Em Pirapora do Bom Jesus, moradores convivem com “nuvens de espuma” de poluição do Tietê

  • Por Tiago Muniz / Jovem Pan
  • 26/06/2015 11h22

 "Vem o vento Tiago Muniz / Jovem Pan Vem o vento, levanta aquela nuvem de espuma, aí onde você está, ou você corre ou você para para esperar cair

No limite oeste da região metropolitana de São Paulo existe uma cidade exalando aconchego e respirando ares interioranos. Nas últimas décadas, entretanto, Pirapora do Bom Jesus também tem um rio dominado por espumas tóxicas e quem mora às margens do Tietê é obrigado a conviver com um cheiro insuportável e um ar infecto.

É um problema recorrente e acentuado nos invernos todos os anos.  As espumas se acumulam em grossas camadas que flutuam pelo rio. Como são leves, ao menor sinal de ventania, elas voam, invadem as casas e estabelecimentos. Nem unidades de atendimento à saúde escapam, conforme relata Dany Wilian Floresti, coordenador do pronto-atendimento do município.

“Quanto venta na cidade, as espumas acabam invadindo a unidade (de saúde) criando desconforto para quem está procurando atendimento”, lamenta.

Os fundos da casa da aposentada Clara Silveira Bueno ficam de frente para o rio. Ela colocou um pano amarelo no quintal, mas a espuma voa e não há muito o que fazer.

A espuma é só a face visível da poluição. Em São Paulo, nos acostumamos com o cheiro ruim ao longos das marginais. Em Pirapora do Bom Jesus, conforme relata a balconista Maria de Fátima Araújo, os efeitos são bem mais perceptíveis. Ela conta que a poluição causa boca ressecada, garganta seca, olhos lacrimejados e tosse. “Vem o vento, levanta aquela nuvem de espuma, aí onde você está, ou você corre ou você para para esperar cair”, relata.

Entenda

O rio Tietê, ao contrário da maioria, faz um caminho fluvial que corre para o interior do país e não em direção ao oceano. Ele parte de Salesópolis e tem a foz na barragem de Jupiá, no rio Paraná. No meio do caminho, ele passa pela região metropolitana de São Paulo, onde recebe pesada carga de poluentes. Quando ele chega em Pirapora do Bom Jesus, ela encontra uma barragem que gera a espuma, conforme explica o supervisor de meio-ambiente da cidade, Cristiano Viegas.

(Divulgação/Governo do Estado)

A represa de mais de 30 metros de altura gera a queda de água, que causa o “turbilhonamento” da água, que gera a espuma, “como se fosse uma máquina de lavar roupa”.

Processo

Na segunda-feira, as espumas se avolumaram e chegaram a cobrir interiramente a ponte Arcilio Cesarino da Cruz, prejudicando o tráfego de veículos. Depois disso, um engenheiro agrônomo da prefeitura foi à delegacia de Pirapora de Bom Jesus registrar boletim de ocorrência.

No documento, o representante da administração municipal diz que a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, a Sabesp, tem conhecimento de uma ação civil pública junto à terceira Vara Cível da comarca de Barueri. Consta do BO ainda que a Sabesp deveria tomar medidas preventivas e que a empresa poderia sofrer sanções administrativas.

Outro lado

A Sabesp se manifestou por meio de nota na qual afirma que desde 1993 reduziu em quase 459 quilômetros a mancha de poluição no rio Tietê e que esta é a solução definitiva, um processo em andamento. A companhia diz ainda que lixo e esgoto lançados clandestinamente no rio geram a formação da espuma. Quanto à ação civil pública, a Sabesp diz que o assunto está sendo discutido judicialmente e que aguarda decisão da Justiça.

Informações do repórter JP Tiago Muniz

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