Méritos próprios ou voto útil? Entenda a trajetória de Hillary Clinton

  • Por Marina Ogawa/Jovem Pan
  • 07/11/2016 08h25
EFE Hillary Clinton - EFE

Aos 69 anos de idade, Hillary Clinton pode ser a primeira mulher a comandar a Casa Branca, local onde esteve durante grande parte de sua vida na política. A democrata passou dois mandatos como primeira-dama (1993-2001) e mais quatro anos (2009 a 2013) como secretária de Estado no Governo de Barack Obama. Fora de Washington, Hillary foi senadora de Nova Iorque entre 2001 e 2009.

Experiência política não falta, mas será ela a “candidata dos sonhos” do partido democrata? 

Segundo o coordenador do Observatório Político dos Estados Unidos e professor de Relações Internacionais da PUC-SP, Geraldo Zahran, Hillary tem mais experiência política e controle sobre os temas que o rival. “A plataforma dela é muito mais sólida que a republicana”, destaca.

Há mais de 30 anos na vida política, Hillary, enquanto primeira-dama, trabalhou com políticas sociais e de saúde. Já como secretária de Estado atuou na promoção de direitos da mulher e estabeleceu grandes acordos comerciais. Para o jornalista e diretor do Instituto Brasil do Wilson Center em Washington, Paulo Sotero, Hillary é a “representante completa do establishment democrata”.

Só que não é apenas de elogios que vive a democrata. Hillary Clinton é bastante criticada por sua falta de inteligência emocional. “Ela não é uma pessoa carismática e tende a ter atitude agressiva, e isso não funciona muito bem em política eleitoral. No entanto, ela é uma pessoa preparadíssima”, pondera Sotero.

Voto útil?

Talvez sim, talvez não. Segundo Geraldo Zahran, a maior parte dos votos destinados a Hillary são de eleitores que acreditam em sua campanha e nas pautas do partido democrata. “Não tem questão de voto útil, é algo descabido”, esclarece. 

Desta forma, os recentes votos ganhos de seu rival não necessariamente refletem uma debandada de sua base eleitoral. Hillary não perde votos, Trump é quem ganha os indecisos. Zahran ressalta que os números da democrata têm se mantido estáveis e que sua taxa de rejeição, apesar de ser alta, ainda é menor que a do magnata.

A opinião, porém, não é inteiramente compartilhada com Paulo Sotero, que avalia que, em parte, Hillary angaria votos úteis nesta eleição devido a sua concorrência com o polêmico nome de Donald Trump.

Méritos próprios

Ter sido ex-primeira-dama enquanto Bill Clinton comandava o país ou convidada por Obama a compor sua equipe no comando da política externa, não faz de Hillary Clinton uma “pupila” de um dos dois; ela tem seus méritos. “Ela não é cria de ninguém. Ela tem seus méritos próprios. Entrou na vida política muito cedo. E ela também não é cria de Bill Clinton”, alerta o coordenador do OPEU, Geraldo Zahran.

“É uma pessoa que tem conhecimento, energia e capacidade de trabalho muito grande”, diz Sotero. 

O que pode acontecer?

Apesar de favorita desde o anúncio de sua candidatura, e liderando as últimas pesquisas, ainda há a possibilidade de derrota para o lado democrata. Mas isso não por culpa de Hillary, e sim pela polarização ideológica presente na sociedade norte-americana há décadas.

“É possível que ela perca. Previsões recentes têm dado chance de 2 para 1 dela contra Trump. Pode ser que ela perca? Pode ser. Existem estados-chave que ela pode perder. Pode ser ainda que ela perca no colégio eleitoral. Se o comparecimento nas urnas for baixo, isso tende a favorecer os votos para Donald Trump. Isso é normal, a sociedade americana nas últimas eleições teve uma proporção como essa”, explica Zahran. 

O chamado “Get Out The Vote” permanece forte nesta reta final. Ambos os candidatos mobilizam suas bases para saírem de suas casas e votarem. Agora, cada eleitor conta. Como o voto não é obrigatório e a votação ocorre – nesta eleição – em uma terça-feira, todo o trabalho de mobilização importa. Estados como a Flórida, por exemplo, já receberam eleitores desde o final da semana passada, outros lugares recebem votos via correspondência.

“Todos os sinais neste momento indicam que a máquina política do partido democrata e de Hillary Clinton está mobilizada e trabalhando com bons resultados”, diz Paulo Sotero. Ele aposta ainda no comparecimento maciço de negros, mulheres, jovens e latinos: “é muito possível que esta eleição entre para a história como aquela que os latinos decidiram e elegeram a primeira mulher presidente”.

E mais: se nada acontecer até o minuto final das urnas, as chances da democrata perder ainda são menores que as de Trump. “Se aparecer uma notícia bombástica isso pode ter impacto, mas pode ter um impacto contra Trump também”, pondera Geraldo Zahran.

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