Formação de bibliotecas pretende preparar jovens do Laos para o futuro

  • Por Agencia EFE
  • 20/10/2014 10h38

Ricardo Pérez-Solero.

Luang Prabang (Laos), 20 out (EFE).- No Laos, país em que apenas 17% dos adolescentes chega à universidade, a educação é uma das poucas armas para que as novas gerações possam mudar seu futuro.

“Quando entrei pela primeira vez na biblioteca, não sabia o que era um computador” contou Yaxeng Ly, um dos trabalhadores laosianos que busca melhorar as oportunidades para os mais jovens através de uma educação complementar.

A biblioteca “My library”, que fica em Luang Prabang, a antiga capital do norte do país, recebe todos os dias cerca de 100 crianças da cidade e arredores e oferece uma formação adicional à recebida nas escolas.

Segundo a Unesco, um em cada quatro laosianos com mais de 15 anos é analfabeto, problema agravado pela falta de infraestrutura e a grande ruralização da sociedade.

Em Luang Prabang, os luxuosos hotéis, imponentes templos budistas e padarias com excelente confeitaria, herança da colonização francesa, não representam a realidade do resto da nação, onde quase um terço da população vive abaixo do nível da pobreza.

Carol Kresge, americana fundadora do “Projeto linguístico”, criou no Laos quatro bibliotecas como a de Luang Prabang desde 2004. Ela decidiu se dedicar ao trabalho social quando descobriu a “fome” das crianças por aprender apesar das dificuldades que enfrentam.

“Quando vim aqui pela primeira vez em 1999 vi muitas crianças com vontade de aprender inglês e sem nenhum meio para isso, todos os professores ensinavam sem livros, só com lousas e cadernos”, relembrou à Agência Efe a criadora da ONG.

O que começou como uma iniciativa para ensinar inglês se transformou em apoio em todos os âmbitos nos quais as crianças podem ter lacunas educacionais.

Kresge, que colabora com a Biblioteca Pública de Luang Prabang, reconheceu que a rigidez do governo comunista laosiano dificulta uma aprendizagem mais focada na dedução e no pensamento criativo.

“É muito difícil mudar as coisas, o sistema é muito hierárquico e tem que responder pelo que faz, por isso as pessoas preferem não se destacar, só repetir o que já é feito porque é mais seguro”, explicou a trabalhadora social.

A maioria das crianças que frequenta o projeto pertence à minoria étnica mon, que sofre discriminação no Laos por ter lutado no lado americano durante a Guerra do Vietnã, o que deu ao centro educativo o apelido de “Biblioteca mon”.

Dentro dali, algumas crianças utilizam computadores, outros brincam com algum dos quebra-cabeças didáticos e um monge noviço folheia um livro enquanto Kresge confessa que os mon vão até lá porque “são pobres e ambiciosos e ali não são discriminados, algo pouco comum em suas vidas”.

Os livros das várias iniciativas educacionais de Luang Prabang viajam além das quatro paredes das bibliotecas. Muitas distribuem material em zonas rurais, abastecem professores de “bibliotecas móveis” e oferecem índices às escolas mais afastadas dos núcleos urbanos.

O trabalho das ONG está sujeito às restrições do Partido Comunista laosiano.

“Nos anos 90, quando o país se abriu aos mercados, permitiram a entrada das ONGs, e durante essa década tentavam nos ajudar, mas agora que a elite política enriqueceu, é cada vez mais difícil fazer nosso trabalho”, denunciou um trabalhador social que pediu para não ser identificado. EFE

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