Ajuste fiscal não é recessivo, diz economista Claudio Gonçalves

  • Por Jovem Pan
  • 28/03/2015 11h55
Marcelo Camargo/Agência Brasil Joaquim Levy

Claudio Adilson Gonçalves, economista, ex-secretário de política econômica do ministério da Fazenda e diretor da MCM Consultores, falou em entrevista a Denise Campos de Toledo, na Jovem Pan, sobre a importância do ajuste fiscal no restabelecimento da economia brasileira.

“O ajuste fiscal não é recessivo”, disse. “O germe dessa queda do PIB projetada para 2015 está nos equívocos econômicos do passado, do primeiro mandato do governo Dilma”, avaliou o economista. Ele diz que muitos setores ficaram “inflados” por políticas econômicas de proteção do governo, como o de eletrodomésticos e o automotivo. “Produzimos muito mais caminhões do que o mercado tem condição de absorver.”

Comparação

Para fortalecer seu argumento de que as medidas fiscais propostas pelo ministro da Fazenda de Dilma, Joaquim Levy, não geram recessão, mas são necessárias, Gonçalves compara o cenário brasileiro com o europeu.

Um ajuste fiscal na Europa pode gerar encolhimento da economia, explica, porque os países do Velho Continente apresentam excesso de capacidade de produção. Quando o governo contrai os gastos, contrai a demanda, sem contar a ociosidade das empresas.

No Brasil o contexto é outro, avalia. “Alguns excessos de capacidade foram induzidos pelo governo”, assume Gonçalves; mas de um modo geral o que deve gerar um PIB menor em 2015 é a “falta de confiança no futuro” e o “estrangulamento da capacidade de produção por falta de investimenots no passado, deterioração de infraestrutura”, disse.

Além disso, a crise na Petrobras promete ter forte impacto sobre os números da economia este ano. “A contração dos investimentos na Petrobras tem um multiplicador muito alto, de 1,8 vezes (o que deixou de ser investido) no PIB”, devido à grande cadeia produtiva que envolve a estatal brasileira, explicou. Para o economista, o Produto Interno Bruto deve cair algo em torno de 2% neste ano.

Em um “cenário ideal”, em que houvesse um “Congresso colaborativo com os ajustes”, esses produziriam a melhora a confiança do mercado, atraindo dinheiro para a economia, considera. “A taxa de juros de prazo longo cai e induz o investimento privado.”

“A parte da demanda que se encolhe pela contração do gasto do governo sobe pela demanda de investimento privado”, avaliou.

Gonçalves entende, ainda, que a situação seria muito pior se os apertos nas contas públicas não estivessem em voga. “Se não tivesse a contração fiscal, o Brasil perderia o grau de investimento, o câmbio explodiria, daí a gente veria o que é contração econômica” afirmou.

Questão Política

“O que hoje está dividindo o mercado financeiro é a política”, entende o ex-secretário da Fazenda, apontando para o racha entre a presidente Dilma e o PMDB, principal base de sustentação no Congresso.

Gonçalves entende que “houve um grande erro estratégico”, com o “plano de Dilma de diminuir o poder do PMDB”, no apoio à tentativa de fundação do PL e na campanha dura para tentar eleger o petista Arlindo Chinaglia para a presidência da Câmara, que caiu nas mãos do peemedebista Eduardo Cunha.

À parte do histórico moral, “Cunha é um homem inteligente”, considera Gonçalves. “É um bom jogador de xadrez”, disse em metáfora. Já o núcleo político de Dilma não seria tão bem capacitado. “As pessoas que ela ajudou a mover as peças não sabem jogar xadrez político”, disse. “Nós todos sabemos o que o PMDB quer; não sabemos o que a presidente Dilma quer.”

Ouça a entrevista completa no áudio acima.

Thiago Navarro/ Portal Jovem Pan // Entrevista a Denise Campos de Toledo e Patrick Santos no Jornal da Manhã

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