Após greves, reivindicações em educação continuam longe de serem atendidas

  • Por Agencia EFE
  • 02/07/2015 20h46

Isadora Camargo e Cleyton Vilarino.

São Paulo, 2 jul (EFE).- No ano em que o Brasil foi declarado pela presidente Dilma Rousseff como “pátria educadora”, os bastidores da educação revelam falta de coordenação entre as esferas públicas para levar adiante o Plano Nacional da Educação (PNE).

Professores da rede estadual de estados como São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Goiás e Pará pararam o país no início deste ano para denunciar a situação de “sucateamento” e “desmonte” do setor, termos repetidos como mantras durante as manifestações feitas em abril e maio.

Esses acontecimentos registram o que especialistas em educação classificam como “crise”, reflexo, principalmente, de desincentivo à formação especializada, baixos salários e enxuto quadro de funcionários, como apurou o Efe Escola (www.efeescola.com.br), site de educação da agência de notícias Efe que está no ar desde o primeiro semestre de 2015.

O Brasil, por exemplo, está na lanterna do ranking internacional que comparou, em setembro do ano passado, a eficiência dos sistemas educacionais de mais de 30 países, com base em dados como salários dos docentes, condições de trabalho na escola e desempenho dos alunos em sala de aula. Os dados colocam o sistema educacional brasileiro como o mais ineficiente da lista.

“São várias questões para conseguir uma educação de qualidade. Não vamos mudar a qualidade da educação mexendo em apenas em um fator, mas o professor, sem dúvidas, é o personagem central, a variável mais importante”, afirma a coordenadora-geral do Movimento Todos pela Educação, Alejandra Velasco.

Para ela, ser professor hoje não é uma atividade atraente, especialmente pela baixa remuneração e pela quase total inexistência de planos de carreira, e isso faz com que falte mestres especializados na rede pública.

Com isso, o Brasil enfrenta uma das mais perversas consequências, já que a educação de baixa qualidade afeta o desenvolvimento político, econômico e social a partir da formação de “cidadãos menos críticos”, avalia a diretora.

Em São Paulo, uma das reivindicações dos professores foi a aplicação da lei do PNE, que propõe o reajuste salarial de 75% até 2020, como explica a presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeosp), Maria Izabel Azevedo Noronha.

“A lei propõe que até 2020 seja aplicado o reajuste. O governo tem seis anos para isso. Se você fizer a divisão, isso representaria de 7% a 8% ao ano até 2020”, destaca a sindicalista, que lembra que a greve terminou sem acordo para o reajuste.

A superlotação das salas é outro desafio enfrentado pelos professores, que trabalham em média 40 horas semanais, com cerca de 20 turmas e em turmas com, aproximadamente, 50 alunos.

Segundo Maria Isabel, a conta totaliza mil estudantes por professor, em média, o que dificulta o processo de ensino e aprendizagem, além de impactar diretamente na qualidade.

“O professor ainda tem que trabalhar em duas, três ou quatro escolas para completar a quantidade mínima de turmas e acaba desistindo da profissão, enquanto tem alunos que nunca tiveram aula com um professor de física, por exemplo, e cursam a disciplina com outros que não são da área”, afirma.

A Apeoesp estima que 3.390 salas de aula fecharam no início deste ano, número que Maria Isabel classifica como “estopim” para a greve que durou três meses.

“Quando o governo do Estado faz isso, ele demite professores – foram demitidos 22 mil docentes – e os efetivos ficam encostados se não completarem a jornada”, explica.

Para os professores “encostados”, a consequência é certeira: não ter a aposentadoria integral.

“Meu medo é que, na ausência de não termos uma carreira e salários atraentes, isso acabe desestimulando os jovens a serem professores”, lamenta Maria Isabel, ao lembrar que a situação é a mesma em todos os estados.

Ela acredita que falta consolidação do PNE para promover mais diálogo entre União, estados e municípios, numa espécie de reforma do setor que esteja de acordo com o conceito de pátria educadora.

“A educação precisa ser concebida como uma política de Estado e não partidária ou de governo. Por isso que o slogan “Brasil: Pátria Educadora” é provocativo, no sentido de forçar a sociedade a lutar para que a educação seja um bem comum garantido na sociedade”, ressalta.

Apesar de a sociedade reconhecer o problema da educação, os estudantes reclamaram que a demora das soluções fará com que 2015 seja um ano com deficiência acadêmica pela perda de aulas.

“A desvalorização do professor afeta diretamente o ensino, porque desmotiva e a situação complica. Faltam professores para as disciplinas, o calendário atrasa e isso implica em muitas perdas por puro descaso dos governos. Péssimo ano para educação”, opina a estudante da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Aline Czezacki.

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