Porto Rico começa novo ano fiscal como “a Grécia da América”

  • Por Agencia EFE
  • 01/07/2015 19h43

Mar Gonzalo.

San Juan, 1 jul (EFE).- Porto Rico iniciou nesta quarta-feira seu novo ano fiscal, marcado pela decisão de não pagar nos termos atuais sua dívida, de mais de 70 bilhões, para tentar sair da complicada situação fiscal que tornou inevitáveis as comparações com a Grécia.

“Porto Rico, a Grécia da América”, “A Grécia do Caribe” ou “Porto Rico, a Grécia americana” eram algumas das manchetes da imprensa internacional hoje sobre o país.

Os mais preocupados eram a imprensa americana, onde muitos analistas explicavam que, embora a dívida de Porto Rico – com um terço da população – não chegue a um quarto da grega, está muito mais infiltrada no sistema financeiro dos EUA, o que representa um risco muito maior para Wall Street.

Entre as semelhanças, muitos destacaram que Porto Rico e Grécia assumiram dívidas de maneira desenfreada e agora não podem recomprá-las com os juros correspondentes.

Ambos sofreram com uma elevada evasão fiscal, corrupção governamental, falta de boas estatísticas e projeções econômicas sérias e falta de transparência nas finanças públicas.

Além disso, ambos aplicam há anos dolorosas medidas de corte do gasto público e de alguma maneira ambos pertencem a uma união monetária regional que os impedem de jogar com sua própria política monetária, pois estão atados a moedas fortes que não podem desvalorizar à sua conveniência.

No entanto, enquanto a Grécia teria a opção de abandonar o euro, em Porto Rico o dólar é usado desde 1899, pouco após passar das mãos espanholas para os Estados Unidos.

Igualmente, enquanto a grande maioria dos bônus da Grécia está nas mãos de instituições financeiras como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu, mais da metade dos porto-riquenhos negociam no mercado americano sua dívida.

Calcula-se que só 14% da dívida grega estejam nas mãos de bancos americanos, enquanto a porto-riquenho está 100%.

Além disso, enquanto teoricamente a Grécia tem soberania para decidir se paga suas dívidas, Porto Rico está submetida à justiça federal americana, e à mercê dos tribunais de Nova York.

Outras diferenças são que a dívida per capita de Porto Rico é inferior à grega, a complexidade do problema é menor e a ilha recebe enormes injeções de dinheiro dos EUA.

Nos Estados Unidos, a crise porto-riquenho também está sendo comparada com a de Detroit, já que ambos tinham milhares de credores dispersos de uma dívida que não podiam pagar, enquanto perdiam população rapidamente.

A grande diferença é que Detroit pôde declarar falência sob a proteção da Lei de Falências americana e Porto Rico não tem essa opção.

Nesse sentido, inclusive a pré-candidata democrata à Casa Branca, Hillary Clinton, reivindicou na terça-feira a inclusão de Porto Rico no amparo dessa lei, defesa feita também pela líder democrata na Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, e os senadores democratas por Nova York, Charles Schumer, e por Connecticut, Richar Blumenthal.

Em Porto Rico o governador, Alejandro García Padilla, teve hoje seu segundo dia de reuniões com setores-chave do panorama político e econômico, depois de ter anunciado segunda-feira que tomou a decisão de convocar os credores a negociar uma moratória, diante da evidência de que a carga da dívida nos termos atuais é insustentável.

Durante a reunião com García Padilla, vários prefeitos propuseram a ele que deixasse nas mãos dos municípios a arrecadação de todo o imposto local sobre bens e serviços (IVU), já que demonstraram muito mais eficiência arrecadatória que a Fazenda.

Na saída da reunião, que aconteceu no mesmo dia em que entrou em vigor uma alta generalizada do IVU, de 7% para 11,5% em toda a ilha, vários prefeitos da oposição afirmaram que García Padilla tinha se mostrado receptivo à medida.

O minoritário Partido do Povo Trabalhador (PPT) recomendou ao governo que recorra à “arma da moratória unilateral” para forçar os credores a sentarem para negociar, e “dá mais força a abordagem correta: se não nos ajudarem a recuperar a economia de Porto Rico, menos poderão recuperar seu próprio investimento”. EFE

mgl/cd

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