Revitalização da Cinelândia paulista trava em custo de imóveis e falta de parceiros

  • Por Anderson Costa/ Jovem Pan
  • 20/04/2015 14h32

Cine Marabá (1991) Jorge Araújo/Folhapress; ColeçãoSebastião de Assis Ferreira; Rodrigo de Oliveira/ Divulgação Marabá

Marrocos, Art Palácio, Ipiranga, Metro, República, Comodoro, Olido, Paris, Regina, Espacial… Estes são apenas alguns dos cinemas que existiam no Centro de São Paulo, mas que não resistiram à degradação local.

A chamada Cinelândia Paulista viveu o auge na década de 1950, quando grandes salas recebiam as principais estreias de Hollywood. Com o esvaziamento do centro da cidade e o surgimento dos shoppings centers a situação começou a mudar, como explica a professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Paula Freire Santoro. “A classe média, que era uma grande consumidora do cinema, saiu do centro”, disse. “Nos anos 1950, 1960, São Paulo chegou a ter 300 cinemas.”

Entre as salas que existiam na antiga Cinelândia, muitas se transformaram em igrejas, estacionamentos e até cinemas especializados em filmes pornográficos. As exceções foram o Cine Olido e o Cine Marabá que preservaram as características originais. Das salas fechadas, duas foram desapropriadas e pertencem ao município: o Cine Marrocos, na Rua Conselheiro Crispiniano, e o Art Palácio, na Avenida São João.

Na reabertura do Cine Belas Artes em julho do ano passado, a Prefeitura anunciou um plano de revitalização de outras salas no centro. No entanto, a crise econômica e o alto custo para reformar os imóveis dificultam a iniciativa, afirma o secretário de cultura, Nabil Bonduki. “A dificuldade é de encontrar parceiros que possam custear as intervenções, que são caras, já que cinemas precisam de uma reforma bastante ampla, estrutural”, explicou.

Para Bonduki, a reabertura dos cinemas poderia facilitar a revitalização do centro degradado também pela proximidade com a Cracolândia.

Além da falta de segurança, outros atrativos retiraram o frequentador dos cinemas da região. Praças de alimentação, estacionamento e um ambiente mais limpo atraem os amantes da sétima arte aos shoppings centers paulistanos. O programador do Cine Belas Artes, André Sturm, acredita que a reabertura das salas no centro passa pelo oferecimento de vantagens, como “facilitar estacionamentos e criar horários de ônibus”.

Por conta e risco

Atualmente, o Cine Olido é administrado pela Prefeitura e o único cinema comercial existente no centro é o Marabá, restaurado em 2009. Inaugurado em 1944, o cinema era considerado um dos mais luxuosos e imponentes da antiga Cinelândia Paulista.

A um custo de aproximadamente R$ 8 milhões, a sala de 1.655 lugares foi dividida em cinco menores, com capacidade somada de 1.100 expectadores. O vice-presidente do Grupo Playarte, responsável pelo cinema, Otelo Bettin Coltro, reconhece que o investimento foi arriscado, devido à degradação da área. “A gente fez (o investimento) justamente acreditando nas promessas que existiam na prefeitura, de um trabalho de revitalização do centro da cidade e, infelizmente, houve um grande atraso nisso”, disse.

Para Otelo Bettin Coltro, entretanto, os esforços para revitalizar o Cine Marabá foram positivos já que o local chega a receber 40 mil expectadores por mês.

Na espera…

A Prefeitura tentou desapropriar o Cine Ipiranga, mas não houve acordo quanto ao valor do imóvel, localizado em frente ao remodelado Marabá.

Para o Art Palácio, previa-se a restauração e a construção de uma sala de espetáculos musicais, administrada pela Secretaria de Cultura.

A situação do Cine Marrocos é ainda pior, já que o imóvel está ocupado por integrantes de movimentos sem-teto desde 2013.

Por tudo isso, fica cada vez mais difícil imaginar o renascimento da Cinelândia Paulista.

Fotos do texto: Wikimedia Commons; Jorge Araújo/Folhapress; Coleção MCSP/DPH/SMC/PMSP, Sebastião de Assis Ferreira e Coleção MCSP/DPH/SMC/PMSP, Gabriel Zellaui)

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