Alemanha alerta do risco terrorista na Europa perante guerra civil síria

  • Por Agencia EFE
  • 18/06/2014 11h32

Berlim, 18 jun (EFE).- Os serviços de inteligência alemães consideram que a guerra civil na Síria representa um perigo latente para a Europa, já que o conflito conduz à radicalização de grupos de muçulmanos no continente e aumenta o perigo que sejam realizados atentados.

Assim pode ser visto no relatório anual do Escritório Federal para a Proteção da Constituição, um dos três serviços secretos germânicos, que também inclui dados e análise sobre o potencial de violência que os extremismos de esquerda e de direita no país representam.

“No centro da propaganda islamita está agora a guerra civil na Síria”, disse nesta quarta-feira o ministro do Interior alemão, Thomas de Maizière, durante a apresentação do relatório.

Segundo De Maizière, as viagens de ida e retorno a esse país de extremistas islâmicos representam um perigo, como já se viu no atentado contra o museu judeu em Bruxelas.

“Já tínhamos antes preocupação de que quem retorna da Síria realizasse atentados. Agora sabemos que a preocupação não era infundada e o que era um risco abstrato é agora um perigo concreto”, disse o ministro.

Segundo o presidente do Escritório Federal para a Proteção da Constituição, Hans Georg Maassen, essas viagens à Síria mostram uma diferença importante em relação àquelas que no passado extremistas realizavam ao Afeganistão.

“Os extremistas que viajavam ao Afeganistão eram em sua maioria gente que tínhamos em nosso radar e que sabíamos que representavam um perigo potencial. Não é o caso de quem viaja à Síria”, avisou.

Em muitos casos, quem vai a esse país do Oriente Médio passou, segundo Maassen, por um rápido processo de radicalização e não chegou a ser identificado oportunamente como radicais pelos organismos de segurança.

Segundo o relatório, até maio de 2014 pelo menos 320 islamitas tinham viajado da Alemanha para a Síria com o propósito de participar dos combates contra o regime de Bashar el Assad ou de apoiar de outra maneira os rebeldes.

“Alguns retornaram à Alemanha. Pessoas que receberam treinamento terrorista na Síria ou que participaram de combates representam um risco quando retornam”, se destaca no relatório.

A propaganda islamita em torno ao conflito sírio se realiza, segundo este documento, especialmente em mesquitas de tendência salafista, nas quais são realizadas jornadas de beneficência para apoiar os rebeldes sunitas na Síria.

Outro canal da propaganda é a internet, onde aparecem mensagens de pessoas que participaram dos combates ou que foram testemunhas de crueldades das tropas de Assad com relatos e imagens que tendem a legitimar a resistência.

Além disso, se recorre a mitos islâmicos e aponta-se a Síria como o palco da última batalha antes do juízo final.

As pessoas que retornam desse país podem, além de perpetrar ou preparar atentados, assumir tarefas de propaganda para motivar a outros a somar-se à jihad (guerra santa) na Síria ou para assumir uma “jihad individual” na Europa.

Os chamados a essa “jihad individual”, que apontam para a realização de atentados sem conexão direta com alguma organização são bastante frequentes, se adverte no relatório, que lembra como exemplo as bombas colocadas na maratona de Boston (EUA).

Entre o extremismo islâmico e os extremismos de esquerda e direita há uma inter-relação contraditória, segundo o relatório.

Apesar da xenofobia e islamofobia da extrema-direita, seus militantes costumam comemorar o antissemitismo e o antiamericanismo dos islamitas, que também são bem-vistos por parte da extrema esquerda.

Os islamitas, por outro lado, reagem com indignação às provocações anti-islâmicas da extrema direita e as tomam como legitimação para suas ações violentas.

Segundo o estudo, os atos de violência xenófoba aumentaram no ano passado na Alemanha 20,4% e os atos violentos perpetrados por ultras de esquerda aumentaram em 26,6%. EFE

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