El Niño agrava seca e deixa milhares sem água e energia na Venezuela

  • Por EFE
  • 27/04/2016 13h08
EFE/STR Homem conserta eletrodoméstico durante corte de luz em San Cristobal

Era noite quando Ana descobriu que deveria tomar banho, não pela hora, mas sim pelo som produzido, o aviso dado pela única fonte de água disponível atualmente em Lâmpada, um bairro da região metropolitana de Caracas, capital da Venezuela, que vive uma grave seca.

Enquanto as gotas de chuva caiam sobre as lâminas de metal dos telhados dos imóveis da região, Ana terminava de limpar a espuma produzida pelo uso de xampu o mais rápido possível, assim como seus irmãos e vizinhos. Eles faziam fila no meio da rua, sem roupa e com sabão na mão, para poderem também tomar uma ducha.

Apenas quando chove, como ocorreu nos últimos dias em Caracas, os moradores desse bairro podem tomar banho diariamente, usando a água da chuva ou captada através de balde. Lâmpada, um bairro de Petare, cidade que faz parte da grande Caracas, é abastecida com água potável a cada 20 dias.

As consequências do fenômeno El Niño, que provocou os dois anos mais extremos de seca já vividos no país, puseram a Venezuela contra a parede, não só pela distribuição de água, mas também porque depende dela para a gerar 60% da energia usada no país.

As autoridades anunciaram que as chuvas, que aliviaram a pressão sobre algumas regiões populosas, são só temporárias. Por isso, serão insuficientes para encher os reservatórios de água que abastecem o país e que explicam a crise elétrica. As torneiras secas sob as quais repousam colunas de pratos sujos sem lavar.

El Guri, o reservatório que atende à principal hidrelétrica do país, atingiu um nível de colapso, na avaliação de alguns analistas. A queda do nível da água, segundo as autoridades, é de 15 centímetros por dia.

Com as notícias ruins sobre a represa, em seu nível mais crítico em 60 anos de funcionamento, o governo tem anunciado várias medidas para economizar energia no país, iniciativas que apertam ainda mais o cinto dos venezuelanos, especialmente os mais pobres.

Para economizar eletricidade, o presidente do país, Nicolás Maduro, decidiu encerrar a atividade do funcionalismo público às 13h, decretou feriado às sextas-feiras, e exigiu que as lojas abram suas portas ao meio-dia.

A última delas foi o corte de quatro horas diárias de energia em todo o país, exceto Caracas, durante 40 dias, anunciada na quinta-feira pelo ministro da Energia Elétrica, Luis Motta Domínguez.

O racionamento iniciado ontem busca diminuir o ritmo da queda do nível do El Guri de 15 para 8 centímetros diários, até a chegada das chuvas, algo previsto para iniciar em meados de maio.

A oposição acusa, no entanto, o governo de não ter investido o suficiente no desenvolvimento de fontes de energia alternativa diante de um cenário que, garantem, era previsível.

Com cada medida, Maduro pede que os venezuelanos economizem eletricidade para que as medidas não sejam ainda mais duras.

Mas Guadalupe, de 76 anos, moradora de Lâmpada, afirmou, sentada perto da janela desde onde escuta o riso das crianças que se banham sob a chuva, critica com tristeza a vida trágica.

“Primeira vez que vivo essa situação que eu estou vivendo. Aqui chega pouco ou nada. Quando chove, não gosto porque alagada. Quando não há chuva, estou mal porque não tenho água.”, diz ela, após enumerar uma lista de coisas que não consegue devido à escassez de alimentos do país.

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