Dilma assume presidência do Mercosul pressionada a melhorar números do bloco

  • Por Agencia EFE
  • 17/12/2014 17h27

Paraná (Argentina), 17 dez (EFE).- A presidente Dilma Rousseff assumiu nesta quarta-feira a presidência temporária do Mercosul pela segunda vez com o desafio de revitalizar o bloco sul-americano, pressionado por problemas de balança comercial e com a necessidade de se abrir para novos mercados.

Dilma, que em janeiro assumirá o segundo mandato na presidência do Brasil, terá que balancear as demandas internas do bloco integrado ainda por Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela com suas próprias aflições domésticas, como o escândalo de corrupção na Petrobras.

Além disso, deverá atender às reivindicações dos industriais brasileiros, que pedem medidas para impulsionar a economia, a maior da América do Sul, e, em particular, revitalizar as exportações.

Entre janeiro e novembro, o Brasil acumulou um déficit comercial de US$ 4,221 bilhões, 15 vezes mais que no mesmo período de 2013.

O resto de seus parceiros também apresenta problemas de balança comercial e, todos adotaram medidas de exceção, como altas de tarifas para proteger suas indústrias.

A Argentina adotou outras medidas de proteção comercial polêmicas, como embaraçosos trâmites para autorizar importações, o que na prática se transformou em um impedimento questionado por seus próprios vizinhos e por países externos ao bloco.

De fato, as restrições argentinas são vistas como um obstáculo para avançar nas negociações comerciais com terceiros em um momento em que o Mercosul precisa se abrir aos mercados no complicado panorama global.

Embora o comércio entre os próprios membros do Mercosul tenha crescido significativamente na última década, recentes relatórios privados advertiram que os intercâmbios intrarregionais perderam força progressivamente nas exportações totais do bloco.

Segundo um estudo da empresa de consultoria Abeceb, em 2010 as exportações aos Estados parte eram 16% do total das vendas externas do Mercosul, peso que se reduzirá este ano a 13%.

“O Mercosul, desde sua criação, se baseia na forte integração entre Argentina e Brasil, e foi concebido antes de tudo como uma iniciativa comercial. Dentro desta perspectiva, o atual estado da relação bilateral e a contração da troca intrazona impacta os fundamentos originais do bloco”, explicou Mauricio Claverí, coordenador de Comércio Exterior e Negociações Internacionais de Abeceb.

A clave para muitos passa por dar um novo impulso à agenda exterior do bloco, como tentando acelerar as demoradas negociações com a União Europeia (UE) para um tratado de livre-comércio.

Os sul-americanos já anteciparam há um mês que têm suas ofertas prontas, mas agora são os europeus que estudam sua posição.

O Mercosul, que há algum tempo não assina um acordo comercial de relevância, pelo menos conseguiu encerrar esta cúpula com a rubrica de dois convênios de cooperação econômica com o Líbano e a Tunísia para negociar a partir do próximo semestre pactos que em princípio poderiam ser de preferências tarifárias.

Dilma terá que avançar nas negociações comerciais já abertas com a União Aduaneira Euroasiática (UAE), conformada por Rússia, Belarus e Cazaquistão, e iniciar conversas com a Coreia do Sul e o Paquistão, países que mostraram interesse em aprofundar o comércio com o Mercosul.

“A pergunta é que papel a Argentina assumirá no bloco. É altamente provável que os outros membros impulsionem uma nova agenda de mais internacionalização e abertura. Devemos assinalar que as possibilidades futuras são grandes. Especialmente se for gerada uma nova agenda estratégica”, apontou Marcelo Elizondo, diretor da consultoria DNI.

Segundo Claverí, Brasil e Uruguai já expressaram sua vontade de rediscutir a inserção externa do Mercosul e “acompanhar esta iniciativa será um desafio para a Argentina, cuja macroeconomia a impede hoje de flexibilizar vários dos instrumentos que geram inconvenientes na hora de negociar acordos com novas regiões”.

Para o analista, o futuro do bloco “parece recair em uma rediscussão da política externa argentina e, dada a atual conjuntura, é provável que essa definição seja tarefa do próximo governo”, que escolhido nas eleições presidenciais de outubro de 2015. EFE

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