Evolução da inteligência artificial acentua dilema de limitá-la ou não

  • Por Agencia EFE
  • 02/08/2015 10h58

Amaya Quincoces Riesco.

Madri, 2 ago (EFE).- A capacidade das máquinas para aprender e superar desafios com autonomia já supera em muitas áreas o talento do homem, uma habilidade crescente que acentuará o dilema ético sobre se, em algum momento, será necessário limitar a inteligência artificial, afirmou à Agência Efe a diretora científica da Telefónica P&D.

Processadores superpotentes cada vez mais baratos, com alta capacidade de armazenamento e disponibilidade para analisar grandes quantidades de dados (Big Data) em tempo real permitiram nos últimos anos enormes progressos em técnicas de inteligência artificial, dando lugar a uma nova era da informática, com máquinas capazes de enfrentar sozinhas desafios cada vez mais avançados.

“Os algoritmos superam os humanos em cada vez mais tarefas”, afirmou Nuria Oliver, que além de diretora é cofundadora da área de pesquisa na Telefônica e especialista em inteligência artificial e de dados (Big Data), em interação pessoa-máquina (HCI) e em informática móvel.

Nuria é uma das pesquisadoras de maior destaque na Espanha e recebeu prêmios tão importantes como o Prêmio TR100 para jovens inovadores do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, e o Rising Talent do Fórum de Mulheres para a Economia e a Sociedade.

Segundo Nuria, nos últimos anos houve grandes avanços na capacidade de aprendizagem e de modelar algoritmos de inteligência artificial. Com isso, as máquinas estão realizando cada vez mais funções, que até então só eram realizadas pelas mãos do homem.

Um exemplo são os algoritmos que “reconhecem melhor” objetos em imagens do que os humanos.

A capacidade de armazenamento de grandes quantidades de dados com processadores cada vez mais rápidos e baratos permite realizar automaticamente cálculos impensáveis para o homem.

Assim, as máquinas já são muito boas na hora de estabelecer padrões através da comparação de milhões de indicadores analisados em tempo real para escolher a melhor opção entre as milhares existentes.

Nuria antecipou que, em alguns anos, poderão existir processadores com capacidade de processamento similar à do cérebro humano, e a dúvida seria saber “o que se poderia fazer com toda essa capacidade de computação”.

Várias figuras do alto escalão das ciências e da tecnologia vêm manifestando sua preocupação com este novo caminho tomado pela inteligência artificial, cujo limite é desconhecido.

Para a diretora de pesquisa da Telefónica, o importante é assegurar “valores e princípios éticos muito claros no desenvolvimento e nas utilizações da tecnologia” para focá-los em “fins positivos” em áreas como a medicina, a ciência, o meio ambiente e a educação.

“Grandes desafios enfrentados pela espécie humana, como aquecimento global, o envelhecimento demográfico, as doenças crônicas, o risco de pandemias e a pobreza, poderão ser enfrentados com a tecnologia, que será um aliado imprescindível”, opinou Nubia.

Na opinião da especialista, “a tecnologia é uma ferramenta que pode fazer muito bem, mas também muito mal, como qualquer outra: uma faca pode ser usada para salvar ou tirar vidas”.

O mundo tecnológico avança tão rápido que será cada vez mais importante, “crítico, de fato”, que as gerações futuras o conheçam mais profundamente para desenvolver uma capacidade de criação e não apenas usufruir.

A pesquisadora espanhola é otimista e positiva em relação ao grande potencial da tecnologia, mas adverte sobre o risco, se não houver um impedimento, que no futuro “apenas uma pequena elite saiba como funciona a tecnologia enquanto uma grande massa desconhece como ela se desenvolve e evolui”.

Na Telefônica, sua pesquisa principal é modelar o comportamento humano em nível individual e agregado através da análise de dados, técnicas de inteligência artificial e aprendizagem por computador.

Entre seus objetivos está o desenvolvimento de sistemas de recomendação de produtos e serviços para usuários de tecnologias que vão muito além, em complexidade e personalização, dos atuais.

Sua equipe procura interpretar melhor as mensagens orais: não apenas seu conteúdo, mas a forma de dizê-las, com algoritmos que também elucidam o estado de ânimo do emissor.

Outro grupo sob sua orientação estuda a interação pessoa-máquina, especialmente de dispositivos móveis com sistemas inteligentes integrados, para que entendam melhor seus usuários e saibam como eles são.

Nubia também trabalha na busca de padrões de comportamento de populações, até países inteiros, com fins humanitários, dentro da área do “Big Data para o Bem Social”. EFE

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