Escolha de Dilma, novo ministro da Fazenda é conhecido como “mãos de tesoura”

  • Por Agencia EFE
  • 27/11/2014 17h29

Manuel Pérez Bella.

Rio de Janeiro, 27 nov (EFE).- O respeitado economista e engenheiro Joaquim Vieira Ferreira Levy, apelidado de “mãos de tesoura” por seu apego à austeridade, foi nomeado nesta quinta-feira novo titular do Ministério da Fazenda, com a missão de cortar gastos para endireitar as contas públicas do país.

Levy, de 53 anos, tem uma longa carreira em órgãos multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Central Europeu (BCE).

Atualmente Levy é diretor do Bradesco Asset Management, o setor de gestão dos fundos de investimentos do Bradesco, o segundo maior banco privado do país, onde administra cerca de R$ 300 bilhões de grandes investidores e empresas.

Com perfil técnico, não é filiado a nenhum partido e ocupou cargos de responsabilidade nos Ministérios da Fazenda e Planejamento entre 2000 e 2002, no Governo de Fernando Henrique Cardoso, e foi secretário do Tesouro Nacional entre 2003 e 2006, no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.

No Tesouro, Levy foi encarregado de reestruturar a dívida pública, aumentar as reservas internacionais e gerar um clima de segurança nos negócios que serviu para o Brasil preparar o terreno para obter o grau de investimento dado das agências de análise de risco.

Os impedimentos que criou para empreender uma política excessivamente de desenvolvimento, que agravou ainda mais a dívida em um momento delicado, rendeu nessa época o apelido de “secretário da tesoura”, em um evidente trocadilho com o nome real de seu escritório.

Este rótulo se transformou no apelido Joaquim “mãos de tesoura” quando ocupou a Secretaria da Fazenda do governo do Rio de Janeiro, entre 2007 e 2010, e repetiu sua receita de aversão ao desperdício para equilibrar as contas e ganhar a confiança dos mercados.

A escolha de Levy pela presidente Dilma Rousseff foi vista com receio pelo setor do governo que tende mais ao incentivo do gasto público, mas foi aplaudida pela oposição, que durante a campanha eleitoral levantou a bandeira da necessidade de aplicar um ajuste fiscal para endireitar a economia.

Nascido em 1961 no Rio de Janeiro, Levy se formou em engenharia naval na UFRJ e fez doutorado em Economia na Universidade de Chicago.

Entre 1992 e 1999, Levy ocupou cargos nos Departamentos do Hemisfério Ocidental Europeu I e de Pesquisa, em particular nas Divisões de Mercado de Capitais e da União Europeia.

O cargo de maior responsabilidade que o novo ministro desempenhou fora do Brasil, em 2006, foi a vice-presidência de Finanças e Administração do BID, mas que deixou de forma prematura para assumir a secretaria de finanças do Rio de Janeiro.

Levy, de perfil ortodoxo, terá que conviver até o dia 1º de janeiro com seu antecessor, Guido Mantega, que foi muito criticado nos mercados que acreditam que tenha feito manobras pouco transparentes para ajudar as contas, por ter alimentado a inflação com fortes estímulos ao crédito e por diminuir os impostos de setores chave.

O cenário que o novo ministro encontrará é uma economia estagnada – segundo analistas privados o PIB fechará o ano com crescimento de 0,2% – uma inflação alta (6,59%) e contas públicas desequilibradas que levaram as agências de risco a ameaçar rebaixar a nota da dívida soberana do país.

O Brasil acumula números recordes no déficit fiscal, por causa da queda na receita provocada pela crise e a crescente pressão que os juros (11,25%) estão exercendo sobre a dívida.

Antes da revelação do nome de Levy, no começo de novembro, o próprio Mantega adiantou na época que os estímulos à economia haviam acabado e que o Brasil teria que se preparar para “um novo ciclo” em 2015 com um menor gasto governamental e um papel mais limitado dos bancos públicos.

Apesar disso, Levy terá uma margem limitada para aplicar a tesoura, como ocorreu quando foi secretário do Tesouro, já que não poderá tocar nos programas sociais e nos ambiciosos programas de desenvolvimento de infraestruturas que são a vértebra do programa de governo de Dilma. EFE

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