Guerra da Ucrânia já deixou quase mil inocentes mortos em Donetsk

  • Por Agencia EFE
  • 20/08/2014 17h22

Boris Klimenko.

Kiev, 20 ago (EFE).- A guerra da Ucrânia já deixou quase mil civis inocentes mortos em quatro meses apenas na região leste de Donetsk, pelo menos 43 nas últimas 24 horas, segundo dados oficiais oferecidos nesta quarta-feira pelo governo dessa região, leal a Kiev.

“Desde que vem sendo feito o registro das vítimas, 951 pessoas morreram e outras 1.748 ficaram feridas”, declarou em comunicado o Departamento de Saúde regional.

Segundo a ONU, pelo menos mil civis também morreram na região vizinha de Lugansk, onde os combates entre as tropas ucranianas e os separatistas pró-russos, que Kiev alega que recebem ajuda militar da Rússia, foram especialmente violentos nas últimas semanas.

A ofensiva das forças ucranianas contra os últimos focos de resistência dos rebeldes torna-se mais intensa na medida em que seus soldados ganham terreno dos separatistas, cuja resistência é também cada vez mais feroz e desesperada.

A escalada bélica começou a se intensificar em meados de julho, quando o governo de Kiev lançou uma grande ofensiva contra os separatistas após receber um decidido apoio do Ocidente.

As capitais europeias mais reticentes em pressionar a Rússia, as mesmas que mais tinham apostado no diálogo entre Kiev e os pró-russos, perderam a paciência que lhes restava após a morte de quase 300 pessoas que estavam a bordo do voo MH17 da Malaysia Airlines, derrubado em uma zona controlada pelos rebeldes.

Faz dias que Lugansk, a capital da região homônima que contava com 430 mil habitantes antes do conflito, vive uma guerra urbana, com combates em quase todas as ruas. Pelo menos 200 mil civis que continuam na cidade estão sofrendo com a falta de água e de luz, além de sérios problemas de abastecimento de alimentos e remédios.

Assim como nos outros dias, as autoridades dessa cidade, arrasada durante semanas por fogo de artilharia de ambas as partes, informaram hoje sobre novos mortos e mais edifícios destruídos pela guerra.

O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional e Defesa da Ucrânia, Andrei Lisenko, informou hoje que “parte substancial da cidade” foi recuperada pelas tropas governamentais, mas os milicianos o desmentiram e garantem que as forças de Kiev não conseguiram entrar no centro” da capital regional.

Donetsk, a maior cidade do leste rebelde da Ucrânia e uma das mais prósperas do país antes da guerra, segue pouco a pouco os passos de Lugansk, com combates isolados na periferia e bombardeios diários contra zonas residenciais.

Nove civis morreram hoje em Donetsk por fogo de artilharia e outros 13 ficaram feridos,de acordo com as autoridades da cidade.

Há três dias, soldados ucranianos e rebeldes travaram um combate violento pelo controle de Ilovaisk, uma pequena cidade de apenas 16 mil habitantes a cerca de 40 quilômetros de Donetsk.

Apenas em seus arredores, nove combatentes ucranianos, membros dos batalhões de voluntários “Donbass” e “Shakhtarsk”, morreram nas últimas 24 horas.

Os diferentes corpos militares que integram as forças ucranianas já informaram várias vezes sobre a tomada parcial, primeiro, e depois total de Ilovaisk, para em seguida reconhecerem que “os terroristas (como Kiev chama as milícias pró-russas) não deixam de lançar contra-ataques”.

Poucas esperanças de paz oferecem tanto a proposta condicionada de um cessar-fogo de Kiev – feita há dois dias após a reunião em Berlim dos ministros das Relações Exteriores de Ucrânia, Rússia, Alemanha e França -, como a cúpula na qual estarão presentes os presidentes ucraniano, Petro Poroshenko, e russo, Vladimir Putin, na próxima semana em Minsk.

Os dois líderes comparecerão à capital bielorrussa para participar da cúpula entre a União Aduaneira (Rússia, Belarus e Cazaquistão), União Europeia e Ucrânia, e podem inclusive fazer uma reunião bilateral.

Quanto à proposta de cessar-fogo, a Ucrânia impôs as mesmas condições que há um mês e meio: o respeito mútuo da trégua, a libertação incondicional de todos os prisioneiros tomados pelos separatistas e a impermeabilização da fronteira por parte da Rússia.

O cessar-fogo é complicado de ser conseguido, pois, com essas condições, Kiev incide mais naquelas que se referem diretamente à Rússia, considerada pela Ucrânia e pelo Ocidente como o país capaz de acabar com a guerra, seja por sua suposta influência ou por seu suposto apoio material aos rebeldes.

Como se isso não bastasse, a chegada da ajuda humanitária russa à região do conflito se torna a cada dia uma missão impossível e não uma ação acordada entre Rússia e Ucrânia com mediação e apoio da comunidade internacional, incluídas a ONU, a OSCE e a Cruz Vermelha, que assumiu a jurisdição da carga.

Enquanto as autoridades de Kiev se negam a iniciar a revisão e certificação da carga que chegou há uma semana à fronteira russo-ucraniana – com o pretexto de que a Rússia não entregou ainda toda a documentação sobre o seu conteúdo -, a Cruz Vermelha se recusa a transportá-la pela insegurança que reina na região. EFE

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