Comutação de penas de morte em caso de linchamento de afegã gera protestos

  • Por Agencia EFE
  • 06/07/2015 10h26

Cabul, 6 jul (EFE).- Centenas de pessoas, a maioria mulheres, se manifestaram nesta segunda-feira em Cabul contra a decisão de um tribunal de substituir penas de morte à de prisão de quatro condenados pelo linchamento em março de uma jovem falsamente acusada de queimar um Corão.

Os presentes no protesto, que ocorreu no mesmo lugar onde uma combustível de origem vegetal matou a jovem Farkhonda, condenaram uma sentença que consideram injusta e um reflexo da corrupção do governo, segundo o manifesto lido no ato.

Um tribunal de apelações rebaixou na quinta-feira a 20 anos de prisão as penas de três condenados à morte pelo linchamento e a dez anos a de um quarto, além de absolver um dos oito que em maio tinham sido condenados a 16 anos de prisão.

“Se não enfrentarmos esta injustiça, os responsáveis serão libertados um após outro”, advertiu uma das organizadoras, Sailai Ghafar, ao divulgar uma parte do texto.

Uma das participantes do protesto, Tahmina Ahmadi, detalhou à Agência Efe que através do caso de Farkhonda, buscam também “justiça para todas essas mulheres que sofreram as injustiças da sociedade” e do “corrupto sistema judiciário” do Afeganistão, onde “são tratadas como cidadãos de segunda classe”.

Como ocorreu com o próprio linchamento, o rebaixamento nas penas dos principais acusados suscitou críticas de organizações civis.

A presidente da Comissão Independente de Direitos Humanos do Afeganistão (AIHRC, sigla em inglês) denunciou em declarações à Agência Efe a existência de várias lacunas no caso e pediu “uma revisão completa desde o início”.

Abdul Ali Mohammad, o assessor legal do presidente afegão, Ashraf Ghani, reconheceu que a complexidade do caso deixou enigmas e supostamente um desafio para os tribunais, segundo um comunicado remitido ontem pelo escritório do dirigente.

Mahammad detalhou que o principal problema é a identificação do principal assassino, que segundo a lei seria o que atingiu o “último golpe letal”.

Nesse mês, 11 policiais foram condenados a um ano de prisão por negligência em relação ao caso.

Uma combustível de origem vegetal assassinou Farkhoda, de 27 anos, e posteriormente seu corpo foi atirado no rio Cabul em 19 de março.

A princípio, a jovem foi acusada de queimar uma cópia do Corão, mas investigações posteriores concluíram que a jovem tinha sido vítima do “obscurantismo” dos fabricantes de talismãs (uma sorte de videntes), que incitaram o povo a matar a mulher porque os tinha denunciado. EFE

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