma das 50 pessoas mais influentes do mundo pela agência de notícias Bloomberg em 2012.

Acusações

Delcídio foi citado em delação premiada do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, a quem Delcídio teria tentado convencer a deixar o país antes do acordo com o Ministério Público. O senador, porém, não fora citado na primeira denúncia contra os políticos apresentada ao Supremo.

Delcídio é acusado de ter oferecido R$ 50 mil para Cerveró, em conversa com o filho deste, gravada pelo mesmo, para o ex-diretor não aceitar a delação premiada. O senador ofereceu também um jato para Cerveró fugir para a Espanha, onde tem nacionalidade e poderia constituir residência fixa.

Busca

Houve ainda nesta quarta busca e apreensão no gabinete da liderança do governo no Senado.

O Congresso Nacional e dependências de parlamentares também estão sendo alvo de busca e apreensão da Polícia Federal. Há dúvidas e questionamentos se as residências oficiais dos parlamentares seriam consideradas como extensão do Legislativo, o que lhes daria um uma legislação própria. Mas como as ordens vêm do STF, a medida se torna legal. O gabinete de Delcídio está entre os locais onde se fazem as buscas. O cumprimento da ordem judicial está sendo acompanhado pela Polícia Legislativa.

Decisão judicial

A decisão foi tomada pelo ministro do Supremo Teori Zavascki a pedido do procurador-geral da República Rodrigo Janot. O ministro pediu que fosse convocada uma reunião extraordinária da segunda Turma do STF, responsável pela análise dos esquemas de corrupção na Petrobras. 

Zavascki chegou a telefonar para o presidente do Supremo Ricardo Lewandowski, comunicando sobre a reunião extraordinário e também se reuniu com colegas da Turma de forma reservada. 

Pela lei, um senador só pode ser preso em flagrante. A conversa gravada em que Delcídio prometia a proteção de Cerveró, gravada pelo filho deste, foi considerada um crime permanente de obstrução das investigações.

Proximidade

Este é um caso inusitado, avalia o repórter e comentarista político JP em Brasília Fernando Rodrigues.

Delcídio é o líder do governo no Senado. Ele costumava frequentar praticamente diariamente o Palácio do Planalto, conversava com os ministros do governo e com a presidente Dilma. Nos últimos dias, Delcídio tem sido próximo ao ex-presidente Lula também, diz Fernando.

Delcídio e outros petistas do Mato Grosso do Sul ajudaram a fazer a ligação entre Lula e o ex-pecuarista José Carlos Bumlai, preso nesta terça (24), no início do governo petista, em 2002.

Pela primeira vez alguém que “frequenta a cozinha” do Palácio é preso.

Os policiais federais são chamados à sede, à Superintendência. Eles apenas descobrem 

Ninguém no Palácio do Planalto tinha a menor ideia de que isso pudesse acontecer nesta quarta. Isso mostra que está funcionando a independência das instituições.

Outro lado

A reportagem contactou o advogado de Delcídio do Amaral, Maurício Leite, que se dirigia a Brasília para acompanhar os trâmites, mas ainda não havia recebido os autos do processo.

Em nota, o BTG Pactual esclarece que está à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos necessários e vai colaborar com as investigações.

O BTG Pactual é um banco de investimentos listado e controlado por uma sociedade de 156 executivos. Em maio de 2009, o BTG Investments fechou a aquisição do UBS Pactual por US$ 2,5 bilhões e a transação foi finalizada e homologada pelo Banco Central em outubro do mesmo ano.

Senador por Mato Grosso do Sul desde 2003, Delcídio é líder do governo e presidente da Comissão de Assunto Econômicos (CAE). Engenheiro eletricista, participou da construção e montagem da Usina de Tucuruí, no Pará. Passou dois anos na Europa, quando foi diretor da Shell na Holanda. Em 1991, dirigiu a Eletrosul. Em março de 1994, ocupou a Secretaria Executiva do Ministério das Minas e Energia, até setembro. Foi também presidente do Conselho de Administração da Companhia Vale do Rio Doce. Foi ministro de Minas e Energia de setembro de 1994 a janeiro de 1995. Filiado ao PSDB de 1998 a 2001, fez parte da Diretoria de Gás e Energia da Petrobras.

Com informações da Agência Brasil

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