Cresce pessimismo sobre possibilidade de acordo nuclear com o Irã

  • Por Agência EFE
  • 20/11/2014 19h02

A quatro dias do prazo para que seis grandes potências fechem um acordo nuclear com o Irã, a rodada de negociação realizada nesta quinta-feira foi marcada por um crescente pessimismo dada as grandes divergências entre as partes envolvidas no processo.

O secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, chegou a Viena à tarde para participar de forma direta do diálogo, após alertar horas antes em Paris que o Irã deve dar garantias de que suas ambições nucleares são pacíficas.

“Queremos chegar a um acordo, mas não a qualquer acordo. Tem que ser um que funcione, que alcance o objetivo de garantir que não será tomado o caminho rumo à bomba (atômica)”, disse Kerry na capital francesa depois de se reunir com o ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius.

Desde a última terça-feira, equipes de negociadores do Irã e do Grupo 5+1 – os cinco países-membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha – buscam encerrar uma disputa nuclear de 12 anos até antes da data limite, fixada para o dia 24 deste mês.

A comunidade internacional teme que por trás de um programa civil, o governo iraniano queria produzir um arsenal nuclear, algo sempre negado por Teerã. No entanto, em 2002, foram descobertas atividades atômicas clandestinas em desenvolvimento no país.

“Esperamos que as brechas que possam existir, e existem, sejam fechadas. E achamos, todos, que se há um programa nuclear pacífico não é tão difícil provar que ele é tecnicamente pacífico”, destacou Kerry.

Durante os últimos três dias, os negociadores se reuniram em vários tipos de encontro, incluindo reuniões bilaterais entre Irã e os Estados Unidos, países que não têm relações diplomáticas.

O secretário de Estado americano tinha previsto hoje um primeiro encontro trilateral com o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Yavad Zarif, e a negociadora europeia, Catherine Ashton.

Apesar das conversas terem sido realizadas com a máxima discrição, várias fontes apontaram que as negociações encalharam e avanços não foram conquistados.

O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Ryabkov, foi até agora o único a reconhecer que as conversas se desenvolvem em uma “atmosfera extremamente tensa” e que será muito difícil chegar a um acordo.

As declarações de Ryabkov foram dadas antes, pouco antes de o diplomata retornar a Moscou para consultas com o governo russo.

Frente aos sinais de estagnação, a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, pediu ao Irã para tomar uma decisão estratégica e assinar um pacto que mude seu status na comunidade internacional.

“É o momento para o Irã de tomar a decisão estratégica de abrir a via para uma resolução histórica e definitiva do assunto nuclear, que marcaria também o começo de um novo capítulo nas relações entre o Irã e a comunidade internacional”, assinalou.

A questão-chave que impede o acordo é o acesso do Irã ao combustível nuclear, que pode ser utilizado para gerar energia elétrica, mas também para alimentar uma bomba atômica.

Os EUA pretendem que o Irã rebaixe de forma considerável o número de centrífugas de gás, equipamento necessário para purificar o urânio.

Outras divergências são sobre a retirada das sanções internacionais. O Irã quer que elas sejam eliminadas com rapidez, já as potencias defendem um processo gradual. O reator de águas pesadas Arak, com capacidade de produzir plutônio, também é alvo de discussão.

Teerã negou a possibilidade de transformar o equipamento para parar de produzir plutônio, mas aceitou modificar o projeto para reduzir a capacidade de produção da substância, que também pode servir para fins militares.

“No caso do Arak, dissemos que estamos prontos para redesenhá-lo para reduzir as preocupações”, afirmou hoje o chefe da Organização de Energia Atômica do Irã (AEOI), Ali Akbar Salehi.

“Já se entrou em acordo até certo ponto sobre esse assunto, aspectos técnicos, e não há mais espaço para negociações”, acrescentou em declarações publicadas pela imprensa iraniana.

O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Yukiya Amano, falou em Viena sobre a esperança de que as partes envolvidas possam resolver as diferenças.

No entanto, criticou a falta de progresso em certos aspectos da investigação do programa nuclear iraquiano pela não cooperação de Teerã, sobretudo para esclarecer possíveis dimensões militares das atividades nucleares.

“A AIEA pode esclarecer os assuntos pendentes com a ajuda do Irã em um período razoável. Quero que o Irã tome ações concretas para acelerar o processo”, acrescentou o responsável pela agência nuclear da ONU. 

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