EUA fortalece laços com Vietnã com a mesma filosofia do diálogo com Cuba

  • Por Agencia EFE
  • 07/07/2015 20h45

Lucía Leal.

Washington, 7 jul (EFE).- O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, recebeu nesta terça-feira um dos homens mais poderosos do Vietnã com o objetivo de impulsionar essa relação, apesar de sua preocupação com a situação dos direitos humanos no país, com a mesma filosofia que, segundo a Casa Branca, guia a aproximação com Cuba.

Obama se reuniu na Casa Branca com Nguyen Phu Trong, primeiro secretário-geral do Partido Comunista do Vietnã a visitar os EUA, com quem quis virar a página da “difícil história” entre as duas nações e abrir caminho para uma “relação construtiva”, 20 anos depois do restabelecimento das relações diplomáticas.

Alguns congressistas e organizações criticaram a reunião entre Obama e Trong devido ao encarceramento de ativistas políticos e blogueiros no Vietnã, mas a Casa Branca argumentou que o diálogo com países com que têm diferenças em direitos humanos é essencial para melhorar a situação nessa área.

“Hoje conversamos com franqueza sobre algumas de nossas diferenças a respeito de temas de direitos humanos, por exemplo, e liberdade de religião”, disse Obama.

“Mas tenho certeza de que o diálogo diplomático e os passos práticos que estamos dando juntos beneficiarão os dois países, e estas tensões podem ser resolvidas de forma eficaz”, acrescentou.

O porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, declarou hoje que a relação com o Vietnã, retomada em 1995, reflete a ideia de Obama de que “tentar retirar ou isolar um país, em alguns casos, pode resultar em menos pressão (a esse governo) do que se relacionar com ele”.

“Isto coincide com a filosofia que aplicamos em Cuba. O presidente confia que, com esta nova estratégia, nos próximos anos, veremos um governo cubano que faça um bom trabalho de respeitar e inclusive proteger os direitos humanos básicos de seu povo”, disse Earnest em sua entrevista coletiva diária.

Obama também aplicou essa tática no caso de Mianmar, onde iniciou em 2011 uma aproximação após duas décadas de tensões e expressou seu desejo de avançar mediante a diplomacia em sua reivindicação por um melhor tratamento aos opositores nesse país.

No caso do Vietnã, a aproximação começou sob o governo Bill Clinton, mas nos últimos três anos acelerou substancialmente, com visitas de alto nível e acordos bilaterais.

Essa aproximação se explica por dois interesses geopolíticos chave dos EUA: a presença dos dois países nas negociações do tratado comercial Aliança de Associação Transpacífico (TPP) e a vontade de resistir à pujança da China no Pacífico.

O porta-voz da Casa Branca defendeu hoje que, se forem completadas as negociações do TPP, o Vietnã “faria compromissos específicos para proteger melhor os direitos básicos dos trabalhadores”, o que melhoraria seu panorama de direitos humanos.

Além disso, Obama ressaltou que esse tratado, que reuniria 12 países que concentram 40% da economia mundial, geraria “uma prosperidade e criação de emprego significativa” em ambos os países.

Embora Trong represente a ala mais conservadora do Partido Comunista vietnamita, até agora propício a manter a tradicional aliança com a China, ele hoje não hesitou em denunciar junto a Obama a política expansiva de Pequim no Pacífico.

“Concordamos em nossa preocupação com as recentes atividades (da China) no Mar da China Meridional, que não se ajustam ao direito internacional e podem complicar a situação”, afirmou Trong aos jornalistas depois de se reunir com Obama.

Vietnã e China disputam as ilhas Spratly e Paracel no Mar da China Meridional, e sua tensão se aguçou pela instalação, por parte de Pequim, de uma plataforma petrolífera perto do litoral vietnamita no ano passado.

A respeito, Obama destacou hoje “a importância de resolver a disputa marítima no mar da China Meridional e através da região da Ásia e o Pacífico de acordo com o direito internacional”.

Durante a reunião, Trong convidou Obama a visitar o Vietnã, e o líder americano expressou seu desejo de fazê-lo “em algum momento do futuro”.

Os líderes de EUA e Vietnã assinaram vários acordos durante a visita, entre eles um que visa evitar a dupla tributação de impostos e a prevenção da evasão fiscal para os trabalhadores americanos e vietnamitas nos respectivos países.

Além disso, a Boeing assinou um acordo de venda de aviões para a companhia Vietnam Airlines que pode alcançar a cifra de US$ 7 bilhões e outro com a VietJet Air avaliado em até US$ 6 bilhões, e Trong autorizou a construção, em Hanói, da Universidade Fulbright no Vietnã, a primeira universidade privada sem fins lucrativos no país. EFE

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