Jornalistas poloneses no leste da Ucrânia: tiroteios, detenções e dificuldade

  • Por Agencia EFE
  • 31/07/2014 06h21

Nacho Temiño.

Varsóvia, 31 jul (EFE).- O trabalho da imprensa nas regiões do leste da Ucrânia controladas por separatistas pró-Rússia é “especialmente difícil”, dizem jornalistas poloneses enviados à região, como ficou patente no domingo passado quando uma repórter da Polônia ficou ferida após ser baleada pelos rebeldes.

Um dos jornalistas poloneses que acabam de voltar da região insurgente, Wojciech Bojanowski, correspondente da emissora “TVN”, via há poucos dias como disparavam contra o veículo em que viajava e as balas impactavam contra o radiador.

“Não acho que quisessem nos ferir, mas nos avisar que não devíamos continuar avançando, provavelmente porque havia algo que não devíamos ver”, explicou à Efe Bojanowski, que confirma que seu carro tinha todos os distintivos da imprensa internacional.

Bojanowski e sua câmera haviam pedido permissão em um posto de controle e iam para o local de onde presumivelmente foi lançado o míssil que derrubou um avião da aviação civil no último dia 17, explica o repórter.

O caso da jornalista polonesa ferida no fim de semana passado, Bianka Zalewska, da rede de TV “Espresso TV”, é diferente: seu carro virou por causa dos tiros.

“Não foi um franco-atirador que disparou contra nós, também não foi artilharia, se tratava de tiros de metralhadora, provavelmente Kalashnikov”, esclareceu Zalewska em entrevista à emissora “TVN”.

“Esse é o risco de trabalhar em uma região de guerra, embora a pergunta seja se atiraram intencionalmente”, comentou por sua vez o correspondente do jornal “Gazeta Wyborcza”, Piotr Andrusieshko, um dos poucos repórteres ocidentais presentes em território insurgente.

“Essas coisas acontecem às vezes quando você entra em uma zona de conflito”, reconheceu Andrusieshko em uma conversa com a “Agência Polonesa de Imprensa” (PAP).

Segundo ele, trabalhar na área controlada pelos separatistas do leste da Ucrânia agora é “muito difícil para os jornalistas ocidentais” porque o caos impera e há uma falta de autoridade real.

O repórter esteve preso em Donetsk por fazer fotos de um edifício administrativo.

Bojanowski também lembra que foi detido pelos rebeldes quando tentava enviar material de uma casa, aproveitando a conexão à internet, e logo chegou um grupo de homens armados com fuzis Kalashnikov.

“Nos disseram que está proibido entrar em casas privadas, portanto nos levaram a um edifício onde nos submeteram, eu e o cinegrafista, a um interrogatório separadamente”, lembrou.

“Sempre precisamos estar atentos porque qualquer um pode sair machucado”, explicou à PAP outro correspondente polonês na zona controlada por separatistas, Pawel Pieniadzek, que assegura que no leste da Ucrânia é preciso lidar com “o caos, detenções e detenções” que também afetam a imprensa.

“Eu não diria que desempenhar nosso trabalho lá é realmente perigoso, já que se trata de uma região em que, se você obedece a lei, nada deveria acontecer. Os separatistas querem demonstrar que estão organizados, que são um autêntico Estado”, disse Bojanowski, que ressalta que os rebeldes “não são só um grupo com Kalashnikov”, mas têm armamento pesado.

“Outra coisa é que o passaporte polonês não é o melhor cartão de visita”, admitiu Andrusieshko, em referência à posição pró-Ucrânia da Polônia, abertamente crítica com a Rússia por seu papel na crise e uma das impulsoras de maiores sanções a Moscou e de um aumento das forças da Otan na região.

Para os informadores poloneses, a região controlada pelas forças do governo ucraniano “é definitivamente melhor”, já que os soldados do exército regular tornam “mais fácil” seu trabalho.

No oeste veem os poloneses com mais simpatia, contou Bojanowski, especialmente se for levado em conta que “a propaganda russa acusa a Polônia de ajudar o governo da Ucrânia com armas, treinamento e até militares”.

“Embora eu não tenha tido problemas diretos por ser polonês, é certo que se você é um jornalista russo os separatistas te darão mais facilidades”, concluiu o repórter. EFE

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